segunda-feira, 16 de maio de 2016

Grupos na internet se tornam redes de apoio para mulheres

Carinho. Jordana Hissa encontrou em um grupo sobre maternidade o apoio que precisava para lidar com a solidão pós-parto
Participantes discutem temas como violência, abusos e maternidade e promovem ajuda mútua.

Gabriela*, 29, há algum tempo tem repensado várias atitudes, antigas relações e quer ser diferente no futuro. Durante esse processo de autoconhecimento e redescoberta como mulher, decidiu fazer um relato na internet relembrando momentos difíceis que passou com um ex-namorado. Era um grupo só para mulheres, e ela achou que seria importante falar. Logo após o desabafo, descobriu que a atual companheira de seu ex também era membro do grupo. Em vez de um embate, palavras ácidas e ofensas – rotina em discussões na web –, surgiu ali uma identificação e uma conversa com ajuda mútua. E assim tem acontecido com milhares de mulheres no país, que têm descoberto na internet uma rede informal de apoio e empoderamento. Com a rapidez da rede, vários grupos têm se formado, principalmente na rede social Facebook.

Em Belo Horizonte já são vários deles: um para falar de sexualidade, outro para denúncias de abusos e pedidos de ajuda, grupos sobre maternidade, ginecologia e várias questões envolvendo as mulheres. Eles se estabelecem de forma secreta nas redes sociais, não podendo ser localizados pelos mecanismos de buscas e são exclusivos para mulheres e, em alguns casos, incluem as transexuais. Normalmente, a entrada é a partir da indicação de uma amiga.

“Coloquei o nome dele no grupo, e a namorada atual apareceu. Só que ela apareceu para confirmar meu relato. Ela falou: ‘olha, é assim mesmo’. E foi algo muito bonito. Foi virtual, mas foi bonito, e foi de uma compreensão maior”, conta Gabriela.
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SOLIDARIEDADE. Medo, insegurança, opressão, dúvidas, ambientes hostis, decepções amorosas e diversas outras questões nebulosas impedem a fala de muitas mulheres. Diante disso, a partir de um movimento feminista que descobriu uma nova força nas redes sociais, mesmo já estando ativo há muito tempo, o amparo ficou a um post de distância.

A cabeleireira Amanda Gina, 32, participa ativamente dos grupos e conta que, às vezes, é quase como se sentir parte de uma gangue, no bom sentido: “Sinto um amor enorme pelas mulheres que se expõem no grupo porque nunca é fácil. Um dia, uma mulher colocou um relato de abuso. Eu não a conhecia. Liguei para ela e falei: ‘me passa o endereço do trabalho desse cara que vou lá fazer um escândalo’. Ela não passou, mas isso deu a ela coragem de agir. O que senti foi pertencimento. Não estou sozinha”.

A cientista política e especialista em feminismo no Brasil Ana Carolina Ogando acredita que a rede social é um lugar em que vozes e experiências são representadas: “Olhamos para espaços formais e não encontramos nossas demandas representadas. Nesses espaços têm um lugar em que elas têm um apoio. É uma nova forma de comunicar e de desafiar um pouco as estruturas violentas que temos no cotidiano”.

Ela vê nos grupos e debates virtuais o que o universo acadêmico tem chamado de “a quarta onda do feminismo”. “Essa é uma das facetas e características do que seria a quarta onda. Usando tecnologia e redes sociais para criar novas práticas. E também chamar atenção. O que conecta essas pessoas é a experiência individual ligada a um coletivo”.

Nome fictício*

Fonte: O Tempo

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