“Deus nos julga amando-nos. Se acolho o seu amor estou salvo, se o recuso estou condenado: não por Ele, mas por mim mesmo. Porque Deus não condena, só ama e salva”.
"Se Deus perdoa a todos, como
então existe o inferno?” Na favela junto ao campo de futebol de uma paróquia de
Tor Bella Monaca, na extrema periferia romana, entre os panos verdes e laranja
que se agitam na chegada do Papa, as crianças não fazem perguntas
circunstanciais. E Francisco, diante da pequena escoteira que lhe põe um
problema “tão difícil”, sorri e explica o que é, de fato, o inferno: “Deus
perdoa a todos ou não? É bom ou não? Mas você sabe que havia um anjo muito
orgulhoso e inteligente, e ele tinha inveja de Deus, queria tomar o seu lugar.
Deus quis perdoar-lhe, mas aquele anjo dizia: “Eu não necessito de perdão, eu
sou suficiente a mim mesmo”. Eis, isto é o inferno.”
A reportagem é de Gian Guido
Vecchi, publicada pelo Corriere della Sera 09-03-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Resposta dostoievskyana, a do
Papa. Como se lê em Os irmãos Karamazov, romance caro a Bergoglio: o inferno é
“o sofrimento de não ser capazes de amar”. Não é Deus que manda ao inferno, diz
Francisco: “Ao inferno não te mandam, vais tu, és tu que escolhes. O inferno é
querer afastar-se do Deus porque eu não quero o amor de Deus. O diabo está no
inferno porque ele o quis. Vai ao inferno somente quem diz a Deus “não preciso
de ti”, como fez o diabo, o único que estamos certos que esteja ali”. Palavras
que recordam o que disse Francisco em 2013, após sua primeira Via Crucis: “Deus
nos julga amando-nos. Se acolho o seu amor estou salvo, se o recuso estou
condenado: não por Ele, mas por mim mesmo. Porque Deus não condena, só ama e
salva”.
Tor Bella não tem boa fama:
droga, delinqüência. Mas, há “tanta brava gente”, recorda o pároco. E o Papa
diz: “A gente que é boa, só tem um defeito, o mesmo que tinha Jesus, José e
Maria: ser pobres. Mas eles tinham trabalho”. E fala dos “mafiosos que exploram
a gente pobre para fazê-las encontrar o trabalho sujo” para que, “se a polícia
os encontra, encontra a pobre gente e não os mafiosos que pagam a sua
segurança”. Na homilia retorna para os “hipócritas” que simulam devoção: “Não
podemos enganar Jesus. Se sou um pecador, Jesus não se espanta. Distancia-o a
“dupla face” dos hipócritas”.
Quando as criancinhas perguntam
ao Papa sobre a moral cristã, Francisco explica que ela não é feita de
preceitos e proibições: “Fazer isto, não fazer aquilo”, por si só não é
cristão, é uma filosofia moral, mas não é cristão. Cristão é o amor de Jesus
que nos ama por primeiro. Olhar para Jesus no momento da tentação. Reerguer-se
quando se cai, mas sempre com Jesus. Como aquele belo canto dos alpinos que
diz: o importante não é não cair, mas não permanecer por terra”.
No Angelus Francisco recordou a
festa de 8 de março: “Um mundo em que as mulheres são marginalizadas é estéril,
porque as mulheres não só carregam a vida mas nos transmitem a capacidade de
ver além – ver além, elas – e de entender o mundo com olhos diversos, de sentir
com coração mais criativo, mais paciente, mas terno”.
Fonte: Ihu
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