"Quero te dar um pega. Ela
não falou nada, aí eu falei VOU PEGAR. Botei a mãe de santo de quatro, arriei a
saia da mãe de santo e segurei ela pela nuca [...]. Tô sapecando a mãe de santo
e ela 'pa... para' [...]. Cara, eu fiz tanta pressão na nuca dela que ela
DORMIU". Finaliza aos aplausos e risos da platéia composta, também, por
mulheres.
Por Roberto Tavares
Assim Alexandre Frota descreve
uma suposta aventura sexual, supostamente engraçada, com uma mãe de santo que
lhe atendia. Uma "aventura" que não contou com qualquer consentimento
- muito pelo contrário, houve um pedido para que parasse -, e que dependeu de
imobilização física para que ocorresse. As cenas foram ao ar, originalmente, em
maio do ano passado, e foram reprisadas na semana passada pela Band, sem que
ninguém da emissora percebesse o que foi dito ali. A declaração, aparentemente,
passou batida por todo este tempo.
Algumas pessoas talvez não
entendam, mas isto não é uma aventura sexual. Isto é um ESTUPRO, com todas as
letras, e que talvez só tenha sido contado agora porque o crime já tenha
prescrito. Nem a plateia, em êxtase, nem o apresentador, questionaram em qualquer
momento sobre a coação imposta antes e durante o ato, e até mesmo o fato de, em
momento algum, aquela mulher ter concordado com o ato sexual.
Talvez aquela plateia pensasse
que, se ela não gritou e lutou contra ele, é porque ela queria aquilo tudo. E se
queria, ele apenas realizou a fantasia sexual de ambos. É isto que o machismo
diário, aquele que nos é apresentado ainda na infância e que tenta nos
influenciar por toda a vida, nos induz a pensar. Afinal, a culpa é sempre da
vítima: ou porque tinha um "bundão", como disse Frota, ou porque não
lutou contra aquele estupro. A mesma lógica não vale quando, por exemplo, uma
pessoa é assaltada e não reage; neste caso, ela não deu seus pertences
voluntariamente ao ladrão, ela foi assaltada.
E, para coroar o show de
horrores, um "ô filha da puta, levanta aí", já que, além da agressão
física e sexual, ela ainda precisava se levantar e mostrar às amigas de Frota,
que estavam do lado de fora, que tudo estava bem. Não, não estava, Frota. Ainda
que esta história seja mentira, contada apenas para entreter, ele a contou.
Apresentou um estupro como algo banal, o sexo não-consensual como algo
plenamente aceitável, fez pouco do povo de santo e dos demais adeptos de
religiões de matriz africana e foi apoiado e aplaudido por tudo isto.
E não, não há nada engraçado em
um crime tipificado no artigo 213 do Código Penal, com pena de reclusão de seis
a dez anos.
Fonte: http://oquetodomundoquerfalar.blogspot.com.br/
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