segunda-feira, 30 de maio de 2016

Estupradores têm deformação moral, mas poucos são doentes

Imagem divulgada no Twitter do estupro coletivo de uma menor no Rio
O estupro de uma adolescente de 16 anos por 33 homens no Rio de Janeiro chamou a atenção para como os crimes sexuais, cruéis a ponto de deixarem marcas emocionais perenes nas vítimas, ocorrem com uma frequência assustadora. A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no país, revelam dados do 9º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.


Mas, ao contrário do que se pensa, quem pratica o estupro não é necessariamente um doente mental, mas uma pessoa sem valores morais e éticos, afirmam especialistas em saúde psíquica.

Entre os traços comuns aos autores de crimes sexuais está o desprezo à condição humana das vítimas. Eles enxergam a mulher como um “alvo fácil” e, devido à falta de entendimento do que é socialmente aceitável, a violentam. “Essas pessoas apresentam uma deformidade educacional. O homem que abusa sexualmente de uma mulher tem convicção de que ela é uma propriedade dele, devido a uma distorção de valores. É um antagonismo emocional ao processo civilizatório normal. É preciso notar que o ser humano não é só um ser biológico. É um ser biológico e biográfico (com valores comportamentais)”, explica o psiquiatra forense, Talvane de Moraes.

Segundo ele, um dos pilares que sustentam a cultura do estupro é a ideia de que e os homens têm direto a experiências sexuais e, por isso, o ato é inevitável. “É preciso compreender, entretanto, que a violência sexual não é exclusiva de uma determinada classe social ou nível de escolaridade, e, sim, está ligada à dominação de um gênero sobre o outro”, observa Moraes.

O psiquiatra observa em seus estudos que esses agressores são pessoas frágeis no enfrentamento da conquista amorosa e nos relacionamentos. “Quando a mulher não lhe é receptiva, ele é insistente na obrigação de estuprar, pois aprendeu que tem que se sobressair a ela. Para o criminoso, o sexo é uma espécie de guerra que ele tem que vencer. Há também um sentido selvagem, em que a mulher é tida como uma caça a ser abatida”, comenta Moraes.

Estupro coletivo. Em casos como o da adolescente do Rio de Janeiro, violentada por mais de 30 homens, fica evidente a condução por algum tipo de líder, como o namorado da vítima que estaria se vingando de uma suposta traição.

“Certamente tem alguém que liderou esse grupo. Essa pessoa seria o motivador, e os outros são induzidos por ele. Há aí uma espécie de ‘histeria coletiva’”, explica o psiquiatra forense Guido Palomba. Ele também esclarece que, em todo crime, há questões sociais envolvidas. “Não há dúvidas. Quem estupra tem uma personalidade degenerada. Mas é preciso estudar os fatores sociais para entender a dinâmica dos crimes”, comenta.

A médica e psicanalista Soraya Hissa entende que há, além de um ‘coordenador’ do grupo, um fator motivacional que levou os outros rapazes a perder a noção do viável em uma sociedade. “Podemos falar, nesse caso, que há também um transtorno de conduta entre os criminosos. Acredito que há outros dois fatores que inflamaram a atitude dos rapazes: a possibilidade de sexo fácil e o desejo de vingança”.

Cérebro de agressor tem atrofia na área da emoção

A médica e psicanalista Soraya Hissa aponta sinais de comportamento premeditado e sem senso de arrependimento no estupro coletivo no Rio, o que pode ser caracterizado como Transtorno da Personalidade Antissocial ou psicopatia. Semelhante ao rapaz que tentou atirar na apresentadora Ana Hickmann na semana passada, para a especialista, esse caso contou com uma organização prévia. “Quando o crime é planejado, com data, hora e local para acontecer e com requintes de crueldade, pode-se falar em doença do criminoso”, afirma.

A psicanalista esclarece que há vários níveis de psicopatia, desde uma criança que prega uma “peça” só para o seu prazer até uma pessoa criminosa. “O crime é o nível mais elevado da psicopatia. Causar o sofrimento do outro por puro prazer, transferir a culpa para vítima e não apresentar senso de arrependimento, são outros sintomas disso”, interpreta.

Há estudos que mostram que o cérebro de um psicopata possui diferenças. Há imagens que comprovam que a área das emoções é reduzida, já a da razão é hipertrofiada. “Isso explica porque os psicopatas são calculistas. Eles não são capazes de sentir emoções comuns aos seres humanos”, finaliza.

Fonte: O Tempo

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