As tradições dos evangelhos
conferem a Madalena um lugar singular: a que amava o Senhor e a que se tornou
Apóstola dos Apóstolos. O texto de João, que aqui rememoramos, traz elementos
que nos levam a pensar o amor cantado no Cântico dos Cânticos: o jardim do
encontro, lugar das delícias; o desejo do toque, da retenção do corpo, para que
não haja mais separações; o reconhecimento pelo nome, lugar da intimidade.
Por Felipe Magalhães Francisco*
Maria Madalena amava Jesus. No
Evangelho de João, no relato da Ressurreição do Filho de Deus, o texto narra
que ela, na madrugada do primeiro dia da semana, tendo guardado o sábado, foi
ao túmulo de Jesus e o encontrou sem a pedra. Correndo, foi ao encontro de dois
dos discípulos contar que haviam tirado o corpo de seu Senhor do túmulo. Pedro
e o outro discípulo correram ao túmulo e o encontraram como Madalena havia
dito. Depois de entrarem e perceberem os vestígios da ausência, voltaram para
casa. Maria Madalena permaneceu (cf. Jo 20,1-10).
Chorou a dupla ausência de seu
Senhor: a primeira, por sua trágica morte; a segunda, pelo desaparecimento de
seu corpo. Olhando para o túmulo, viu dois anjos, que a perguntaram o motivo
pelo qual chorava. “Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram” (Jo
20,13). Voltando-se para trás, viu um homem, a quem pensou ser o jardineiro. O
homem lhe faz a mesma pergunta feita pelos anjos. Ela não respondeu. Ao
contrário, interpelou-o: “Senhor, se foste tu que o levaste, dizei-me onde o
colocaste, e eu irei buscá-lo” (Jo 20,15). Quanto amor!
O homem, que era Jesus, chamou-a
pelo nome: “Maria!”. Bastou a ela uma palavra, a sua palavra, para que
reconhecesse seu Senhor. Reconheceu-o como “Mestre”, devotando-lhe seu amor de
discípula. Quis agarrá-lo para si, para que nunca mais partisse. Jesus, porém,
diz a ela para não retê-lo, pois seu lugar é junto do Pai. Confere a ela uma
missão: “Mas vai dizer aos seus irmãos [...]” (Jo 20,17). Torna-se a Apóstola
primeira da Ressureição: “Eu vi o Senhor” (Jo 20,18).
As tradições dos evangelhos
conferem a Madalena um lugar singular: a que amava o Senhor e a que se tornou
Apóstola dos Apóstolos. O texto de João, que aqui rememoramos, traz elementos
que nos levam a pensar o amor cantado no Cântico dos Cânticos: o jardim do encontro,
lugar das delícias; o desejo do toque, da retenção do corpo, para que não haja
mais separações; o reconhecimento pelo nome, lugar da intimidade. Madalena
amava a Jesus, o seu Senhor e Mestre, pelo papel desempenhado por ele em sua
vida: o reconhecimento de sua dignidade de pessoa, de mulher, de autêntica
discípula.
Ao longo da história, muito se
especulou sobre essa mulher ímpar. Contribuindo com um olhar
histórico-teológico, o artigo Maria Madalena: “Àquela que é igual aos
apóstolos”, do Pe. César Thiago, mestre em teologia, pela Faculdade Jesuíta de
Filosofia e Teologia (FAJE), possibilita-nos compreender as transformações da
compreensão que se teve de Maria Madalena, ao longo da história da Igreja, e a
importância de conferirmos a ela o lugar que Jesus mesmo a deu: de Apóstola da
Ressurreição.
Hoje, 22 de julho de 2016, dia em
que se comemora a vida feita amor de Madalena, e sua singular participação na
Ressurreição de Jesus, a Igreja celebra de um jeito novo: já não como memória
obrigatória, mas como Festa da Igreja, segundo motivação proposta pelo Papa
Francisco.
*Felipe Magalhães Francisco é
mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a
Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte.
Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de
poemas Imprevisto (Penalux, 2015).
Fonte: Dom Total
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