Jesus não contrapõe a vida ativa
e a contemplativa, nem a escuta fiel da sua Palavra e o compromisso de viver na
prática o Seu estilo de entrega aos demais. Alerta sim, para o perigo de viver
absorvidos por um excesso de atividade, em agitação interior permanente,
apagando em nós o Espírito, contagiando o nervosismo e a aflição mais do que a
paz e o amor.
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é
o Evangelho segundo Lucas 10,38-42 que corresponde ào 16° Domingo do Tempo
Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Enquanto o grupo de discípulos
segue o seu caminho, Jesus entra sozinho numa aldeia e dirige-se a uma casa
onde encontra duas irmãs a quem aprecia muito. A presença de Jesus, seu amigo,
provoca nas mulheres duas reações muito diferentes.
Maria, seguramente a irmã mais
jovem, deixa tudo e fica «sentada aos pés do Senhor». A sua única preocupação é
escutá-lo. O evangelista descreve-a com os traços que caracterizam o verdadeiro
discípulo: aos pés do Mestre, atenta à sua voz, acolhendo a sua Palavra e
alimentando-se dos seus ensinamentos.
A reação de Marta é diferente.
Desde que chegou Jesus, não faz mais do que esforçar-se em acolhê-lo e
atendê-lo devidamente. Lucas descreve-a preocupada por múltiplas ocupações.
Sobrecarregada pela situação e magoada com a sua irmã, expõe as suas queixas a
Jesus: “Senhor, não te importa que a minha irmã me tenha deixado sozinha com o
serviço? Diz-lhe que me ajude”.
Jesus não perde a paz. Responde à
Marta com um grande carinho, repetindo pausadamente seu nome; logo, faz-lhe ver
que também a Ele o preocupa a sua aflição, mas que deve saber que escutá-lo é
tão essencial e necessário que nenhum discípulo pode ficar sem a sua Palavra.
“Marta, Marta, andas inquieta e nervosa com tantas coisas; só uma é necessária”.
“Maria escolheu a parte melhor e não lhe será tirada”.
Jesus não critica o serviço de
Marta. Como o poderia fazer se Ele mesmo está a ensinar a todos com o Seu
exemplo de viver acolhendo, servindo e ajudando os demais? O que critica é o
seu modo de trabalhar de forma nervosa, debaixo da pressão de demasiadas
ocupações.
Jesus não contrapõe a vida ativa
e a contemplativa, nem a escuta fiel da sua Palavra e o compromisso de viver na
prática o Seu estilo de entrega aos demais. Alerta sim, para o perigo de viver
absorvidos por um excesso de atividade, em agitação interior permanente,
apagando em nós o Espírito, contagiando o nervosismo e a aflição mais do que a
paz e o amor.
Pressionados pela diminuição das
forças, estamos a habituar-nos a pedir aos cristãos mais generosos todo o tipo
de compromissos dentro e fora da Igreja. Se, ao mesmo tempo, não lhes
oferecemos espaços e momentos para conhecer Jesus, escutar sua Palavra e
alimentar-se do seu Evangelho, corremos o risco de fazer crescer na Igreja a
agitação e o nervosismo, mas não o seu Espírito e a Sua paz. Poderemos vir a
encontrar-nos com comunidades animadas por funcionários afligidos, mas não por
testemunhas que irradiam o alento e a vida do seu Mestre.
Fonte: Ihu
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