Eu acho tão engraçado quando, no
meio de uma conversa, uma pessoa me toca no pulso e me diz, como quem fala com
uma pessoa com uma doença terminal “mas você não tem medo de ficar sem um –
respiração dramática – homem?”
por Clara Corleone no Lugar de
Mulher
Essa pessoa é normalmente a amiga
de uma amiga que pegou o viamão lotado, um cara que não sei porque diabos está
na minha mesa ou, valha-me, um parente aleatório.
Aparentemente são muitos os
motivos para que essas pessoas acreditem que eu posso vir a ficar sem um – que
rufem os tambores – homem. Veja bem: “muito acostumada a morar sozinha”, “tem
muitos amigos”, “bebe como um rapaz – e xinga como um também!”, “fala de sexo”.
e, é claro: “é virginiana”. Mas o motivo-campeão apontado por esses seres é: “é
muito feminista”.
Acho engraçado porque desde que
me tornei “muito feminista” (?), aconteceu o contrário. Eu fui é ficando cada
vez com homens melhores – menos homens, é verdade, mas melhores. Inclusive, se
tudo der certo – falta menos de 6 meses, levo fé – 2016 entrará para a história
da minha vida como o ano em que só transei com homens muito legais, daqueles
que você recomenda para as amigas – o sistema de recomendação é assim: a amiga
te pergunta se pode ficar com o carinha que você já ficou e você dá um tapinha
despreocupado na ar e responde “ixi, vai na fé que o cara é um amor, bom papo,
bom de cama, descomplicado, não vai encher o seu saco e muito menos tentar
mandar em ti”.
Obviamente o processo de
empoderamento da mulher gerado pela descoberta do feminismo que vem em ondas
como o maaaaar interfere nas escolhas dela e isso influencia sua vida em todas
as esferas. Você começa a ver machismo em tudo – não porque está louca, mas
porque tem essa porra em tudo mermo -, você percebe que seu pai sempre
silenciou sua mãe, você percebe que nunca foi aquela burra que te chamavam,
você percebe que quando foi chamada de “vagabunda” não tinha feito nada demais,
etc. e você também percebe, ué, que não precisa mais ficar com aquele namorado
de merda ou continuar dando mole para panaca que acha que é a pica das
galáxias. Se, como eu, é parte daquela estranha camada da população que de fato
gosta de ficar com meninos, vai naturalmente presenciar um fenômeno
popularmente conhecido como “fenômeno Jerry Maguire”.
É A GRANDE VIRADA
Suas amigas acham que você está
arrasando, mas não é isso. Você sempre foi arrasante, somos todas umas
maravilhosas, mas quando estamos com a autoestima do tamanho do Tyrion
Lannister, vamos acabar nos relacionando com uns bostas. Agora, quando estamos
mega empoderadas… Jerry Maguire. Jerry Maguire – A Grande Virada.
Você descarta abusadores.
Você esnoba babacas.
Na primeira frase machista, você
pega sua bolsa e entra no uber.
Se um cara pede que você tire o
batom vermelho, você tira.
Na toalha branca que ele acabou
de comprar na tok stok.
Você arrasa, gata.
Ou seja: não é que você vá ficar
necessariamente sem um – quarteto de cordas dos músicos do Titanic – homem.
Você não vai é ficar com um homem trouxa. Talvez você fique com mais de um
homem. Talvez você fique com dois de uma vez só, sua Dona Flor maravilhosa.
Talvez você tenha um homem para cada dia da semana, sua Branca de Neve moderna.
Talvez você fique sem homem por um ano, dois, dez. Talvez você não queira mais
saber de homem porque afinal de contas, falam de homem como se fosse um negócio
da China – menos, né gente.
Quando a gente se torna “muito
feminista” – seja lá o que isso signifique – achamos muito engraçado quando nos
perguntam se não temos medo de ficar sem um – trilha do chuveiro em “Psicose” –
homem.
Nós nos encontramos, nos
descobrimos. Fizemos as pazes conosco.
Eu tenho é medo de ficar sem –
cavalos relincham, cães uivam – amor próprio.
Fonte: Geledes
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