quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Campanha Ponto Final será apresentada em audiência pública na próxima segunda

Na próxima segunda-feira (22) a Rede Feminista de Saúde apresentará a Campanha "Ponto Final na Violência contra Mulheres e Meninas" para órgãos governamentais, ONGs, movimentos sociais, agências multilaterais, parlamentares e outros, durante uma audiência pública será realizada a partir das 17h, no auditório da Secretaria de Políticas para as Mulheres, em Brasília. A reunião será coordenada pela Ministra Nilcea Freire.

O evento integra as ações do Dia Internacional da Não - Violência contra as mulheres, celebrado em 25 de novembro. A ação é coordenada pela Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe - RSMLAC em nível continental, e no Brasil é impulsionada pela Rede Feminista de Saúde.

No encontro serão apresentadas as propostas e os resultados da Ponto Final no seu primeiro ano de atividade. Télia Negrão, coordenadora da campanha, explicou que a proposta deste programa é diferente de outros que incentivam a punição do agressor, por exemplo. Segundo ela, o objetivo da campanha Ponto Final é "chamar a atenção da sociedade para refletir sobre a violência contra mulheres e meninas".

"Estamos questionando os padrões culturais e morais que fizeram com que as pessoas se acostumassem com a violência de gênero. A meta da campanha é criar uma mobilização social de pessoas que condenam e que digam Não! à violência de gênero, raça e etnia contra as mulheres", ressaltou.

Télia esclareceu que a campanha tem caráter internacional já que é originária da África e da Ásia e está sendo desenvolvida em outros três países, além do Brasil: Bolívia, Guatemala e Haiti. Ela disse que a campanha foi trazida para o Brasil em 2008 e que desde então, foram feitos estudos, planejamento e adaptações, de acordo com a realidade brasileira. "Em 2009 foi feito um trabalho para sensibilizar possíveis parceiros", completou.

Depois deste trabalho preparatório, a campanha começou a ser desenvolvida, no início deste ano, em diversas localidades. Um exemplo é o da comunidade Campo da Toca, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Segundo Télia, neste bairro com trinta mil habitantes, foi feito um mapeamento do perfil da comunidade, além de um trabalho de conscientização. "O resultado é que toda a comunidade está envolvida. Esta é a prevenção primária", salientou.

Ela enfatizou que a campanha já foi lançada em 14 estados brasileiros, em sessões de assembleias legislativas, câmara de vereadores, universidades, através de palestras e oficinas de formação.

A coordenadora explicou que a campanha é aberta à adesão de qualquer pessoa interessada em defender a causa. Para isso, basta divulgar o material de campanha através de reuniões, palestras, oficinas, rodas de discussão. O material que inclui folder, banner, cartaz, vídeos e estudos, está disponível no site:

http://www.campanhapontofinal.com.br/.

Fonte: http://www.adital.com.br/

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O preço de não escutar a natureza


Leonardo Boff

O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.

Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que destribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.

A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrario, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.

Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que ai viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.

Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras.

O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam.

Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d'água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.

No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.

Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.

Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.


Fonte: http://www.adital.com.br/