"Saio daquele quarto
extremamente humilhada". Estudante de 19 anos acusou três funcionários
públicos estaduais de abusar dela no alojamento, durante encontro de
administração pública, enquanto estava desacordada.
Uma estudante belo-horizontina do
curso de administração pública da Fundação João Pinheiro (FJP), de 19 anos,
denunciou ter sido vítima de um estupro coletivo num congresso da área em Bom
Despacho, no Centro-Oeste mineiro, sendo que os três suspeitos são funcionários
públicos estaduais, um deles palestrante do evento. A polícia informou já ter
identificado os suspeitos e a reportagem apurou que a prisão deles deve ser
pedida nos próximos dias, já que testemunhas fundamentaram a denúncia o
suficiente, na avaliação da polícia. Descrita como uma aluna muito ligada ao
movimento estudantil, a jovem estava entre os 400 participantes do segundo
Encontro Mineiro de Estudantes do Campo de Pública (II Em Público) e afirma ter
sido molestada quando estava desacordada, na última sexta-feira, mas apenas na
quarta-feira reuniu coragem para ir acompanhada do pai à Polícia Civil, na
capital mineira, para denunciar o ocorrido. O motivo alegado para a demora é
ter a família da vítima um caso de estupro ainda traumático.
O depoimento da estudante foi divulgado pelas redes sociais (foto: Reprodução/Facebook)
O depoimento da estudante foi divulgado pelas redes sociais (foto: Reprodução/Facebook)
Palestrante de curso é suspeito de participar de estupro coletivo em Bom Despacho
O crime se deu nos alojamentos do
Sesc Bom Despacho, onde o congresso ocorreu, entre os dias 2 e 5 deste mês.
Segundo a polícia, os três suspeitos são ex-estudantes da FJP, com idades entre
24 e 25 anos, que moram e trabalham na capital mineira. Segundo a FJP, os
suspeitos são “especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental
lotados em secretarias do Governo do Estado”. A denúncia de estupro coletivo
revoltou a comunidade acadêmica e os estudantes, que usaram as redes sociais
para manifestar repúdio à violência. Casos como esse, de estupro coletivo,
passaram a figurar entre as bandeiras mais fortes contra o abuso a mulheres
depois que um vídeo que correu as redes sociais mostrou uma adolescente
estuprada por 33 homens, no Rio de Janeiro, no mês passado.
Pelas redes sociais, a jovem que
sofreu a agressão sexual se manifestou. “Nesse último EM Público sofri um
abuso. Estava em uma situação vulnerável, inconsciente. Fui surpreendida por essa
situação terrível, em que estava diante de um homem que acreditou que poderia
fazer sexo com uma pessoa na situação em que eu estava. Minha primeira reação:
choque. Minha segunda reação: preciso sair daqui. Tento fugir, ele foi atrás. É
quando reúno minhas forças e consigo dizer não, para ele parar – sabia que eu
não merecia passar por aquilo e que eu não precisaria passar. Ele me larga.
Saio daquele quarto extremamente humilhada”.
De acordo com a delegada-chefe da
Divisão de Polícia Especializada da Mulher, do Idoso e do Deficiente, Danúbia
Soares Quadros, a estudante da FJP chegou à delegacia muito abalada, nervosa e
chorando muito. “Ela disse que ficou com um dos rapazes, de 24 anos, no
primeiro dia, durante uma festa de confraternização. Contou que bebeu muito e
acabou indo para o quarto dele, onde perdeu os sentidos”, relata. Segundo o
depoimento à polícia, a jovem relatou ter acordado numa cama de casal com um
dos rapazes nus a puxando em sua direção e que viu do outro lado da cama um
outro, de cueca. O homem com quem estava tendo um relacionamento se encontrava
dormindo num beliche. “A vítima disse que se assustou e tentou correr para o
banheiro, mas que eles tentaram agarrá-la e beijá-la. Ela chegou a dizer: ‘O
que vocês pensam que eu sou’. Então o rapaz com que tinha ficado jogou para ela
uma das camisas dos suspeitos e ela escapou”, relata a delegada.
Um casal chegou a ver a jovem
fugindo do quarto trôpega e os três suspeitos dentro do cômodo, de cuecas.
Segundo a delegada, eles foram localizados, mas ainda não foram ouvidos. A
vítima chegou a fazer uso do coquetel antirretroviral para prevenir de doenças
infecciosas como a Aids, mas a medida não teria mais eficácia devido ao tempo
decorrido. Um exame de corpo de delito também foi feito, mas ainda não
apresentou resultados. “O testemunho do casal é uma das provas mais forte. Se
forem confirmadas as acusações, eles podem ser condenados por estupro de
incapaz, por ter a vítima estado desacordada, com agravante do recurso de mais
pessoas, o que pode levar a prisão de 8 a 15 anos”, afirma a policial.
Fundação divulga nota de repúdio
A Fundação João Pinheiro se
manifestou, por meio de nota do seu presidente, Roberto do Nascimento
Rodrigues, sobre as denúncias de estupro coletivo em evento com a participação
de alunos e ex-estudantes. “O presidente da Fundação João Pinheiro repudia
quaisquer atos de violência, opressão, constrangimento ou equivalentes,
praticados contra membros da instituição, em particular aqueles relacionados
aos alunos da Escola de Governo Paulo Neves de Carvalho”, informou. A nota
destaca ainda que “já foram iniciados os procedimentos para apoio à vítima”.
O presidente da Federação
Nacional dos Estudantes dos Cursos do Campo de Públicas (Feneap), André Vechi,
esteve no evento e também manifestou repúdio à ação, especialmente por um dos
suspeitos ser um palestrante que deveria transmitir conhecimento e não molestar
congressistas. “Lamentamos profundamente, não é o tipo de fato para um evento
estudantil. Nos solidarizamos com a vítima”, disse.
Fonte: Estado de Minas
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