A jornalista e blogueira Nádia Lapa, que sofreu assedio em
redes sociais
Há dois anos, quando deu uma
entrevista na TV, a escritora Nádia Lapa, 35, leu ofensas no Twitter como “quem
teve coragem de comer essa mulher?”. Ela considera que esses são “xingamentos
até leves”, mas que é “muito ruim quando são milhares de pessoas falando isso”.
Lapa criou em 2011 o blog Cem
Homens, espaço em que relatava sua vida sexual com o pseudônimo Letícia F..
“Eu recebia propostas de sexo e fotos de pênis
por e-mail. Nos comentários do blog, eu era chamada de ‘depósito de DST’ e
desejavam que eu morresse”, lembra.
Nos Estados Unidos, um “troll”
–como são chamados usuários anônimos mal-intencionados– criou um perfil falso
no Twitter para ofender a escritora feminista Lindy West, que ganhou projeção
na internet ao criticar piadas sobre estupro.
O caso foi o estopim para o
presidente-executivo do Twitter, Dick Costolo, admitir que a plataforma é
péssima (em inglês, disse “we suck”) em lidar com esse tipo de abuso.
“Não é nenhum segredo, e o resto
do mundo fala sobre isso todo dia”, disse no começo do mês em um comunicado aos
funcionários.
Dolores Aronovich, 47, professora
da Universidade Federal do Ceará (UFC), diz acreditar que o Twitter está se
preocupando um pouco mais com a misoginia. Ela cita a parceria feita em
novembro entre a empresa e a ONG Women, Action & Media para aprimorar a
apuração das denúncias de assédio.
Aronovich é autora do blog
feminista Escreva, Lola, Escreva, com cerca de 200 mil acessos mensais. Desde
2011, recebe ameaças de estupro e morte vindas de homens.
“Publicam meu endereço e meu
telefone na internet e fotos da minha casa que eles tiram do Google”, relata.
Em dezembro, as ameaças
ultrapassaram a fronteira da internet. Logo após publicar no Twitter que havia
voltado de uma viagem, a professora recebeu ligações com ameaças de morte em
sua casa.
“Qualquer mulher que se destacar
na internet vai ser ameaçada de estupro”, diz. “Infelizmente, a internet
reflete a misoginia que existe na sociedade.”
A jornalista Juliana de Faria,
autora do blog Think Olga e idealizadora da campanha Chega de Fiu Fiu, sobre
assédio às mulheres nas ruas, confirma a sentença. Ela diz ter recebido “pelo
menos mil e-mails” de ameaças após a divulgação de uma pesquisa sobre o
assunto.
ELAS SOFREM MAIS
Mulheres jovens são as que mais
sofrem perseguição e assédio na internet, segundo pesquisa do instituto
americano Pew Research Center publicada em outubro do ano passado. No estudo,
25% das mulheres entre 18 e 24 anos reportaram terem sido assediadas. Entre os
homens, o número cai para 13%.
“A internet é um lugar violento.
Homens também sofrem, mas a mulher, muito mais”, avalia Faria.
A hostilidade à presença de
mulheres em espaços virtuais não se limita a debates feministas. A servidora
pública Lidiany Santos, 27, sofreu as consequências por escrever sobre temas
considerados masculinos.
Em 2010, ela criou o site Game of
Thrones BR (sobre o seriado de aventura homônimo), que se tornou uma referência
sobre o programa no país. Homens e mulheres colaboram para o site, porém Santos
notou que os comentários nos textos de mulheres eram mais agressivos e incluíam
xingamentos.
“Já foram até o meu marido
sugerir que ele me calasse”, afirma Santos.
Calá-la é o objetivo das ameaças,
na visão da professora da UFC.
“Vou continuar combatendo essa
gente, e por meio dessa atitude empoderar outras mulheres que ficam com medo,
porque [passar por] isso é muito comum.”
Fonte: Folha de SP
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