O aviso é claro. Segundo babás de
filhos de sócios do Country Club, em Ipanema, há uma placa diante do banheiro
feminino do local informando que elas não podem entrar: devem usar o sanitário
reservado para crianças. A norma veio a público na terça-feira, quando o
jornalista Ancelmo Gois, do GLOBO, noticiou em sua coluna que uma babá que dava
banho em duas crianças no banheiro tradicional foi convidada por um funcionário
do clube a se retirar.
O Ministério Público do Trabalho abriu investigação
contra o Country por discriminação, como antecipou o colunista.
‘Há uma placa dizendo que babás não
podem frequentar o banheiro. Considero isso preconceito’ – RENATA BESERRA –
Babá
— É verdade, há uma placa dizendo
que babás não podem frequentar o banheiro. Considero isso preconceito. Eu uso o
banheiro infantil para fazer xixi, mas é raro. Não me sinto à vontade — diz
Renata Beserra, que cuida de uma criança de um ano e a leva diariamente ao
Country para fazer natação ou brincar no clubinho.
Babá de uma menininha de 2 anos,
Joceni Vieira conta que, como está sempre com ela, quase não vai ao banheiro no
clube e, portanto, não sabia da regra. Nem gostou de saber:
— Acho a proibição uma bobagem.
Somos pessoas como quaisquer outras. Algumas colegas estão indignadas.
Uma babá que pediu anonimato
disse não se incomodar com a proibição:
— Eu não esquento, o que dá para
mim eu uso.
“É QUESTÃO DE ORDEM”
Sócia do Country e mãe de duas
crianças, a empresária Daniela Basílio frequenta o clube com a babá e diz que
“não é a favor nem contra a norma”:
— Mas aqui há regras. Existem
sócios mais velhos que não querem ser incomodados por crianças no banheiro.
Quem não quiser respeitar, vai embora daqui.
Uma outra sócia, que pediu para
não ser identificada, concorda com a proibição:
— Não tenho preconceito, mas as
babás não necessariamente são pessoas extremamente educadas. Infelizmente, nem
todas as classes têm acesso à mesma educação. Elas não necessariamente vão
puxar a descarga ou deixar o banheiro limpo. Não é nada contra as babás. É
questão de ordem e disciplina.
Já para a promotora de vendas
Cristiana Ramos, também sócia, as babás deveriam poder frequentar qualquer
banheiro:
— Desde que não haja exagero, o
volume de babás que frequentam o clube é grande. Mas não faço nenhum tipo de
discriminação.
A psicanalista e filósofa Viviane
Mosé, que classfica de “extremamente arrogante” a defesa da proibição, diz que
a questão não envolve só preconceito, mas também “burrice”:
— É muito retrógrado. E é
inacreditável que ainda exista hoje esse tipo de exclusão. O problema não é
preconceito de classe, raça ou cor, é sim uma classe achar que pode excluir a
outra, sendo que ela necessita, depende dessa pessoa. Babá não é alguém que
cuida do bebê, da criança? E o maior valor de uma família não são as crianças?
E essa babá que cuida desse bem maior não pode frequentar o mesmo banheiro dos
sócios? O que estamos vendo é uma classe lutando contra si mesma.
“É UM TIRO NO PÉ”
‘Porque as mães estão
trabalhando, as babás são a referência materna, praticamente a mãe. Mas essa
pessoa não pode usar o mesmo banheiro? Estão criando um problema aos próprios
filhos’ – VIVIANE MOSÉ Filósofa
Ela conta que o caso ocorre ao
mesmo tempo em que, no Leblon, responsáveis que mandam as babás no seu lugar às
reuniões de pais têm sido alvo de comunicados enviados pelas escolas.
— Mães mandam babás às reuniões
porque não têm tempo. Porque as mães estão trabalhando, as babás são a
referência materna, praticamente a mãe. Mas essa pessoa não pode usar o mesmo
banheiro? Estão criando um problema aos próprios filhos. Além disso, querem que
as babás as odeiem? — questiona a psicanalista. — Não trato as babás como
coitadas. Coitados são esses pais com esse nível de ignorância. É um tiro no
pé.
Ao colunista Ancelmo Gois, o clube
disse que o uso do banheiro feminino é “exclusivo para sócias, que deixam lá
seus pertences”. Por isso, a proibição. Procurado ontem, o Country não quis se
pronunciar sobre o tema. Em janeiro de 2013, o GLOBO mostrou que clubes da Zona
Sul estavam impedindo o acesso de babás sem uniforme.
Fonte: Globo
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