Na Igreja temos de recuperar quanto antes a compaixão como o estilo de vida próprio dos seguidores de Jesus. Temos que resgatá-la de uma concepção sentimental e moralizante que a desprestigiou. A compaixão que exige justiça é o grande mandato de Jesus: «Sede compassivos como o vosso Pai é compassivo». O sofrimento dos inocentes deve ser levado a sério; não pode ser aceito socialmente como algo normal, pois é inaceitável para Deus.
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 7,11-17 que corresponde ao
10° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Jesus chega a Naim quando na
pequena aldeia se está vivendo um acontecimento muito triste. Jesus vem a
caminho, acompanhado dos seus discípulos e de uma grande multidão. Da aldeia
sai um cortejo fúnebre a caminho do cemitério. Uma mãe viúva, acompanhada pelos
seus vizinhos, leva a enterrar o seu único filho.
Em poucas palavras, Lucas
descreve-nos a trágica situação da mulher. É uma viúva, sem esposo que a cuide
e a proteja naquela sociedade controlada por homens. Ficava-lhe apenas um
filho, mas também este acaba de morrer. A mulher não diz nada. Só chora a sua
dor. Que será dela?
O encontro foi inesperado. Jesus
vinha para anunciar também em Naín a Boa Nova de Deus. Qual será sua reação?
Segundo o relato, «o Senhor olhou-a, comoveu-se e disse-lhe: Não chores». É
difícil descrever melhor o Profeta da compaixão de Deus.
Não conhece a mulher, mas olha-a
detidamente. Capta sua dor e solidão, e comove-se profundamente. O abatimento
daquela mulher chega ao seu interior. Sua reação é imediata: «Não chores».
Jesus não pode ver ninguém chorar. Necessita intervir.
Não pensa duas vezes. Aproxima-se
do féretro, detém o enterro e diz ao morto: «Jovem, a ti te digo, levanta-te».
Quando o jovem se reincorpora e começa a falar, Jesus «entrega-o à sua mãe»
para que deixe de chorar. De novo estão juntos. A mãe já não estará só.
Tudo parece simples. O relato não
insiste no aspecto prodigioso do que acaba de fazer Jesus. Convida seus
leitores a que vejam nele a revelação de Deus como Mistério de compaixão e
Força de vida, capaz de salvar inclusive
da morte. É a compaixão de Deus
que faz de Jesus tão sensível ao sofrimento das pessoas.
Na Igreja temos de recuperar
quanto antes a compaixão como o estilo de vida próprio dos seguidores de Jesus.
Temos que resgatá-la de uma concepção sentimental e moralizante que a
desprestigiou. A compaixão que exige justiça é o grande mandato de Jesus: «Sede
compassivos como o vosso Pai é compassivo».
Esta compaixão é hoje mais
necessária do que nunca. Desde os centros de poder, tudo é tido em conta antes
do sofrimento das vítimas. Trabalha-se como se não houvesse dores nem
perdedores. Das comunidades de Jesus tem de se escutar um grito de indignação
absoluta: o sofrimento dos inocentes deve ser levado a sério; não pode ser
aceito socialmente como algo normal, pois é inaceitável para Deus. Ele não quer
ver ninguém chorando.
Fonte: Ihu
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