Formada em letras e com um livro lançado, Lola Benvenutti
trabalhou por dois anos como garota de programa. Em entrevista ela falou sobre
a personagem de Paolla Oliveira, Danny Bond.
Aos 22 anos, formada em letras pela Universidade Federal de
São Carlos (UFSCAR), no interior de São Paulo, e supertatuada com frases de
escritores como Guimarães Rosa e Manuel Bandeira, Lola Benvenutti faz lembrar
Lolita, do russo Vladimir Nabokov, uma de suas inspirações. Durante dois anos
da faculdade, ela decidiu também viver profissionalmente do sexo atendendo
solteiros e casais.
Hoje, já fora da profissão, mas sem arrependimentos, ela se
dedica a escrever livros – lançou recentemente “O Prazer É Todo Nosso” -, ao
mestrado e aos contos eróticos que publica em seu blog. Entretanto, em
entrevista à Marie Claire, ela garante: “Vivi intensamente a profissão, apenas
dei como encerrada. Mas não estou nada arrependida do que fiz.”
O sucesso de Paolla Oliveira na pele da garota de programa
da série "Felizes para Sempre?", fez reacender os holofotes sobre os
bastidores da prostituição. Danny Bond, pseudônimo usado pela personagem, é
apresentada como prostituta de luxo e atende principalmente casais.
Segundo Lola, a categoria de luxo assumida pela protagonista
na série “é uma grande besteira”. “Puta é puta em qualquer lugar. Eles fazem
uma diferenciação semântica no seriado, mas que não existe na vida real. A
personagem passa por situações que não são nada luxuosas. Acho que essa
diferenciação pode estigmatizar um pouco a imagem das prostitutas”, conta.
Já o envolvimento sentimental de Danny Bond com uma das
clientes, interpretada por Maria Fernanda Cândido, Lola revela que pode
acontecer. "A gente não está livre de se envolver, porque não somos
máquinas e temos sentimentos. Mas a prostituta tem que saber que ela é uma
profissional. Nas minhas relações, sempre busquei ética acima de tudo. Por
isso, nunca me envolvi e fui procurada por muitos casais por conta da
confiança. A série glamouriza um pouco essa situação."
MÉNAGE? SÃO ELAS QUE
PROCURAM MAIS
Quando começou a fazer programas, Lola era procurada
principalmente por homens. Com a exposição midiática, o cenário logo mudou e
foram as mulheres que passaram a encabeçar a lista de maiores interessadas
pelos serviços de sexo a três.
"Elas sempre diziam, ‘Eu te vi e você me inspira
confiança’. Hoje, eu noto um movimento muito crescente de mulheres tomando a
iniciativa para o ménage. A procura tem sido maior por parte delas. Acho que
elas estão se libertando mais."
Entretanto, ao contrário do que é transmitido pela série, a
procura pelo serviço não se dá com o intuito de salvar casamentos. “Na verdade,
o ménage tem sido buscado como uma nova descoberta e tentativa de viver
experiências diferentes. A maioria das clientes diz que nunca sentiu atração
por mulher. Elas só querem experimentar. E por que não?”, questiona Lola.
O SENTIMENTO NÃO ESTÁ
EM JOGO
Dedicar mais tempo para que as duas partes se sintam
envolvidas e ser mais sensível para definir alguns limites na cama é o que
diferencia o atendimento de casais em relação ao individual. "O
comportamento é completamente diferente e muito mais delicado. Você precisa
entender que é um mero acessório e que o amor só acontece entre os membros do
casal. Você só está ali para inseri-los no mundo da fantasia.”
Ela diz nunca ter notado qualquer problema entre maridos e
esposas com seus clientes, como acontece entre os personagens de Maria Fernanda
Cândido e Henrique Diaz. "Para mim é problemático quando a mulher vai só
porque o cara quer. Eu entendo essa mulher que ama o parceiro e faz tudo para
agradá-lo e não perdê-lo. O cara é que é um imbecil, quando não quer abrir mão
de um ménage para viver bem com a esposa", diz ela.
Para quem se interessa pela experiência de fazer sexo a
três, a especialista aconselha sempre inserir um convidado desconhecido na
relação. "Jamais chame um amigo, porque vai ficar um clima ruim
depois", diz. “E se você achar que os encontros frequentes a três podem
afetar o relacionamento, tente sempre viver essa experiência uma vez só com
cada pessoa, experimente casas de swing e vá a festas em outras cidades. Além
disso, é bacana fazer sempre no motel, que é um ambiente neutro e evita a exposição
da intimidade do casal.”
A DIFICULDADE DA PROFISSÃO
Uma das dificuldades enfrentadas pela personagem de Paolla
Oliveira é a violência de clientes. Durante um programa, Danny Bond chegou a
lançar mão de um spray de pimenta para conter um rapaz.
“No começo, eu tinha
muito medo. Carreguei spray de pimenta durante uma época. Para evitar
problemas, passei a avisar pessoas próximas sobre onde eu estava. Em hotel,
normalmente, você combina o horário do programa com um recepcionista e ele te
liga depois do tempo combinado para saber se está tudo bem. Atender em flat
também evita situações de risco, porque o documento do visitante fica retido na
entrada. Na rua é mais perigoso.”
No entanto, segundo Lola, o maior problema não está na
violência física, mas na moral e social. “Ainda rola muito preconceito, que
contribui psicologicamente para que a puta não seja aceita. Por isso a
legalização da profissão é fundamental. Mais do que ter carteira assinada, as
putas precisam ser vistas como profissionais. Elas não devem ser
marginalizadas. São pessoas comuns que trabalham como qualquer outra”, explica
ela.
PREOCUPAÇÃO COM A
APARÊNCIA
De acordo com Lola, a repercussão em torno do corpo de
Paolla Oliveira só reforça a preocupação exagerada com a beleza que domina o
meio. “O visual das meninas costuma ser padronizado – silicone, marquinha de
biquíni e corpo malhado de quem frequenta muito a academia”, diz ela, que
reprova essa padronização. “Sempre acreditei que meu trabalho é mais um combo
do que um corpo. O tipo de cliente que eu tinha era o que gostava de
conversar.”
Fonte: Marie Claire
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