O perfil das mulheres admitidas como moradoras é bastante
específico: elas devem ser – ou ter exercido a função de – profissionais do
sexo, ter idade acima de 55 anos e não contar com o apoio familiar ou de
programas sociais.
O único abrigo do mundo para
profissionais do sexo em idade avançada fica na Cidade do México. Com quase dez
anos de existência, a Casa Xochiquetzal luta para levar o projeto adiante.
Xochiquetzal é a deusa asteca da
beleza, do prazer e da fertilidade. Ela dá nome a uma casa peculiar no centro
histórico da Cidade do México. Próximo ao bairro de Tepito, e da zona de
prostituição da capital mexicana, encontra-se o único abrigo do mundo dedicado
ao atendimento de profissionais do sexo em idade avançada.
Na casa, as mulheres têm
atividades fixas para "dar estrutura a suas vidas, uma vez que estão
acostumadas a ficar nas ruas sem saber se vão poder comer, conseguir algum
cliente ou passar a noite em segurança", conta a diretora. As moradoras
seguem horários fixos para comer, limpar os quartos, atender às oficinas, sair
para passeios e fazer exercícios no parque.
Em 2005, prostitutas da região
propuseram a criação de um abrigo para suas colegas e ex-colegas mais velhas,
que careciam de contatos familiares e sociais e viviam nas ruas.
Um ano mais tarde, com o apoio de
organizações civis e instituições do governo, além de feministas como a
escritora Elena Poniatowska, a Casa Xochiquetzal abriu as portas em pleno
coração da capital mexicana. Desde então, cerca de 400 mulheres já foram
atendidas no local.
No espaço, que abriga atualmente
24 ex-prostitutas entre 56 e 83 anos de idade, as mulheres encontraram não
apenas um lar onde recebem comida e abrigo, mas também uma família e um lugar
na sociedade.
Oásis no centro da capital
"Trabalhamos com pessoas que
requerem nossa atenção e carinho. Por isso, devemos nos entregar de coração,
pois esta é a casa delas. Estamos aqui apenas como visitantes e devemos
tratá-las com todo o respeito", afirma Jesica Vargas González, diretora da
Casa Xochiquetzal.
A diretora da casa, Jesica Vargas
González, descreve as moradoras do local como "guerreiras e lutadoras,
donas de um apreço incrível pela vida". Apesar de todas as adversidades,
elas sempre enfrentam a vida e os problemas de cabeça erguida, afirma.
Quando González fala sobre o
albergue, nota-se a paixão que a jovem diretora sente pelo projeto. "Quem
passa pela porta da Casa Xochiquetzal, entra, literalmente, num outro mundo. É
um oásis. Quando se começa a conhecer as senhoras, a conversar, elas te
conquistam. São realmente mulheres excepcionais", diz. Ela chegou ao local
em 2008, com a intenção de trabalhar como voluntária. Mas o contato com as
moradoras a deixou tão fascinada que resolveu ficar. Quatro anos mais tarde,
ela assumiria o cargo de diretora.
Todas as 24 mulheres que vivem na
Casa Xochiquetzal contam com um quarto e uma cama, além de receber três
refeições por dia. Muitas delas viviam nas ruas e encontraram no abrigo seu
primeiro lar em muitos anos.
Todos os dias, a jovem luta para
levar o projeto adiante. "É um trabalho em tempo integral. As moradoras
não são pessoas fáceis, porque quando estavam do lado de fora, se viam como
concorrentes. Por isso, aqui dentro podem acontecer muito conflitos de
convivência. Com frequência temos que lhes dar aconselhamento, conversar com
elas sobre valores como companheirismo, amizade, respeito mútuo, etc",
explica a diretora.
Um dos maiores desafios é
conseguir doações para cobrir as despesas da casa. "Houve uma época em que
estávamos no vermelho, devíamos salários às pessoas que trabalham aqui, não
havia dinheiro para comida ou para o gás. Passamos quase um ano sem cobrar um
centavo, eu mesma tive que vender doces, ou o que pudesse, para pagar minhas
passagens para poder vir ao trabalho", conta a diretora. "O fiz
porque sei que elas precisam de mim, assim como eu preciso delas. Acabamos
formando uma família, uma comunidade."
O objetivo da Casa Xochiquetzal é
oferecer um espaço digno às profissionais do sexo na terceira idade. Além de
moradia e alimentação, as mulheres também recebem cuidados médicos,
psicológicos e assessoria jurídica.
Um projeto para a posteridade
González critica o "machismo"
e a "dupla moral" da sociedade mexicana. Por um lado, diz, os
clientes buscam os serviços das profissionais do sexo, por outro, não as
apoiam.
"A maioria das mulheres que
aqui estão foram rejeitadas por seus filhos. Elas lhes deram uma formação,
muitos deles são profissionais formados, possuem boas condições financeiras,
tudo graças a elas. Mas quando souberam que suas mães eram profissionais do
sexo eles as renegaram e esqueceram", afirma.
A diretora se orgulha dos quase
dez anos de existência da Casa Xochiquetzal. "Isso surgiu do nada e hoje é
algo concreto. Lutamos todos os dias para que não fique como um mais projeto
que um dia existiu, mas que permaneça para a posteridade, porque o trabalho
sexual não vai terminar."
Fonte: http://www.dw.de/
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