segunda-feira, 12 de maio de 2008

A prostituição feminina no hipercentro de Belo Horizonte

A prostituição feminina sob olhar de gênero

Dentre as reflexões apresentadas no seminário ressalta-se a exposição de Maria Inês de Castro Milen sobre a questão do gênero. Em sua fala ela coloca o conceito de gênero em foco e discute linhas teológicas também. Citamos aqui uma parte desse discurso em torno do gênero, apresentado por Maria Inês.

"Para iniciar o que é gênero?

O gênero tem a propriedade de ampliar o sentido das relações entre pessoas diferentes, mas não é muito bem compreendido.
Existe uma dificuldade com o conceito de gênero, que assume uma dimensão redutora, é preciso ampliá-la.

Gênero é uma ideologia, segundo cada um pode escolher sua orientação sexual sem levar em conta as diferenças dadas pela natureza, o que favorece o enfraquecimento da vida familiar. Maria Inês diz que este é um conceito redutor, então ao falar de gênero assume uma proposta mais positiva e mais abrangente.

Recordo aqui que todas as pessoas são sexuadas. Porém pertencem a grupos distintos que se relacionam, experimentando o ser e o poder ser a partir de suas idéias, etnias, raças, costumes, culturas, idades, sexualidade, etc. Penso junto com um teólogo, o professor Marcelo Vidal, que diz que o mais correto seja usar o termo sexo para falar de machos e fêmeas, homens e mulheres; e o termo gênero para falar de masculino e feminino nas suas diferentes situações e relações, incluindo as relações de poder.

Então posso dizer que o conceito de gênero considera que as instituições sociais, com seus símbolos, legislação e política estão perpassadas por representações e pressupostos do que seja o masculino e o feminino, e por essa razão é preciso que examinemos como o gênero opera na função de estruturar o próprio tecido social. Partindo dessa dimensão de gênero, a prostituição feminina pode ser considerada como uma atividade que põe em relevo o poder opressor dos homens sobre as mulheres.

No nosso contexto cultural patriarcal, desde os tempos mais antigos, a mulher foi considerada como algo a ser temido, conquistado, dominado e possuído, e na melhor das hipóteses protegido, enquanto constituída como propriedade do seu senhor, seja ele o pai, o marido ou o patrão.

Essa cultura patriarcal, que traz já no seu bojo um desprezo pelas mulheres se reproduz de certa forma até hoje. E que é mais complexo, está introjetada na mentalidade geral, inclusive na mentalidade das mulheres, o que pode ser percebido na maneira como as mulheres criam seus filhos e filhas e no modo como elas se produzem para agradar aos homens e para competir com as outras mulheres. Então até hoje podemos pensar que muitas mulheres não tem nenhuma dificuldade e até se sentem valorizadas quando são objetivadas e usadas para consumo dos outros. Basta um olhar sobre alguns modos de se fazer propaganda, moda, música, danças, a linguagem. Esses modos de vivência continuam a considerar a mulher como objeto sexual perfeitamente inserida no mercado lucrativo de compra e venda.

Então, assim, em vista desse olhar de gênero, a prostituição das mulheres apenas reproduz o modelo opressor e escravizante dos homens sobre elas. As mulheres continuam, neste ofício da prostituição, a ter que dispor de si mesmas para sobreviver, submetendo-se aos donos e donas do negócio, ao tráfico de pessoas, à iniciação ao uso de drogas, ao serviço de traficantes, à exposição a doenças sexualmente transmissíveis e à discriminação de todos os tipos. Assim, a luta feminina por igualdade e por libertação, sobretudo na questão da sexualidade e dos direitos reprodutivos fica dificultada".


Maria Inês Milen ainda aborda brevemente o ponto da prostituição explícita e a implícita e abre sua fala para questões teológicas e pastorais. Tal abordagem será publicada no blog em breve, assim como outras colocações e discussões advindas do seminário.

domingo, 11 de maio de 2008

Palavra da Pastoral


A celebração do I Seminário Interdisciplinar sobre Prostituição Feminina da Pastoral da Mulher, realizado graças ao imenso trabalho da equipe, à colaboração dos parceiros e ao interesse das mulheres afetadas, foi um passo importante na historia de nossa Associação, pois levou à praça pública o debate sobre a situação das mulheres em prostituição, algo que frequentemente é logo tratado de ocultar. Suscitou-se aí o interesse e a sensibilidade de representantes de órgãos públicos, de entidades do Terceiro Setor e da sociedade em geral perante esta realidade.


Durante esses três dias de seminário, deu-se um enfoque que implicou diversas áreas do saber, que necessariamente devem ser trabalhadas em conjunto para possibilitar o conhecimento e compreensão deste fenômeno, podendo assim, dar as respostas adequadas. Ressaltamos a mobilização das próprias mulheres envolvidas no evento. Tal participação certamente lhes ajudou a tomar mais consciência da necessidade de unir forças e lutar para que sua voz seja escutada nos foros de debate sobre sua situação.


O Seminário A PROSTITUIÇÃO FEMININA: UM OLHAR INTERDISCIPLINAR fechou as comemorações dos XXV anos da Pastoral, configurando-se não como ponto de chegada, mas sim como um ponto de partida. Abriram-se novos desafios, novos caminhos para o diálogo e para o debate entre os movimentos e grupos de mulheres com as Administrações Públicas, novas possibilidades de parcerias e uma maior compreensão das demandas que esta realidade apresenta. Continuamos a caminhada com mais força e consciência da nossa responsabilidade, lembrando que está é uma caminhada realizada com elas, as mulheres em situação de prostituição, e para elas. Elas são quem verdadeiramente nos ensinam, nos mostram a direção. Seguimos trabalhando em prol da cidadania de fato e por um mundo mais humano.

Pastoral da Mulher - Na batalha pela justiça Social