sexta-feira, 29 de abril de 2011

Projeto Joana combate o tráfico e a violência doméstica contra brasileiras na Holanda

Camila Queiroz

Jornalista da ADITAL

Era 2006. A jovem brasileira Joana havia sido traficada para a Holanda e trabalhava como dançarina numa boate. Trancafiada no local, Joana morreu num incêndio. Em homenagem a ela e para enfrentar o tráfico e a violência doméstica contra brasileiras na Holanda, a ONG Casa Brasil Holanda desenvolve o projeto Joana há três anos, com o patrocínio da agência holandesa de cooperação internacional, Cordaid.

No Brasil, o projeto está sendo apresentado em várias cidades pela presidente da Casa Brasil Holanda, Mara Parrela, numa jornada que começou ontem (26) e vai até o dia cinco de maio. Ela promove rodas de conversa sobre o tema e exibe o vídeo da campanha Brasileira não é souvenir exótico, lançado em 2009, com depoimentos de brasileiras que vivem na Holanda.

Mara explica que o objetivo do projeto é auxiliar as minorias exploradas. Ela alerta que não apenas brasileiras, mas também homens são explorados na Holanda. "Em relação à América Latina, o Brasil está sempre no topo dos que mandam imigrantes para a Holanda”, informa.

Dentre os motivos para a imigração, ela apontou, em primeiro lugar, o "romantismo”. "Eu recebi uma informação do consulado brasileiro de que a média de casamentos de brasileiras com holandeses é de sete por mês. É muita coisa”, comenta. Em segundo lugar vem o sonho de uma vida melhor no exterior, com um emprego supostamente mais rentável.

Com isso, a violência doméstica seria o maior risco atualmente, apresentando um número crescente de casos nos últimos três anos. "Hoje, muitas brasileiras estão casadas, têm filhos. A mulher fica vulnerável: está num país onde não conhece ninguém, tem um filho com o marido. Quando sofre a violência, passa por humilhações para não se separar da criança”, conta. Devido ao entendimento diferente da lei holandesa e da brasileira sobre a guarda dos filhos, muitas mães são forçadas a permanecer no país.

No tocante ao tráfico de brasileiros, Mara afirma que houve uma intensificação do na década de 1990, a partir da globalização, da internet e dos os vôos charters. Entretanto, houve uma diminuição do crime, recentemente. Ela citou os dados da organização holandesa CoMensha, que registrou duas ocorrências neste ano. "Mas a gente acha que pode haver mais casos”, advertiu, explicando que, por vezes, as denúncias de tráfico não são feitas.

Caso a mulher deseje, uma das maneiras de retornar ao Brasil é participar do programa Retorno sob medida. Promovido pelo parlamento europeu, concede microcrédito às mulheres que queiram voltar ao país, porém, elas devem ter um projeto para empreender na terra natal.

Mara aproveita a vinda ao Brasil para visitar mulheres que conseguiram retornar ao país com a ajuda da ONG e também recolhe depoimentos para o vídeo da próxima campanha do projeto, Caminho de volta, sobre o retorno (voluntário ou não) após uma experiência no exterior diferente da esperada.

Para assistir ao vídeo da campanha Brasileira não é souvenir exótico, acesse: http://www.casabrasilholanda.nl/

Casa Brasil Holanda

Criada por brasileiros em 1997, com sede na cidade de Dordrecht, a Casa Brasil Holanda seria um espaço de integração entre brasileiros que moram nos Países Baixos. Porém, em pouco tempo transformou-se num espaço que, além da integração, propicia apoio psicológico e jurídico aos brasileiros, por meio do trabalho de voluntários.

A ONG também trabalha em parceria com a Organização Internacional das Migrações (OIM), que financia a volta de repatriados – dentre os quais muitos brasileiros – e mantém parceria com o Consulado Brasileiro.

