Carinho. Jordana Hissa encontrou
em um grupo sobre maternidade o apoio que precisava para lidar com a solidão
pós-parto
Participantes discutem temas como
violência, abusos e maternidade e promovem ajuda mútua.
Gabriela*, 29, há algum tempo tem
repensado várias atitudes, antigas relações e quer ser diferente no futuro.
Durante esse processo de autoconhecimento e redescoberta como mulher, decidiu
fazer um relato na internet relembrando momentos difíceis que passou com um
ex-namorado. Era um grupo só para mulheres, e ela achou que seria importante
falar. Logo após o desabafo, descobriu que a atual companheira de seu ex também
era membro do grupo. Em vez de um embate, palavras ácidas e ofensas – rotina em
discussões na web –, surgiu ali uma identificação e uma conversa com ajuda
mútua. E assim tem acontecido com milhares de mulheres no país, que têm
descoberto na internet uma rede informal de apoio e empoderamento. Com a
rapidez da rede, vários grupos têm se formado, principalmente na rede social
Facebook.
Em Belo Horizonte já são vários
deles: um para falar de sexualidade, outro para denúncias de abusos e pedidos
de ajuda, grupos sobre maternidade, ginecologia e várias questões envolvendo as
mulheres. Eles se estabelecem de forma secreta nas redes sociais, não podendo
ser localizados pelos mecanismos de buscas e são exclusivos para mulheres e, em
alguns casos, incluem as transexuais. Normalmente, a entrada é a partir da
indicação de uma amiga.
“Coloquei o nome dele no grupo, e
a namorada atual apareceu. Só que ela apareceu para confirmar meu relato. Ela
falou: ‘olha, é assim mesmo’. E foi algo muito bonito. Foi virtual, mas foi
bonito, e foi de uma compreensão maior”, conta Gabriela.
Iniciativas chegam ao mundo
realGrupos secretos em rede social ajudam mulheres até em abusos Apple investe
US$ 1 bilhão no Didi Chuxing, concorrente chinês do Uber
SOLIDARIEDADE. Medo, insegurança,
opressão, dúvidas, ambientes hostis, decepções amorosas e diversas outras
questões nebulosas impedem a fala de muitas mulheres. Diante disso, a partir de
um movimento feminista que descobriu uma nova força nas redes sociais, mesmo já
estando ativo há muito tempo, o amparo ficou a um post de distância.
A cabeleireira Amanda Gina, 32,
participa ativamente dos grupos e conta que, às vezes, é quase como se sentir
parte de uma gangue, no bom sentido: “Sinto um amor enorme pelas mulheres que
se expõem no grupo porque nunca é fácil. Um dia, uma mulher colocou um relato
de abuso. Eu não a conhecia. Liguei para ela e falei: ‘me passa o endereço do
trabalho desse cara que vou lá fazer um escândalo’. Ela não passou, mas isso
deu a ela coragem de agir. O que senti foi pertencimento. Não estou sozinha”.
A cientista política e
especialista em feminismo no Brasil Ana Carolina Ogando acredita que a rede
social é um lugar em que vozes e experiências são representadas: “Olhamos para
espaços formais e não encontramos nossas demandas representadas. Nesses espaços
têm um lugar em que elas têm um apoio. É uma nova forma de comunicar e de
desafiar um pouco as estruturas violentas que temos no cotidiano”.
Ela vê nos grupos e debates
virtuais o que o universo acadêmico tem chamado de “a quarta onda do
feminismo”. “Essa é uma das facetas e características do que seria a quarta
onda. Usando tecnologia e redes sociais para criar novas práticas. E também
chamar atenção. O que conecta essas pessoas é a experiência individual ligada a
um coletivo”.
Nome fictício*
Fonte: O Tempo
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