Imagem divulgada no Twitter do
estupro coletivo de uma menor no Rio
O estupro de uma adolescente de
16 anos por 33 homens no Rio de Janeiro chamou a atenção para como os crimes
sexuais, cruéis a ponto de deixarem marcas emocionais perenes nas vítimas,
ocorrem com uma frequência assustadora. A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada
no país, revelam dados do 9º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Mas, ao contrário do que se
pensa, quem pratica o estupro não é necessariamente um doente mental, mas uma
pessoa sem valores morais e éticos, afirmam especialistas em saúde psíquica.
Entre os traços comuns aos
autores de crimes sexuais está o desprezo à condição humana das vítimas. Eles
enxergam a mulher como um “alvo fácil” e, devido à falta de entendimento do que
é socialmente aceitável, a violentam. “Essas pessoas apresentam uma deformidade
educacional. O homem que abusa sexualmente de uma mulher tem convicção de que
ela é uma propriedade dele, devido a uma distorção de valores. É um antagonismo
emocional ao processo civilizatório normal. É preciso notar que o ser humano
não é só um ser biológico. É um ser biológico e biográfico (com valores
comportamentais)”, explica o psiquiatra forense, Talvane de Moraes.
Segundo ele, um dos pilares que
sustentam a cultura do estupro é a ideia de que e os homens têm direto a experiências
sexuais e, por isso, o ato é inevitável. “É preciso compreender, entretanto,
que a violência sexual não é exclusiva de uma determinada classe social ou
nível de escolaridade, e, sim, está ligada à dominação de um gênero sobre o
outro”, observa Moraes.
O psiquiatra observa em seus
estudos que esses agressores são pessoas frágeis no enfrentamento da conquista
amorosa e nos relacionamentos. “Quando a mulher não lhe é receptiva, ele é
insistente na obrigação de estuprar, pois aprendeu que tem que se sobressair a
ela. Para o criminoso, o sexo é uma espécie de guerra que ele tem que vencer.
Há também um sentido selvagem, em que a mulher é tida como uma caça a ser
abatida”, comenta Moraes.
Estupro coletivo. Em casos como o
da adolescente do Rio de Janeiro, violentada por mais de 30 homens, fica
evidente a condução por algum tipo de líder, como o namorado da vítima que
estaria se vingando de uma suposta traição.
“Certamente tem alguém que
liderou esse grupo. Essa pessoa seria o motivador, e os outros são induzidos
por ele. Há aí uma espécie de ‘histeria coletiva’”, explica o psiquiatra
forense Guido Palomba. Ele também esclarece que, em todo crime, há questões
sociais envolvidas. “Não há dúvidas. Quem estupra tem uma personalidade
degenerada. Mas é preciso estudar os fatores sociais para entender a dinâmica
dos crimes”, comenta.
A médica e psicanalista Soraya
Hissa entende que há, além de um ‘coordenador’ do grupo, um fator motivacional
que levou os outros rapazes a perder a noção do viável em uma sociedade.
“Podemos falar, nesse caso, que há também um transtorno de conduta entre os
criminosos. Acredito que há outros dois fatores que inflamaram a atitude dos
rapazes: a possibilidade de sexo fácil e o desejo de vingança”.
Cérebro de agressor tem atrofia na área da emoção
A médica e psicanalista Soraya
Hissa aponta sinais de comportamento premeditado e sem senso de arrependimento
no estupro coletivo no Rio, o que pode ser caracterizado como Transtorno da
Personalidade Antissocial ou psicopatia. Semelhante ao rapaz que tentou atirar
na apresentadora Ana Hickmann na semana passada, para a especialista, esse caso
contou com uma organização prévia. “Quando o crime é planejado, com data, hora
e local para acontecer e com requintes de crueldade, pode-se falar em doença do
criminoso”, afirma.
A psicanalista esclarece que há
vários níveis de psicopatia, desde uma criança que prega uma “peça” só para o
seu prazer até uma pessoa criminosa. “O crime é o nível mais elevado da
psicopatia. Causar o sofrimento do outro por puro prazer, transferir a culpa
para vítima e não apresentar senso de arrependimento, são outros sintomas
disso”, interpreta.
Há estudos que mostram que o
cérebro de um psicopata possui diferenças. Há imagens que comprovam que a área
das emoções é reduzida, já a da razão é hipertrofiada. “Isso explica porque os
psicopatas são calculistas. Eles não são capazes de sentir emoções comuns aos
seres humanos”, finaliza.
Fonte: O Tempo
Nenhum comentário:
Postar um comentário