Mara Parrela, membro-fundadora, está há 15 anos na Holanda e lançou o livro Aqui e lá (Sá Editora, 2008) sobre sua vivência como imigrante.

Fonte: http://www.adital.com.br/

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Eu tenho um nome e me chamo MULHER

Fernanda Priscila Alves da Silva*


Era tarde de março… Mais um encontro para acontecer. Mulheres chegando e adentrando a casa, trocando olhares, trocando sabores e cheiros.
Era tarde de março e havia um tema proposto: Importância e significado do próprio nome na história.
O encontro iniciou com a acolhida de sempre e sentindo-se em casa cada mulher foi convidada a dizer seu nome em voz alta e falar de si mesma. Eu me chamo… Eu sou Mulher. O tom era firme e forte. Mulheres tomando a palavra. Mulheres fazendo outros corpos sentirem sair de si um força estranha, uma força geradora de vida. Força esta que um dia Jesus mesmo sentiu em seu corpo ao ser tocado por aquela mulher que há doze anos sofria de uma hemorragia que não a deixava viver.

Ditas as palavras, cada uma das mulheres presentes naquela tarde de março foi convidada a desenhar seu próprio nome. Desenhar, rabiscar, contornar… E assim, cada uma das mulheres desenhou seu próprio nome e em seguida compartilhou com as outras o sentido e significado do mesmo. Desse modo, se ia formando com os nomes das mulheres a palavra MULHER. Ser Mulher e ter um nome… Algo de um significado especial para aquelas mulheres da batalha. Elas que muitas vezes ocultam seus nomes, o proclamavam naquela tarde com a força de SER MULHER.

Aos poucos o grupo foi tomando a palavra, ou seja, tomar a palavra enquanto MULHER ganhou outro contorno. De mãos dadas as mulheres escutaram e meditaram o texto de Jo 20, 11-16, aonde mostra Jesus chamando Maria pelo nome e assim pelo tom de voz se reconhece quem se chama.

Pelo tom de voz se identifica quem chama e como chama esta foi a reflexão e partilha das mulheres. Uma delas dizia: “Quando ele chegava lá em casa daquele jeito eu já sabia, ele tinha bebido e aquela voz me incomodava… era horrível. Mas chegou um dia que eu não quis mais ouvir aquele tom de voz. Então eu falei: Chega!!!” (sic). Outra mulher refletiu: “Mas tem voz boa também. Jesus chama Maria com força e é por causa do amor que ela reconhece ele.” (sic). À medida que as mulheres iam falando a rede ia sendo tecida, ou melhor, a vida sendo costurada, interligada ao som de vozes e lembranças. Em meio às partilhas uma mulher gritou: Eu tenho um nome e me chamo Mulher. Em seguida todas as mulheres aplaudiram concordando e repetiram: Eu tenho um nome e me chamo MULHER.

Era tarde de março e no encontro com Madalena, a beira do túmulo, tendo coragem de olhar lá dentro cada mulher pôde de novo se encontrar consigo mesma e assim encontrando consigo mesma se encontrava com a outra. Mulheres tomam a palavra enquanto a Palavra recria vida.

O encontro foi terminando, mas ao mesmo tempo dando continuidade. A força criadora da Palavra continuaria fortalecendo a vida e assim poetizando com Madalena seguiremos cantando:

