sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Pesquisa aponta que mulheres sofrem agressões mais graves no ambiente online

Nesse universo de vítimas, as mulheres sofrem violências mais graves que homens. 44% dos homens jovens (18-24 anos) foram os que mais sofreram, contra 37% delas. Porém, foram as moças com idades entre 18 e 24 anos que viveram os episódios mais graves: 7% delas sofreram ofensas sexuais, contra 3% deles; 9% das mulheres foram “stalkeadas” (perseguidas na internet), enquanto só 6% dos homens reportaram o mesmo.

O dado foi descoberto em uma pesquisa do instituto Pew Research, que entrevistou 2.839 internautas por um formulário online. Desses, 40% afirmaram ter sido vítimas de agressões, enquanto 75% afirmaram já terem visto alguém receber ofensas online.
Os dados não estão muito diferentes da realidade offline. “As mulheres sofrem mais violência no mundo virtual porque sofrem mais no mundo real. O mundo virtual reflete, sobretudo, a desigualdade de gêneros e está mostrando o que vivemos em termos coletivos, de uma violência moralizante”, analisa a psicóloga Marissa Sanabria, conselheira da Comissão de Mulheres e Questões de Gênero do Conselho Regional de Psicologia.

Uma das vítimas de ofensas na web foi a blogueira G.F., 29, que não quis ser identificada. Um amigo seu viajou de férias para um país estrangeiro, onde conheceu uma nativa e começou a namorá-la. G. F. curtiu uma foto do moço e, pronto, estava formada a confusão.

“Ela (a namorada) veio no meu Facebook e disse para eu ficar longe dele”, relata. A moça ainda pediu para os amigos adicionarem G. F. nas redes sociais e tirarem satisfação. O estrago só não foi grande porque G. F. agiu rápido. “Não fizeram muita algazarra porque saí bloqueando e excluindo ‘geral’”, diz.

Reação. Bloquear e excluir os agressores foi a reação de 44% das vítimas. Outros 46% responderam ao agressor, enquanto 22% denunciaram a pessoa para o próprio site. Já 5% precisaram reportar as ofensas às autoridades legais, e 8% pararam de frequentar certos lugares e eventos no mundo real.

Tentar resolver a questão diretamente com o agressor é o conselho que dá o pesquisador Luiz Fernando Moncau, gestor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio. “Caso ela continue, pode-se verificar se há algum limite legal que está sendo infringido”, recomenda.

Fonte: O Tempo

Relatório detalha em números explosão de preconceito na internet em 2014

Se a internet é um espelho da sociedade, está difícil encarar nossa própria imagem de frente. O número de denúncias de racismo e preconceito de origem — sobretudo contra nordestinos e nortistas — disparou no ano passado, segundo relatório da ONG SaferNet divulgado nesta terça-feira, Dia da Internet Segura. Mais de 86,5 mil casos de ódio a negros e outras etnias foram relatados em 17.291 sites, aumento de 34,15% em relação a 2013. Mas foi o cômputo de menções ofensivas a pessoas do Nordeste que viveu uma explosão: 365,46% de crescimento, com 9.921 casos em 6.275 endereços. As páginas denunciadas por todos os tipos de crime somaram 58,717, ou 8,29% mais do que no ano anterior. Delas, algo mais que 7 mil foi retirado do ar.

As eleições presidenciais e a Copa do Mundo tiveram forte influência nos números, segundo a ONG. O pleito presidencial, do qual saiu vencedora Dilma Rousseff, com expressiva votação Nordeste, teve recorde de preconceito de origem. Já o Mundial de futebol se destacou pelo total de denúncias de tráfico de pessoas, outro dos crimes monitorados. Em 2014, 1.821 sites foram associados à questão, crescimento de 192,93% em relação a 2013.

— No dia após as eleições, processamos 10.376 casos de preconceito de origem, a maioria contra pessoas do Norte e do Nordeste — afirma Thiago Tavares, presidente da SaferNet. — Antes, durante a Copa do Mundo, registramos muitos casos de páginas de aliciamento de mulheres, inclusive adolescentes, para a prostituição nas cidades que sediaram o evento.

