sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Parteiras tradicionais: um retorno à valorização do parto natural


IHU -  Instituto Humanitas Unisinos


Expectativa, medo, curiosidade, angústia, planejamentos... toda mulher grávida vive um misto de sentimentos na esperança de que seu bebê esteja e seja saudável, que seja uma pessoa boa, um ser humano de bom coração, que venha ao mundo de forma tranquila, sem sofrimento. Enquanto algumas mulheres, pensando na segurança do filho, escolhem o parto no hospital, algumas vezes através de cesárea, hoje muitas mães querem um parto mais humanizado e natural e algumas têm optado pelo acompanhamento das parteiras tradicionais. Aproveitando o Encontro Nacional Parteiras Tradicionais: Inclusão e melhoria da qualidade da assistência ao Parto Domiciliar no SUS, a IHU On-Line entrevistou, por telefone, a enfermeira e parteira Paula Viana. "Uma vez, no interior do Amazonas, conversei com uma médica e uma parteira. E a médica perguntou: ‘qual é a diferença do meu atendimento para o seu?’. Desta forma, a parteira respondeu: ‘a diferença é que você tem pressa e eu não’", relatou.

Paula Viana é enfermeira-obstetra em Recife (PE), faz partos domiciliares e coordena o Grupo Curumim, uma organização não governamental feminista que desenvolve projetos de fortalecimento da cidadania das mulheres em todas as fases de suas vidas.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Em que sentido a parteira é mais humana do que o médico em relação ao parto?

Paula Viana - A parteira representa o elo entre a comunidade e o Sistema Único de Saúde (SUS). Elas têm um trabalho de atenção integral à saúde da mulher e da criança, pois acompanham toda a gravidez, conhecem a vida das famílias, chamam-nas pelo nome e representam o mesmo nível social e econômico dos clientes, o que aproxima ainda mais a parteira da mãe. Isso é fundamental para o momento da gravidez, do parto e do pós-parto.

O parto não é só um evento médico, é um evento social e familiar que tem a mulher como protagonista. Então a parteira tem essa capacidade de interagir de forma mais humana, no sentido do pensamento mais holístico. Não que não haja médicos que façam assistência desse tipo. Porém há uma distância maior entre médicos e médicas e as mulheres das comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombo, floresta, onde estão as parteiras tradicionais. Elas têm muito o que ensinar para nós.

Uma vez, no interior do Amazonas, conversei com uma médica e uma parteira. E a médica perguntou: "qual é a diferença do meu atendimento para o seu?". Desta forma, a parteira respondeu: "a diferença é que você tem pressa e eu não". As parteiras não têm pressa mesmo, elas acompanham a mãe e isso torna o parto mais humano.

IHU On-Line - Você pode descrever o panorama geral da situação das parteiras tradicionais no mundo?

Paula Viana - Há um movimento internacional das parteiras, que reúne parteiras de vários países da América do Sul, do Canadá, do México, Europa. Esse movimento busca a valorização dessas trabalhadoras em saúde e também respeito às suas tradições. A tecnologia, quando entrou na sala de parto, veio para ajudar. Nós agradecemos porque existe a possibilidade da cesárea para que possamos salvar vidas. No entanto, essa tecnologia afastou a ideia do parto como um evento antropológico e social. A luta do movimento internacional é para que a parteira seja vista como uma aliada. Ela tem que ensinar ao sistema público de saúde, mas ela também tem que aprender.

IHU On-Line - Hoje, quando e como uma mulher se torna parteira?

Paula Viana - Existem alguns tipos de parteiras: tem a enfermeira-obstetra, que é uma parteira. Eu mesma sou uma enfermeira-obstetra, uma parteira domiciliar. Existe a parteira que faz um curso técnico de três anos que é treinada só para o parto normal e tem formações originais diferentes. Já a parteira tradicional é aquela formada pela experiência. Algumas dizem: "eu aprendi no susto". Aqui no encontro há 26 parteiras tradicionais e 34 enfermeiras e médicos. Essas 26 trazem relatos muito interessantes quanto a sua formação. Uma disse que começou aos 12 anos de idade. Ela foi chamada numa primeira ocasião, depois é chamada de novo e com isso vão pegando experiência. A teoria é importante, a parte tecnológica da obstetrícia é fundamental, mas o que conta mesmo é o conhecimento empírico. Um dos intuitos desse encontro é dizer o quanto é importante que essas parteiras tradicionais repassem seus conhecimentos às mais novas.

IHU On-Line - O que acontece quando um parto dá errado? A quem a parteira pode recorrer?