Maria, minha irmã Venho nesta manhã contigo bendizer

A vida que renasce, o sonho que permanece

A luta, a utopia que não se deixa morrer

Quero também eu inclinar-me

Quero também ter coragem de abaixar

Perceber que é possível o túmulo olhar

assim então em ti Senhor abandonar-me


Quero correr os campos

Atravessar as montanhas,

Banhar-me em teus rios

Enxugar meu pranto

Escutar meu nome pronunciado

Vem comigo então Maria

Vem e ensina-me

Mostra-me tua coragem

Pois desejo também eu amar como tu amas

Desejo também percorrer as vinhas

Saltar as janelas para encontrar-me com o Amado


Desejo escutá-lo…

Ouvir a voz do jardineiro: do Deus cuidador

Àquele que toca minhas raízes

E aprofunda meu ser em tuas terras

Meu Deus, Meu Amado, Meu Redentor

Eis que estou aqui minha companheira

Minha querida Madalena

Também quero escutá-lo a pronunciar meu nome

E assim reconhecê-lo

E assim voltar-me-ei aos campos

A bendizer e proclamar

Que também eu vi o Senhor

Também eu senti teu amor

* Fernanda Priscila é integrante do projeto Força Feminina e acompanha profissionais do sexo em Salvador/BA. É autora do livro Estações do Crer.

Homens contra a violência machista

Crescer o número de homens argentinos que combatem a violência de gênero. Em 2011, estão participando na campanha ‘260 homens contra o machismo’, impulsionada pelo governo nacional, que visibiliza os feminicídios que aconteceram em 2010. Ao aderir, os homens se comprometem a não exercer práticas machistas. Essa política soma-se à campanha ‘Laço Branco’ e a outros espaços onde os homens refletem sobre suas masculinidades e propõem ações concretas a favor da equidade de gênero.

Na Argentina, cada vez são mais os homens envolvidos na busca da igualdade de oportunidades, destacando sua participação na luta contra a violência de gênero. Para eles, introduzir-se nesses temas não é fácil porque começam a ser isolados por seus próprios pares nos espaços que frequetam. Também são duramente criticados devido a que questionam a situação de privilégio que a sociedade lhes destinou em detrimento da mulher. Nesse contexto, crescem atividades que, anos atrás, eram inconcebíveis. Por exemplo, a campanha nacional ‘260 homens contra o machismo’, lançado no dia 28 de março na cidade de Buenos Aires. A cifra representa o número de argentinas assassinadas violentamente por seus companheiros, ex-companheiros ou outros familiares em 2010, e surge do registro de casos realizado pelo Observatório da Sociedade Civil sobre Feminicídios na Argentina Adriana Marisel Zambrano.


Essa campanha é impulsionada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e persegue o objetivo de erradicar a violência contra as mulheres, envolvendo aos homens na tarefa de transformar o machismo que para eles pode ser opressivo, enquanto que para elas pode significar a morte. Essa ação conseguiu a participação de funcionários de diferentes lugares, como o Ministro da Economia, Amado Boudu ou o titular de Aerolíneas Argentinas, Mariano Recalde; como também de outros dirigentes que, possivelmente, estejam interessados nas possibilidades de promover suas candidaturas eleitorais; porém, que, sem dúvida, contribuem para visibilizar o problema da violência de gênero devido à sua representação no âmbito político.

A campanha está conseguindo adesões em todo o país. No dia 5 de abril, Morón aderiu, conseguindo uma participação massiva. A cidadania dessa localidade ganhou mais consciência sobre as iniqüidades de gênero que o município instrumenta há anos. Nesse sentido, foi chave o envolvimento de Martín Sabatella, quando esteve na Prefeitura. Atualmente, é deputado nacional e foi quem impulsionou a adesão de Morón à campanha, conseguindo o apoio do atual chefe municipal Lucas Ghi. No ato que realizou-se na praça principal, Sabatella destacou a estratégia de comprometer os homens porque "os direitos das mulheres ou a violência contra as mulheres são temas de todas/os e a luta pela equidade permitirá construir uma sociedade distinta”.

Por outro lado, o coordenador geral da Fundação Buenos Aires Aids, Alex Freyre, uma das personalidades comprometidas com a política impulsionada pelo Ministério de Desenvolvimento Social nessa matéria, disse que no país está acontecendo uma revolução cultural e combater o machismo é parte dessa revolução. Esclareceu também que a quantidade de vítimas de violência de gênero é maior do que 260, uma vez que os registros de casos se baseiam em divulgações dos meios de comunicação. Não existem cifras oficiais sobre esse problema.

