Nesse universo de vítimas, as
mulheres sofrem violências mais graves que homens. 44% dos homens jovens (18-24
anos) foram os que mais sofreram, contra 37% delas. Porém, foram as moças com
idades entre 18 e 24 anos que viveram os episódios mais graves: 7% delas
sofreram ofensas sexuais, contra 3% deles; 9% das mulheres foram “stalkeadas”
(perseguidas na internet), enquanto só 6% dos homens reportaram o mesmo.
O dado foi descoberto em uma
pesquisa do instituto Pew Research, que entrevistou 2.839 internautas por um
formulário online. Desses, 40% afirmaram ter sido vítimas de agressões,
enquanto 75% afirmaram já terem visto alguém receber ofensas online.
Os dados não estão muito
diferentes da realidade offline. “As mulheres sofrem mais violência no mundo
virtual porque sofrem mais no mundo real. O mundo virtual reflete, sobretudo, a
desigualdade de gêneros e está mostrando o que vivemos em termos coletivos, de
uma violência moralizante”, analisa a psicóloga Marissa Sanabria, conselheira
da Comissão de Mulheres e Questões de Gênero do Conselho Regional de
Psicologia.
Uma das vítimas de ofensas na web
foi a blogueira G.F., 29, que não quis ser identificada. Um amigo seu viajou de
férias para um país estrangeiro, onde conheceu uma nativa e começou a
namorá-la. G. F. curtiu uma foto do moço e, pronto, estava formada a confusão.
“Ela (a namorada) veio no meu
Facebook e disse para eu ficar longe dele”, relata. A moça ainda pediu para os
amigos adicionarem G. F. nas redes sociais e tirarem satisfação. O estrago só
não foi grande porque G. F. agiu rápido. “Não fizeram muita algazarra porque
saí bloqueando e excluindo ‘geral’”, diz.
Reação. Bloquear e excluir os
agressores foi a reação de 44% das vítimas. Outros 46% responderam ao agressor,
enquanto 22% denunciaram a pessoa para o próprio site. Já 5% precisaram
reportar as ofensas às autoridades legais, e 8% pararam de frequentar certos
lugares e eventos no mundo real.
Tentar resolver a questão
diretamente com o agressor é o conselho que dá o pesquisador Luiz Fernando
Moncau, gestor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio. “Caso
ela continue, pode-se verificar se há algum limite legal que está sendo
infringido”, recomenda.
Fonte: O Tempo
Relatório detalha em números explosão de preconceito na internet em
2014
Se a internet é um espelho da
sociedade, está difícil encarar nossa própria imagem de frente. O número de
denúncias de racismo e preconceito de origem — sobretudo contra nordestinos e
nortistas — disparou no ano passado, segundo relatório da ONG SaferNet
divulgado nesta terça-feira, Dia da Internet Segura. Mais de 86,5 mil casos de
ódio a negros e outras etnias foram relatados em 17.291 sites, aumento de
34,15% em relação a 2013. Mas foi o cômputo de menções ofensivas a pessoas do
Nordeste que viveu uma explosão: 365,46% de crescimento, com 9.921 casos em 6.275
endereços. As páginas denunciadas por todos os tipos de crime somaram 58,717,
ou 8,29% mais do que no ano anterior. Delas, algo mais que 7 mil foi retirado
do ar.
As eleições presidenciais e a
Copa do Mundo tiveram forte influência nos números, segundo a ONG. O pleito
presidencial, do qual saiu vencedora Dilma Rousseff, com expressiva votação
Nordeste, teve recorde de preconceito de origem. Já o Mundial de futebol se
destacou pelo total de denúncias de tráfico de pessoas, outro dos crimes
monitorados. Em 2014, 1.821 sites foram associados à questão, crescimento de
192,93% em relação a 2013.
— No dia após as eleições,
processamos 10.376 casos de preconceito de origem, a maioria contra pessoas do
Norte e do Nordeste — afirma Thiago Tavares, presidente da SaferNet. — Antes,
durante a Copa do Mundo, registramos muitos casos de páginas de aliciamento de
mulheres, inclusive adolescentes, para a prostituição nas cidades que sediaram
o evento.