Paula Viana - Esse encontro é a finalização de um processo que dura dez anos. Ao longo desse período percebemos que as complicações não acontecem porque a parteira está atendendo. Os problemas ocorrem porque não existe um sistema de saúde apoiando. A parteira que faz parte dos cursos e recebe material sobre cuidados tem a capacidade de acompanhar fatos que podem complicar na hora do parto. Se a mulher faz um pré-natal de qualidade e a parteira está próxima e ocorre algum problema, ela consegue diagnosticar precocemente. Quando o município dá apoio, certamente dispõe de sistema de transporte que possa levar em tempo a mulher e o bebê ao hospital. Hoje, a mortalidade materna e neonatal não tem relação com o trabalho da parteira tradicional,

IHU On-Line - Qual a sensação quando um parto dá errado?

Paula Viana - Ela se sente muito impotente. Muitas vezes as parteiras, como falei antes, têm um nível econômico muito parecido com o da mulher que está atendendo. Quantas e quantas parteiras que conheci colocam dinheiro do próprio bolso para pagar uma gasolina, o aluguel de um carro para levar a mulher a um hospital ou mesmo levá-la até a casa da grávida. Mas a parteira tem limites. E esse encontro que estamos fazendo em Brasília serve, justamente, para que o SUS, o Ministério da Saúde, os governo municipais e estaduais incluam o trabalho da parteira tradicional nas suas políticas.


IHU On-Line - Como a parteira se prepara para ajudar a mulher no momento do parto?

Paula Viana - Há tantas formas. Há uma diversidade enorme de formações no Brasil. Assim, as mulheres se preparam no embate, no dia a dia, a partir do seu conhecimento. Estados como Amazonas, Pernambuco, Paraíba, Acre, Pará têm dado material para as parteiras. Assim, elas têm bolsa para carregar seus materiais, recebem instruções para esterilização do material e acomodação de equipamento. Elas se preparam na vida e aproveitando esses cursos e encontros que estão sendo realizados.

IHU On-Line - Como foi o processo para tornar responsabilidade do SUS o nascimento domiciliar assistido por parteira?

Paula Viana - Desde 1940 existem políticas que visam tornar a parteira parte do sistema. Em 1991, foi escrito um Programa Nacional de Parteiras Tradicionais e iniciou-se nos estados uma série de ações, capacitações, cursos. Já a partir de 2000, que é o processo que estamos finalizando agora, esse trabalho se voltou muito aos municípios, colocando para eles suas responsabilidades. É preciso saber quem, lá na comunidade, gerencia a saúde da população e o responsável é o município. Está presente aqui no encontro uma representante do Conselho Nacional de Secretários Municipais.

Esse processo é lento. As parteiras reivindicam uma remuneração pelo trabalho e até hoje pouquíssimos municípios tornaram isso realidade. Poucos também forneceram material e as vincularam ao sistema de saúde. Isso tudo faz parte da nossa luta. Nós sabemos que aos poucos vamos superando as barreiras, um dos maiores é o corporativismo médico. As parteiras não querem substituir ninguém, mas elas existem e precisam do apoio do SUS que tem que dar conta tanto de UTIs neonatal de alta tecnologia quanto àquele parto feito na beira do rio feito com luz de candeeiro. Esse é um direito básico nosso como cidadãs brasileiras.

IHU On-Line - Por que está ficando mais forte hoje o retorno às parteiras?

Paula Viana - Esse movimento também se deve às parteiras. Elas sempre existiram. Porém, estão ganhando mais repercussão porque algumas organizações do movimento feminista têm dado mais atenção à questão atualmente uma vez que as parteiras representam um retorno ao parto normal e a valorização do parto natural.





Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Credo da Mulher




Por Rachel C.Wahlberg


Creio em Deus, que criou a mulher e o homem à sua imagem,

que criou o mundo e recomendou aos dois sexos o cuidado da terra.

(Gn 1-2)

Creio em Jesus, filho de Deus, nascido de uma mulher, Maria,

que escutava as mulheres e as apreciava,

que morava em suas casas e falava com elas sobre o Reino,

que tinha mulheres discípulas

que o seguiam e o ajudavam com os seus bens.

(Mt 27.55; Lc 10.38)

Creio em Jesus,

que falou de teologia com uma mulher junto a um poço,

e lhe revelou, pela primeira vez, que ele era o Messias,

que a motivou a ir e contar as grandes novas à cidade.

(Jo 4.7ss)

Creio em Jesus, sobre quem uma mulher derramou perfume em casa de Simão,

que repreendeu aos homens convidados que a criticavam;

creio em Jesus, que disse que essa mulher seria lembrada

pelo que havia feito: servir a Jesus.

(Mt 26)

Creio em Jesus, que curou uma mulher no sábado,

e lhe restabeleceu a saúde, porque era um ser humano.

(Lc 13.10ss)

Creio em Jesus, que comparou Deus

com uma mulher que procurava uma moeda perdida,

com uma mulher que varria, procurando a sua moeda.

(Lc 15.8ss)

Creio em Jesus, que considerava a gravidez e o nascimento com veneração,

não como um castigo, mas como um acontecimento desgarrador,

uma metáfora de transformação, um novo nascer

da angústia para a alegria.

