Os filhos de Angélica,
participante do Big Brother Brasil 15 eliminada nesta terça-feira (25),
deixaram de ir à escola depois que a mãe passou a sofrer ofensas racistas.
Enfermeira na vida real, Angélica foi bombardeada por nomes como “macaca”,
“galinha preta de macumba”, “eclipse” e outros ainda mais baixos. As crianças
ficaram sabendo dessa história e agora aprendem sobre racismo da pior maneira
possível.
Por Marcos Sacramento, do DCM
As agressões que traumatizaram os
meninos vieram das redes sociais, mas se os dois, de 7 e 4 anos, pudessem
entender o que se passa no programa teriam motivos adicionais para não querer
ir à escola, pois há tempos o BBB compila casos de racismo e outras formas de
discriminação.
A edição deste ano teve
comentários homofóbicos e racistas logo nos primeiros dias. No ano passado eles
também estiveram na casa. “Se eu não usar desodorante, fico com cheiro de
neguinha”, disse uma das participantes do BBB 2014. Outra competidora sugeriu
matar pacientes soropositivos para acabar com a AIDS. É preciso estar muito
imbecilizado por temporadas e mais temporadas de BBB para achar que as pérolas
preconceituosas dos “brothers” são casos isolados.
Em 2010, um concorrente deu uma
de especialista em infectologia e em bate-papo afirmou que “hétero não pega
Aids”. Foi neste ano que o MPF (Ministério Público Federal) fez uma série de
recomendações para que a Rede Globo fosse mais cuidadosa com o respeito aos
direitos humanos durante a exibição do reality show.
Uma delas dizia para “adotar
medidas preventivas necessárias para evitar a veiculação de práticas de
violações de direitos humanos, tais como tratamento desumano ou degradante,
preconceito, racismo e homofobia”.
Quem acha que as recomendações
foram seguidas acredita em qualquer coisa, até que o Big Brother é uma diversão
saudável. Mesmo depois do puxão de orelha do MPF as baixarias continuaram. Até
suspeita de estupro houve, em 2012.
Será que os editores do programa
imaginam que os disparates homofóbicos, racistas e fascistas inflam a
audiência? Difícil saber, mas a atitude de Pedro Bial após o anúncio da
eliminação de Angélica insinua que eles não tem muito interesse em
problematizar esses assuntos. Ao conversar com a mãe da ex-BBB, Bial perguntou
porque ela parecia feliz com a eliminação da filha. “Porque a gente estava sofrendo demais aqui
fora com o racismo”, respondeu a mulher.
Bial interrompeu a entrevista e
mudou de assunto na hora. BBB, definitivamente, não é lugar para reflexões.
Resta torcer para que o prestígio
do BBB continue caindo e ele saia logo do ar, para poupar os pequenos Luiz
Otavio e Vinícius, filhos da Angélica, e outras tantas crianças dos discursos
de ódio na televisão.
Sobre o Autor
Marcos Sacramento, capixaba de
Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde
então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV
ruins.
Fonte: Geledés
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