Milhares de pessoas pediram
"Ni una menos" na Argentina há um ano.
“Alguma vez disseram alguma
grosseria para você em público?”, “Alguma vez algum desconhecido tocou alguma
parte do seu corpo sem seu consentimento?”, “Alguma vez seu cônjuge disse que
você é tão desejável que não consegue não sentir ciúmes?”.
Estas são três das
perguntas incluídas na primeira pesquisa argentina sobre violência cotidiana
contra a mulher, que será lançada nesta quinta-feira, dia 2 de junho, quando se
completa o primeiro aniversário da mobilização de uma multidão contra os
feminicídios Ni Una Menos.
A pesquisa exaustiva, que inclui
quase 200 perguntas, foi elaborada pelas integrantes do coletivo Ni Una Menos,
junto a especialistas de diversas áreas, para detectar violência psicológica,
física, social, profissional, econômica, obstétrica e simbólica. O amplo leque
de perguntas rastreia situações cotidianas que afetam as mulheres de todas as
idades. Por exemplo, ter sofrido assédio de desconhecidos na rua, um tema que
gerou um forte debate no ano passado na Argentina — onde as cantadas na rua são
muito frequentes — em função do vídeo gravado por uma adolescente para
denunciar o incômodo e o temor que tinha ao ouvir todo dia grosserias de um
grupo de trabalhadores. Outras questões indagam se a entrevistada teve alguma
vez medo de sofrer violência sexual ou se cruzou com exibicionistas, entre
outras.
As profissionais devem responder
se tiveram algum trabalho ou promoção negados por sua condição feminina, se
mudaram suas tarefas ou se renunciaram a alguma capacitação pelo mesmo motivo.
Às que são mães, pergunta-se sobre o comportamento da equipe médica durante o
momento do parto. “A violência profissional e obstétrica são situações muito
naturalizadas”, afirma a jornalista Ingrid Beck, uma das criadoras da campanha
“Conte sobre a violência machista”. “Acredito que não haja nenhuma mulher que
não clique ‘sim’ pelo menos uma vez”, acrescenta.
O cônjuge — seja o atual ou
anteriores — é outro eixo da pesquisa, não sem motivo: mais da metade dos
feminicídios ocorrem no seio da família e os especialistas afirmam que há
sinais de alerta anteriores às agressões, como o controle, as tentativas de
afastamento de familiares e amigos e a humilhação, entre muitos outros. “É o
que se conhece como círculo da violência”, diz Beck.
Além disso, pergunta também sobre
situações de violência econômica, como “restringiu seu uso de dinheiro?”,
“ameaçou deixar de pagar alguma coisa se não fizesse o que ele dizia?” e
“impediu você de usar seu dinheiro”, entre outras.
O questionário, que ficará aberto durante três
meses, é anônimo e inclui apenas perguntas sobre a idade, o nível educacional e
a renda familiar para poder fazer estatísticas com esses critérios. Com as
respostas obtidas, será realizado o primeiro índice nacional de violência de
gênero, destinado a dar visibilidade às agressões que as argentinas sofrem e
saber se decidem denunciá-las ou não. “Queremos saber qual é a situação”,
afirma Beck, que lamenta a ausência de estatísticas sobre o tema.
Só os feminicídios, a forma mais
extrema de violência de gênero, conta com registros na Argentina: o da
associação civil Casa del Encuentro, elaborado a partir de recortes de jornal,
e o produzido em 2015 pela Suprema Corte a partir de ações judiciais de 2015.
Segundo o primeiro deles, 286 mulheres foram assassinadas por violência de
gênero na Argentina.
Fonte: El Pais
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