A adoção de manequins com corpo mais atlético, beirando o
bombado, começou há dois anos, durante os preparativos para Copa do Mundo.
A mudança do padrão de corpo
idealizado por mulheres frequentadoras de academias chegou às vitrines de
lojas. Não nas roupas, mas nas próprias manequins usadas para expor camisetas,
tops e shorts. Antes longilíneas, as modelos agora exibem braços musculosos,
pernas grossas e abdome definido.
"A vitrine estampa o que
está nas ruas e no imaginário das mulheres", reconhece Suyanne Delfino,
gerente comercial da Expor Manequins, fábrica fornecedora de modelos para
vitrines de pelo menos três marcas de roupas esportivas do País. "As
marcas já perceberam. A consumidora quer que manequim seja reflexo de seu maior
desejo: definição de músculos", completa.
A adoção de manequins com corpo
mais atlético, beirando o bombado, começou há dois anos, durante os preparativos
para Copa do Mundo. A aposta nesse novo padrão ganhou força e se mantém, agora
de olho nas Olimpíadas. As medidas de braços e pernas aos poucos foram
aumentando. A cintura, antes muito fina, começou a ficar mais próxima daquela
apresentada por mulheres que fazem regularmente atividade física.
As medidas não são escolhidas ao
acaso e refletem corpos de manequins mulheres atletas, que são recrutadas como
modelos. "Tudo é feito com scanner e impressora 3D", diz. "As
medidas são tiradas em várias posições, simulando práticas esportivas. Porque
atualmente os manequins também não está estáticos. São expostos nas lojas
simulando a prática de exercícios físicos."
A busca por um corpo mais
atlético também é notada por preparadores físicos e nutricionistas. "O
pedido número um das alunas era ficar magra. Agora é ficar forte", diz o
personal trainer Marco Maia. Num primeiro momento, a busca era exagerada.
"Elas queriam coxas muito grandes, quase masculinas. Algo que dificilmente
é possível alcançar naturalmente", conta.
A febre por um corpo muito
musculoso deu lugar, agora, ao corpo atlético. "É mais saudável, mais
bonito", diz Maia. O nutricionista Clayton Camargos concorda.
"Encontramos agora o meio-termo, em que o mais importante não é seguir um
padrão, mas alcançar saúde, harmonia no corpo", afirma.
A mudança, refletida nas
manequins exibidas em loja de esporte, sucede dois extremos considerados
perigosos pelo nutricionista. O mais recente - e que, embora já esteja
definhando, ainda é encontrado - das mulheres superlativas, com músculos e
todas as medidas avantajadas. "Ele foi uma reação a outra onda igualmente
perigosa, das mulheres muito magras, a beira de um quadro de anorexia",
recorda.
Maia conta que o esforço
necessário para tentar convencer suas alunas a buscar dimensões menores era tão
grande quanto o que elas mobilizavam para levantar as pesadas cargas na
academia. "Algumas colegas recorriam a tudo para ter aquele coxão, o
abdome de tanquinho: horas de exercícios, implantes de hormônios enzimas",
diz a advogada Gabriele Parreira Lopes, de 30 anos, aluna de Maia.
Contrário a esse tipo de
estratégia, o preparador diz que o resultado, além de muitas vezes
esteticamente chocante, é perigoso. "A lista de efeitos colaterais é
enorme, não vale a pena."Os riscos para aquelas que querem aumentar de
forma excessiva as medidas existem mesmo quando não se apela para o uso de
hormônios. "As cargas excessivas, o treino muito longo pode provocar
lesões", diz.
Embora mais natural, o corpo
definido também não é fácil de ser alcançado. "É preciso fazer exercícios
certos, alimentar-se da maneira adequada", diz Camargos. A psicóloga Carla
Gomes conta que o investimento é de longo prazo. Depois de três gestações em
menos de quatro anos, ela resolveu, em 2013, mudar a rotina, adotar um cardápio
mais balanceado. "Essa retomada não foi muito difícil. Cresci num ambiente
em que sabia que não podia comer tudo, o tempo todo. Sempre tive em mente a
moderação, a busca pela saúde", diz. A mudança, disse, veio aos poucos.
"Quando as pessoas me perguntam hoje o que ando fazendo, digo: não é de
hoje, não consegui do dia para noite", diz.
Tanto Camargos quanto Maia
afirmam que o mais importante é o bem estar sem ter um modelo de corpo em
mente. "Não importa se quadril é largo, se a perna é assim ou assado. O
importante é trabalhar de forma que tudo fique bem, saudável, harmonioso",
avalia o nutricionista.
Fonte: Estado de Minas
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