Para além dos picos relacionados ao evento, o que a explosão no número de denúncias evidencia é o preconceito social e racial profundamente arraigado entre os brasileiros, avaliam especialistas no problema.

— O fenômeno das redes sociais jogou luz sobre um comportamento que sempre existiu no Brasil — analisa Diana Calazans Mann, chefe da unidade de Repressão aos Crimes de Ódio e Pornografia Infantil da Polícia Federal. — Nossa cultura é de violência, de discriminação. Antes da internet era mais fácil ocultar o racismo, mas a rede ecoa essa faceta da nossa sociedade. Os internautas precisam entender que a liberdade de expressão tem limites, e um deles é a lei que define os crimes de preconceito.

ATAQUES À MISS CEARENSE

O preconceito contra nordestinos não se restringiu à corrida eleitoral. Fato marcante no ano que passou foi a enxurrada de ataques à Miss Brasil, Melissa Gurgel, natural do Ceará. Após sua vitória, internautas encheram as redes sociais com mensagens discriminatórias. “Miss Ceará é bonita até abrir a boca e vir aquele sotaquezinho sofrível”, escreveu usuário do Twitter, um entre milhares que a ofenderam na época.

O cenário preocupante leva a SaferNet e a Polícia Federal a bolar estratégias para monitorar a rede. Durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, haverá uma coordenação especial para coibir crimes cibernéticos, sobretudo associados a tráfico de pessoas e xenofobia.

— O fenômeno é extremamente negativo, mas o fato de as denúncias terem aumentado mostra que o cidadão está atento — diz Rodrigo Nejm, diretor de Educação da SaferNet. — No caso do tráfico de pessoas, o problema é que existem aliciadores que enganam as vítimas, ocultando a prostituição.

A pornografia infantil continua liderando, pelo nono ano consecutivo, o ranking por número de páginas denunciadas. Em 2014, foram 51.553 comunicações de crime, em 22.789 endereços na internet, dos quais 3.283 foram removidos. Apesar disso, o resultado é comemorado, pois houve uma queda de 8,82% em relação ao ano anterior.


CASOS DE ‘SEXTING’ DOBRAM

Por outro lado, entre os 1.225 pedidos de orientação psicológica que chegaram à SaferNet, 222 eram relacionados ao vazamento de fotos íntimas. O aumento desse tipo de ocorrência foi de 119,8%. As vítimas do chamado sexting são, em sua maioria, do sexo feminino (81%) e com até 25 anos (53%), sendo que um em cada quatro casos envolveu menores. Os casos de cyberbullying foram 177, a maioria com pedidos de ajuda para lidar com situações de humilhações repetitivas pelas redes sociais.

No ano passado, os aplicativos de troca de mensagens anônimas, como o Secret, viraram febre no país. Após inúmeros casos de bullying e vazamento de fotos íntimas de menores, eles chegaram a ser proibidos pela Justiça.

Aliás, o aumento no volume de denúncias foi acompanhado pelo incremento nas ações de repressão pelo governo. Diana explica que a principal mudança foi a unificação das unidades de crimes contra os direitos humanos e de crimes cibernéticos, que trouxe ferramentas mais sofisticadas para as investigações.

Dessa forma, a Polícia Federal lançou no ano passado, pela primeira vez, uma operação contra a pedofilia na chamada web profunda, que resultou na prisão de 54 pessoas.

Hoje, a PF tem cerca de 2.780 inquéritos abertos relacionados aos crimes cibernéticos. O objetivo, explica Diana, é que os internautas comecem a perceber que há punição em tais situações. O aparente anonimato não existe, nem mesmo na web profunda. Ano passado, 126 pessoas foram presas em flagrante, contra apenas 47 em 2012.

— O nosso foco é o uso de ferramentas de inteligência. Os criminosos se sofisticam, mas nós também. Estamos conseguindo pegar o criminoso no momento em que o delito é cometido, o que facilita a fase processual para a condenação — diz Diana.



Fonte: O Globo

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