Estatísticas da Maternidade Odete
Valadares, referência na capital mineira para vítimas de agressão sexual, dão
ideia da violência: cerca de 30% não formalizam queixa.
A subnotificação dos casos de
estupro em Minas Gerais torna-se nítida nas estatísticas um dos cinco serviços
de saúde referenciados em Belo Horizonte para atendimento a vítimas de
violência sexual. Na Maternidade Odete Valadares, na Região Centro-Sul de BH,
cerca de 30% das mulheres que dão entrada após sofrer abuso não registram
boletim de ocorrência na polícia. Na unidade, são pelo menos dois casos dessa
natureza por semana, ou seja, de oito a 10 atendimentos em média por mês, de
pacientes de Belo Horizonte e da região metropolitana que passam por serviços
de emergência, assistência psicológica e assistência social.
Diretor da maternidade, Francisco
José Machado Viana defende que por trás da subnotificação estão principalmente
os fatores sociais que culpabilizam a mulher de forma equivocada, mas seguidos
de outros também muito importantes. “Há uma falta de conhecimento muito grande
da estrutura. Não podemos considerar que todas as pessoas sabem dos serviços,
especialmente no interior. Já fizemos treinamento com 4 mil profissionais em
muitas cidades, em todas as macrorregiões de Minas, mas a rede ainda é muito
pequena. Certamente precisaremos fazer mais, formalizar o serviço, divulgar
isso dentro da rede do estado”, afirma.
Na lista de serviços estão os de
emergência, que funcionam 24 horas e incluem coleta de material biológico para
exame de DNA (o que contribui para identificação e prisão do agressor);
atendimento ginecológico; exames de sangue; aplicação de vacina contra hepatite
B; administração de antibióticos para evitar doenças sexualmente transmissíveis
de origem bacteriana (como sífilis); e de antivirais, para evitar a transmissão
de hepatites virais e do vírus HIV. Em seguida, a mulher é encaminhada ao
ambulatório, onde passa a ser acompanhada por médico e assistente social por no
mínimo seis meses. O atendimento psicológico pode durar até um ano. Se for
necessário atendimento social e jurídico ou abrigamento, há também o
encaminhamento junto a organizações do município.
De acordo o médico, é possível
que todo município mineiro tenha o serviço especializado. “No primeiro
atendimento, o que se precisa são apenas pessoas treinadas. Para qualquer
necessidade mais complexa, há o prazo de 72 horas para transferir e buscar um
município de maior porte”, explica. O prazo, segundo ele, é o necessário para
que a paciente tenha acesso à medicação para evitar doenças sexualmente
transmissíveis.
Diferentemente do passado, a rede
especializada de atendimento à vítima de agressão sexual trabalha hoje dando
prioridade ao atendimento de saúde. “Houve uma mudança no fluxo, que
inicialmente exigia a passagem pela delegacia até a vítima chegar ao serviço de
saúde. Agora, ela pode ir diretamente à unidade de atendimento médico, onde é
orientada a procurar a polícia. Mas fazer a queixa é uma decisão dela”, afirma
o diretor Francisco José Viana, que ressalta ainda ser muito próxima a relação
entre os dois serviços, bem como os demais necessários para proteção da mulher
violentada. Ainda assim, ele reforça, que a vergonha e o constrangimento devem
ser deixados de lado nesse contexto. “A mulher precisa tomar coragem e buscar
ajuda. Isso é o mais importante”, diz. Já o superintendente de Investigações da
Polícia Civil, André Pelli, reforça que a denúncia pode ser feita a qualquer
tempo, mesmo que o abuso tenha ocorrido na infância.
Fonte: Estado de Minas
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