Para além dos picos relacionados
ao evento, o que a explosão no número de denúncias evidencia é o preconceito
social e racial profundamente arraigado entre os brasileiros, avaliam
especialistas no problema.
— O fenômeno das redes sociais
jogou luz sobre um comportamento que sempre existiu no Brasil — analisa Diana
Calazans Mann, chefe da unidade de Repressão aos Crimes de Ódio e Pornografia
Infantil da Polícia Federal. — Nossa cultura é de violência, de discriminação.
Antes da internet era mais fácil ocultar o racismo, mas a rede ecoa essa faceta
da nossa sociedade. Os internautas precisam entender que a liberdade de
expressão tem limites, e um deles é a lei que define os crimes de preconceito.
ATAQUES À MISS CEARENSE
O preconceito contra nordestinos
não se restringiu à corrida eleitoral. Fato marcante no ano que passou foi a
enxurrada de ataques à Miss Brasil, Melissa Gurgel, natural do Ceará. Após sua
vitória, internautas encheram as redes sociais com mensagens discriminatórias.
“Miss Ceará é bonita até abrir a boca e vir aquele sotaquezinho sofrível”,
escreveu usuário do Twitter, um entre milhares que a ofenderam na época.
O cenário preocupante leva a
SaferNet e a Polícia Federal a bolar estratégias para monitorar a rede. Durante
os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, haverá uma coordenação especial
para coibir crimes cibernéticos, sobretudo associados a tráfico de pessoas e
xenofobia.
— O fenômeno é extremamente
negativo, mas o fato de as denúncias terem aumentado mostra que o cidadão está
atento — diz Rodrigo Nejm, diretor de Educação da SaferNet. — No caso do
tráfico de pessoas, o problema é que existem aliciadores que enganam as
vítimas, ocultando a prostituição.
A pornografia infantil continua
liderando, pelo nono ano consecutivo, o ranking por número de páginas
denunciadas. Em 2014, foram 51.553 comunicações de crime, em 22.789 endereços
na internet, dos quais 3.283 foram removidos. Apesar disso, o resultado é
comemorado, pois houve uma queda de 8,82% em relação ao ano anterior.
CASOS DE ‘SEXTING’ DOBRAM
Por outro lado, entre os 1.225
pedidos de orientação psicológica que chegaram à SaferNet, 222 eram
relacionados ao vazamento de fotos íntimas. O aumento desse tipo de ocorrência
foi de 119,8%. As vítimas do chamado sexting são, em sua maioria, do sexo
feminino (81%) e com até 25 anos (53%), sendo que um em cada quatro casos
envolveu menores. Os casos de cyberbullying foram 177, a maioria com pedidos de
ajuda para lidar com situações de humilhações repetitivas pelas redes sociais.
No ano passado, os aplicativos de
troca de mensagens anônimas, como o Secret, viraram febre no país. Após
inúmeros casos de bullying e vazamento de fotos íntimas de menores, eles
chegaram a ser proibidos pela Justiça.
Aliás, o aumento no volume de
denúncias foi acompanhado pelo incremento nas ações de repressão pelo governo.
Diana explica que a principal mudança foi a unificação das unidades de crimes
contra os direitos humanos e de crimes cibernéticos, que trouxe ferramentas
mais sofisticadas para as investigações.
Dessa forma, a Polícia Federal
lançou no ano passado, pela primeira vez, uma operação contra a pedofilia na
chamada web profunda, que resultou na prisão de 54 pessoas.
Hoje, a PF tem cerca de 2.780
inquéritos abertos relacionados aos crimes cibernéticos. O objetivo, explica
Diana, é que os internautas comecem a perceber que há punição em tais
situações. O aparente anonimato não existe, nem mesmo na web profunda. Ano
passado, 126 pessoas foram presas em flagrante, contra apenas 47 em 2012.
— O nosso foco é o uso de
ferramentas de inteligência. Os criminosos se sofisticam, mas nós também.
Estamos conseguindo pegar o criminoso no momento em que o delito é cometido, o
que facilita a fase processual para a condenação — diz Diana.
Fonte: O Globo
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