Em Morón, foram vistos ao redor de 300 homens levantando cartazes nos quais se liam os nomes e os lugares de origem das vítimas de feminicídio. O coordenador geral da Dirección de Políticas de Género do município, Leonardo Di Dio, também levantou um cartaz e assinou o documento mediante o qual os envolvidos se comprometem a lutar contra a violência de gênero e a não exercer o machismo. "Não conhecia o enfoque de gênero e o incorporei quando comecei a trabalhar na Prefeitura de Morón, em 2004; fui conhecendo o problema da violência machista ou de gênero e a novidade de impulsionar, a partir das políticas públicas, uma mudança cultural, combatendo os estereótipos e gerando condições mais equitativas para homens e mulheres”, disse o funcionário a Artemisa Notícias.

Di Dio foi percebendo que aspectos muito negativos do machismo, como a desvalorização do outro gênero, estavam condicionando seu comportamento, a começar pela piada degradante. Entendeu rapidamente que o machismo é uma forma de interpretar o mundo partilhado tanto por homens quanto por mulheres e os feminicídios são uma expressão extrema dessa perspectiva cultural, onde as mulheres são as principais vítimas. "Antes, eu pensava que os homens ocupávamos naturalmente a maioria dos postos de tomada de decisão no âmbito público e também nas empresas porque tínhamos mais méritos. Creio que a primeira coisa que devemos conseguir é reconhecer que internalizamos esses preconceitos e que, apesar de sermos conscientes de que a violência e a discriminação existem, nós mesmos reproduzimos esses comportamentos. É saudável reconhecer-se machista porque isso te permite refletir, começar a ter um olhar critico e modificar esses comportamentos. As coisas que antes eu naturalizava, agora questiono. Consegui contagiar a outros homens para que se somem a essa ideia de que a equidade de gênero trará um mundo melhor”.

Os homens que lutam contra o machismo terão benefícios porque os papeis e comportamentos a eles destinados segundo essa perspectiva cultural são opressivos. "Devemos ter coragem diante de qualquer situação ou força e não demonstrar emoções, tudo isso gera opressão”, diz o funcionário, que comemorou a realização de campanhas como a de ‘260 homens contra o machismo’, porque têm impacto público e sensibilizam à sociedade.

Não é a primeira vez que se realiza na Argentina esse tipo de ações. A convocatória da Fundação Casa Abierta María Pueblo, que recebe mulheres e crianças vítimas de violência familiar, foi pioneira, em setembro de 2010. Uns 231 homens se mobilizaram até o Obelisco em repúdio aos assassinatos de mulheres que aconteceram em 2009. Nessa oportunidade, Darío Witt, diretor da Casa Abierta María Pueblo, explicou aos meios que "os homens devemos assumir-nos como principais culpados por esse tipo de delitos”.

 Fonte: http://www.adital.com.br/

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sobre Madalena e aquela madrugada


Maria Soave
Madalena corria, o coração batia forte, o suor molhava o seu rosto, a alegria tomava conta do corpo da apóstola. A vida e o sonho voltavam a ser vivos no coração de Madalena.

Parou um instante para retomar o fôlego. Os seus olhos profundos e escuros fitavam longe à procura de algo. Devagarinho deu uma volta sobre si mesma, deixando cair o manto preto que a cobria. Olhava e, no alto, mergulhava num céu cada vez mais claro onde ainda só brilhava uma estrela.

Um sorriso largo e uma gargalhada cristalina romperam o silêncio daquela madrugada. Finalmente, a tinha encontrado, tímida amiga do dia. Meiga presença fecundadora da terra, do mar, do corpo das mulheres... sinal de vida, libertação, ressurreição... Lua cheia da Páscoa do Senhor Jesus... “Alegrai-vos, mulheres e homens. Não tenhais medo. O Senhor ressuscitou! Aleluia!” (Mt 28,11).

Fonte: www.cebi.org.br