Meninas de 11 anos são cooptadas
por grupos paramilitares, sequestradas, traficadas e abusadas sexualmente.
Organizações de direitos humanos
acusam grupos paramilitares da Colômbia de traficarem e explorarem sexualmente
crianças e adolescentes.
A sociedade civil pede medidas efetivas do Estado no
combate a essa ameaça contra a infância. O grupo narco "Clã Úsuga” (antigo
Urabeños), sob o comando de Dairo Antonio Úsuga David (Otoniel), seria o
principal captador de meninas.
Segundo a delegada para a
Infância e Adolescência da Defensora Pública da Colômbia, María Cristina
Hurtado, em entrevista à revista Semana, "constata-se, como muita dor, que
meninas entre 11, 12 e 13 anos são sequestradas por parte de grupos armados,
com fins de exploração sexual. Estão sujeitas a diferentes tipos de violação a
sua integridade e a sua dignidade sexual, que vão desde acesso carnal, abuso
sexual, aborto forçado, gravidez forçada e contágio e infecções por transmissão
sexual”.
As meninas são provenientes de
famílias de camponeses, que vivem em extrema pobreza nas zonas rurais dos
municípios de Urabá antioquenho (região costeira de Antioquia) e chocoano
(Departamento de Chocó). Os grupos se aproveitariam das necessidades econômicas
dos camponeses, pressionando pela entrega das meninas. Não ceder à pressão é
uma sentença de morte.
Para María Cristina, "os
delitos sexuais podem ser levados à Corte Internacional porque são crimes de
guerra, que se agravam mais quando recaem sobre meninas menores de 14 anos.À
luz dos direitos humanos, uma menina de 11, 12 anos ao pedir para ter relações
sexuais, jamais se entenderá que sua vontade legitima o delito sexual”.
Grupos do narcotráfico têm
migrado sua atuação para o tráfico de pessoas, tendo em vista a lucratividade
do "negócio”. São redes organizadas nas mesmas rotas do tráfico de drogas,
atuando em 168 municípios colombianos. A Defensoria Pública denomina-os de
grupos "pós-desmobilizados”.
Otoniel é o chefe do temido grupo
criminoso Clã Úsuga, a maior e mais estruturada organização paramilitar da
Colômbia na atualidade, com cerca de 2.300 integrantes. O Clã é acusado por
narcotráfico internacional, cujas operações se estenderiam ao Brasil,
Argentina, Peru, Espanha e Honduras. Atividades ilícitas como extorsão,
mineração ilegal, deslocamento forçado, homicídio e porte de armas também
estariam vinculadas ao grupo, que é parte dos grupos criminosos emergentes
(Bacrim).
O governo colombiano já anunciou
a recompensa de $ 1.5 milhão de pesos por informações que permitam a captura de
Otoniel e de outros cabeças da organização. Os Estados Unidos propõem o valor
de US$ 5 milhões como recompensa. Mais de 1.200 membros de grupos de elite
estão envolvidos na captura de Otoniel. Número superior à operação de buscas
pelo narcotraficante colombiano Pablo Escobar, que dispunha, à época, na década
de 1980, de 500 homens.
Os paramilitares vivem
pressionando e impondo seu controle econômico, social e político na região sul
do Departamento de Bolívar: em Ventura, Dos Bocas, Quebrada del Medio, Malena,
Río Nuevo, Caño Guacamayo, na aldeia Tigre y Coco (Município de Tiquisio - Sul
de Bolivar). Da mesma forma, no município de Monte Cristo e Pueblito Mejía,
controlam a economia e cobram impostos dos pequenos comerciantes, criadores de
gado, pescadores, garimpeiros, madeireiros, transportadores e agricultores. De
acordo com relatos, o grupo realiza o cultivo ilícito de coca para o
narcotráfico que controla. A partir dos acampamentos de Río Nuevo convocam as
comunidades do setor de mineração de Mina Seca, Casa de Barro, Las Nieves, Mina
Brisa e Buena Seña, para as extorquirem de acordo com atividade desenvolvida
por cada pessoa.
A estratégia paramilitar segue
ativa na Colômbia. Uma alta taxa de crimes sexuais permanece impune. As
organizações de direitos humanos chamam à responsabilidade o governo colombiano
e questionam como se deve evitar que crianças e adolescentes sejam um número
crescente de vítimas.
Confira o vídeo em espanhol, da
Revista Semana - "As escravas sexuais de Otoniel”:
Fonte: Adital
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