(Mt 24.8; Jo 3.4s)

Creio em Jesus que se comparou à galinha choca

que abriga os seus pintinhos

debaixo de suas asas.

(Mt 22.37)

Creio em Jesus, que apareceu primeiro à Maria Madalena

e a enviou a transmitir a assombrosa mensagem da ressurreição:

Ide e contai.

(Lc 24)

Creio na universalidade do Salvador, em quem não há judeu nem grego,

escravo nem homem livre, homem nem mulher,

porque todos somos um na salvação.

(Gl 3.28)

Creio no Espírito Santo,

que se move sobre as águas da criação e sobre a terra.

Creio no Espírito Santo,

o espírito feminino de Deus,

que nos criou, e nos fez nascer,

e qual uma galinha nos cobre com suas asas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

JESUS E AS MULHERES


Por Marilyn Adamson


Opiniões feministas têm freqüentemente criticado as diversas religiões devido à maneira como as mulheres são tratadas. E elas estão absolutamente certas. O que muitas opiniões feministas não levam em consideração é que Jesus teria sido um dos maiores aliados dos feministas.

Olhemos para a cultura do Oriente Médio, onde Jesus viveu. Rabinos judaicos iniciavam todos os encontros no templo com as seguintes palavras, "Bendito sejas Tu, Senhor, porque Tu não me fizeste mulher". As mulheres eram excluídas da vida religiosa e raramente lhes ensinavam a Torá em privacidade. Até que Jesus começou publicamente a incluir muitas mulheres como suas discípulas, o que enfurecia os líderes religiosos. Ele ensinou multidões de homens e mulheres, curou e, prontamente, operou muitos milagres tanto em meio aos homens quanto às mulheres.

Jesus também desafiou as leis sociais em relação a ambos os sexos. Naquele tempo, existia uma lei que permitia o marido divorciar-se da sua esposa por qualquer coisa, por exemplo, pelo fato do jantar não está pronto a tempo. Imagine a insegurança e a crueldade que essa lei trazia às mulheres. E, como você já deve prever, a esposa nunca poderia se divorciar do marido. Jesus, no entanto, anunciou que ambos, homens e mulheres, tinham o direito de se divorciar um do outro, mas somente em caso de adultério e mesmo assim ensinou que o divórcio, certamente, estava fora da maneira como Deus criou o casamento pra ser.

Outra lei social dos dias de Jesus era que a mulher que fosse pega em adultério deveria ser apedrejada até a morte. Ao homem, no entanto, não era reservado qualquer pena. Sabendo da maneira como Jesus tratava as mulheres com dignidade, eles queriam saber como Jesus lidaria com isso. Então, certo dia, vários homens arrastaram uma mulher, que foi pega na cama com um outro homem, que não seu marido, provavelmente um amigo deles, até Jesus. E desafiaram Jesus a consentir com o apedrejamento dela. Eles sabiam que tinham colocado Jesus contra a parede. Se ele desse perdão àquela mulher, ele seria um fraco e um inimigo da lei. Se Jesus a apedrejasse, eles confrontariam o tratamento respeitável com o qual Jesus tratava as mulheres e seus ensinamentos sobre misericórdia e perdão.

Jesus respondeu dizendo que se havia alguém naquela multidão que nunca havia pecado deveria jogar a primeira pedra na mulher. Provavelmente, não somente o que Jesus disse, mas também a sua presença que afetou a multidão. Um a um saiu daquele lugar. Jesus olhou pra mulher, que estava arrependida, e a perdoou completamente, como só de Deus poderia fazer.

O autor Philip Yancey comenta: "Para mulheres e outras pessoas oprimidas, Jesus virou de cabeça pra baixo a sabedoria da sua época. De acordo com o grande estudioso bíblico Walter Wink, Jesus violou as morais do seu tempo em todos os seus encontros com mulheres registrados nos quatro Evangelhos".

Faz sentido perceber que foram as mulheres que o amaram e ficaram aos pés da cruz de Cristo, enquanto que a maioria dos discípulos homens fugiram para salvar suas vidas. E foi a uma mulher para quem Jesus primeiro apareceu após ressuscitar da morte depois de sua crucificação. Isso é notável. A ressurreição de Cristo foi uma prova de tudo o que Jesus disse, quando se identificava como igual a Deus. Apesar das mulheres terem pouca influência na cultura daquela época, e nenhuma autoridade religiosa como alguém que falava sobre assuntos religiosos, Jesus deu a elas o papel de falar a outros sobre Sua ressurreição. Porquê? Talvez Jesus queria deixar bem claro que foi pelos pecados das mulheres e dos homens que ele morreu. Talvez Jesus queria que as mulheres e os homens soubessem que ele os oferece completo perdão e pode dá-los direção, paz e vida eterna.

Fonte: http://www.suaescolha.com