Sua amiga está em um
relacionamento abusivo. Desesperada, você não entende como ela consegue ficar
com aquela pessoa que faz tanto mal para ela. Poxa, ela costumava ser tão dona
de si! Ela é tão bonita, tão inteligente, tem família, um emprego bacana. Na
sua cabeça, ela só pode ser burra ou fraca para ficar com alguém assim. Você
jamais deixaria barato…
Por Helô D’Angelo Do Feminismo na Pratica
Deixa eu te falar várias coisas
que talvez não tenham passado pela sua cabeça.
Coisa 1: culpar sua amiga não
funciona
Sua amiga está sofrendo. A última
coisa que ela precisa é de (mais) alguém dizendo o quanto ela é fraca e burra
por estar com uma pessoa dessas.
Quando a gente está em um
relacionamento abusivo, é muito difícil perceber. Porque a gente gosta daquela
pessoa, fica muito complicado entender que ele ou ela nos faz mal. A gente
releva: “ah, ele nem sempre é agressivo”, “ela é tão carinhosa às vezes”.
Mesmo quando a gente percebe que
está em um relacionamento ruim, sair dele parece impossível. Porque a pessoa
acha que, se sair, não vai conseguir arrumar ninguém nunca mais, que deveria
agradecer por alguém aguenta-la, que ela é um lixo etc.
Quando você fala para a sua amiga
que ela é fraca e burra por estar em um relacionamento abusivo, você confirma
os sentimentos ruins que a relação alimenta na cabeça dela. E isso faz com que
o namoro dela pareça o único espaço seguro no mundo – afinal, mesmo tendo “uns
probleminhas”, ela tem alguém que a aceita e que, às vezes, trata ela bem.
Tenha mais empatia!
Coisa 2: a mulher é criada para
servir
Quando você era pequena, aposto
que sua mãe já disse para ficar bem comportadinha, porque fazer malcriação é
coisa de menino. Aposto que você ganhou bonecas e que era elogiada por ser uma
menina quietinha, e que, se não era quietinha, levava bronca por isso.
Aposto que você já ouviu, quando
sentou de pernas abertas, que menina não senta assim, e que sentiu, ao entrar
na adolescência, que sua aparência não agradava os meninos de alguma forma.
Isso para não dizer que você ajudou sua mãe e sua avó a colocar e a tirar a
mesa de almoço de domingo enquanto os tios e primos assistiam TV.
Desde pequena, você foi ensinada
a não dar escândalo. A não ser barraqueira. A não exagerar, seja na reclamação
da cólica ou na denúncia daquele menino que te obrigou a ficar com ele na
festinha do colégio (na qual, aliás, você não conseguiu dançar porque estava
desconfortável demais de salto alto e saia curta).
Para sair na rua, você sempre
pensa duas vezes antes de usar shorts, vestidos, saias, mesmo quando está um
calor terrível. Você frequentemente usa jeans, também, para evitar olhares –
não que isso ajude. Você foi coagida a aceitar e agradecer o que lhe foi dado
(afinal, você é bem comportada).
Você também machuca sua pele e se
expõe a doenças ao se depilar, entope os poros com maquiagem, passa algumas
horas do seu dia cuidando dos cabelos, porque cabelo ruim não dá. Ah, e você
precisava ter um namorado, afinal, é só disso que suas tias, avós e até sua mãe
falam quando perguntam “e os namoradjenho?”.
E esse namorado não precisa ser
perfeito, viu? Aliás, não pode escolher muito, senãofica pra titia. Tem que
aceitar o que a vida te deu com tanto carinho. E, quando estiver namorando, tem
que comparecer, senão a concorrência vence.
Não vou continuar com a lista,
que é infinita. Mas, se você respondeu “sim” a algumas dessas perguntas, pare e
pense:desde pequena, você é ensinada que deve ser submissa, obediente,
comportada.Que não deve reclamar, porque a sua dor não é ruim o suficiente, e
porquereclamar é falta de educação. E aí, voltando à amiga do relacionamento
abusivo, como você pode chamá-la de burra e fraca, quando a submissão dela é a
sua submissão, que foi ensinada e encorajada desde cedo?
Coisa 3: poderia ser vocêzinha
Empatia significa conseguir se
colocar no lugar do outro e perceber que poderia ser você. Mas o bacana é
conseguir fazer isso sem se colocar como uma super heroína à prova de tudo, que
faria muito melhor, porque, afinal, você não é burra e fraca.
Frases como “se eu fosse você,
nunca cairia nessa”, ou “eu, no seu lugar, dava um escândalo” soam extremamente
depreciativas para a sua amiga em um relacionamento abusivo. Então, antes de
soltar essas pérolas, pense: você faria issomesmo? Sério? Seria tão invencível
e racional que ignoraria o que você sente pelo(a) namorado(a) e cairia fora?
Acho que não.
Ninguém é de ferro. E quer saber?
Tudo bem. Porque é justamente essa mania de dizer que somos fortes que mantém
sua amiga em um relacionamento abusivo. Somos seres humanos e temos fraquezas,
e um primeiro passo é admitir isso e procurar ajuda.
Coisa 4: como ajudar de verdade
Primeiro, mostre o vídeo da Jout
Jout sobre relacionamentos abusivos. Ele é super didático e ajuda a entender
que algumas situações são, sim, problemáticas, e que se sentir mal nelas não é
exagero e nem culpa da sua amiga. Esse vídeo abre os olhos.
Depois, quando a sua amiga
entender que está em um relacionamento abusivo, mostre que você pode dar apoio.
Em vez de critica-la, abrace, diga que você está ali para qualquer coisa, que
ela pode te ligar a hora que for. Esteja lá por ela: seja um ponto de
referência fora do relacionamento. Mostre que o(a) namorado(a) não é a única
pessoa que entende/ aceita/ quer ficar com a sua amiga.
Ajude a aumentar a autoestima
dela. Quando ela fizer algo bacana, elogie. Aponte traços incríveis dela, sejam
eles físicos, intelectuais ou da personalidade dela.
Enfim, seja uma aliada, e não uma
inimiga.❤
Nenhum comentário:
Postar um comentário