A maioria das denúncias que
chegam pelo telefone 180 sobre violência contra a mulher é de casos de agressão
física. De acordo com levantamento da Secretaria de Políticas para as Mulheres
da Presidência da República que divulgado nesta sexta-feira (6), dos
52.957 relatos de violência recebidos em 2014, 27.369 (51,98%) são de mulheres
agredidas com socos, tapas, mordidas, pontapés, queimaduras, entre outros.
Nesse item, segundo dados da
pasta, não entram casos como violência sexual, psicológica, moral, cárcere
privado, tráfico de pessoas, entre outros que são recebidos diariamente pelo
disque-denúncia.
Ao todo, foram 485.105 ligações
feitas em 2014. O Ligue 180 foi criado em 2005 e é um canal feito com amparo na
Lei Maria da Penha e que ajuda a orientar e encaminhar as vítimas para
atendimento judicial e policial. A ligação é gratuita e a vítima não precisa se
identificar.
Muitas mulheres, no entanto,
ainda não tem conhecimento sobre esse canal de comunicação. Foi pensando nisso,
que o Instituto Avon pensou em uma campanha para ajudar as mulheres próximo ao
Dia Internacional da Mulher, celebrado no próximo domingo (8).
A empresa lançou 'cosméticos
fakes' que receberam o nome de 'linha 180'. Como as revistinhas normais para
comprar produtos de beleza, o catálogo tem mulheres lindas só que as maquiagens
são invisíveis para mostrar às mulheres que a violência não pode ser maquiada
nem com base, corretivo ou batom, ou seja, a violência não pode ser escondida.
A diretora de comunicação da
Avon, Rosana Marques, explica que as 1,6 milhão de revendedoras vão receber o
'novo catálogo' e passar por um treinamento para que ajudem a identificar os
casos de violência doméstica quando entram na casa de suas clientes. "A
ideia é elas tenham conhecimento sobre a Lei Maria da Penha e saibam como o 180
pode ajudar as vítimas de violência doméstica", comenta.
A vendedora de cosméticos
Fernanda Oliveira, 40, por exemplo, foi uma delas. Ela achava que violência
doméstica era apenas quando a mulher tinha hematomas visíveis.
"Não achava que o marido
gritar, humilhar, também era um tipo de violência. Não sabia, assim como muitas
amigas, que existia o 180 e que estamos amparadas por lei", comenta
Fernanda, que passou um treinamento em Fortaleza (CE). Casada e mãe de três
filhos, ela agora passou a ajudar outras mulheres, suas clientes, divulgado o
disque-denúncia.
A apresentação do projeto foi
feito na manhã desta quinta-feira (5) na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e contou
com a presença de grupos feministas que participaram de um debate. O professor
e especialista em organizações da FGV, Rafael Alcadipani, diz que as mulheres
têm muita dificuldade em reconhecer a violência e a denunciá-la.
Ao estudar casos denunciados à
polícia, ele citou um de uma jovem executiva que foi sequestrada. Durante o
cárcere privado, que durou quase dois meses, ela foi abusada sexualmente.
"Ela falou tudo para a
polícia, mas na hora do caso ir para a Justiça ela pediu para omitir o abuso
sexual. Para ela, o noivo acharia que era corno e poderia largá-la. Preferiu
abrandar a acusação contra os próprios estupradores com medo de ser julgado
pelo noivo", disse o professor para exemplificar que os casos de violência
contra a mulher atingem todas as classes sociais.
Fonte: O Tempo
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