O que você faria se encontrasse
uma criança de seis anos sozinha em um lugar público? Um vídeo lançado pelo Unicef,
Fundo das Nações Unidas para a Infância, escancara o preconceito que vive em
cada um de nós. Protagonista do experimento, Anano, uma menina de apenas seis
anos ficou "perdida" duas vezes: em uma delas, estava bem vestida,
limpa e penteada.
"Quantos anos você
tem?"
"Você está perdida?"
"Você está sozinha?"
"Você mora aqui perto?"
Essas foram algumas das perguntas
que quem passava por perto fez a Anano. Depois, a menina foi colocada no mesmo
lugar, dessa vez com roupas velhas e sujas. Seu rosto também não estava limpo,
e ela usava um gorro por cima do cabelo desgrenhado. Ainda era a mesma menina
de seis anos, que dessa vez foi completamente ignorada.
O mesmo experimento foi feito em
um restaurante: bem vestida, Anano conquistou quem estava por ali. Além de
muitos beijos, ela ganhou também um avião de papel. Quando estava mal vestida,
Anano foi escorraçada do lugar. Ela chorou tanto que o experimento foi
suspenso.
E você, o que faria?
Segundo o El Español a iniciativa
não quer culpabilizar ninguém, mas conscientizar, por meio de uma campanha
"visual e potente", a desigualdade. "São os invisíveis entre os
invisíveis", afirma o Unicef ao jornal.
"Por puro azar, por ter
nascido em uma família ou em uma comunidade determinada e afetada pela
desigualdade, uma criança se vê privada das oportunidades que os outros têm em
nossa sociedade".
Risco
O vídeo também serve de alerta
para o fato de que quase 70 milhões de crianças morrerão antes dos cinco anos
até 2030 e 167 milhões viverão em pobreza extrema nesse ano se a comunidade
internacional não investir já nas mais crianças pobres.
Intitulado “Uma oportunidade
justa para todas as crianças”, o relatório anual revela que, embora o mundo
tenha registado progressos na infância, essas melhorias não foram uniformes e
as desigualdades marcam a vida de milhões de crianças.
“Quando olhamos para o mundo de
hoje, somos confrontados com uma verdade desconfortável, mas inegável: As vidas
de milhões de crianças são arruinadas pelo simples fato de terem nascido num
determinado país, comunidade, género ou circunstância”, escreve o diretor-geral
da organização, Anthony Lake, no prefácio do relatório.
Para ele, “agora é o momento de
agir” porque, se o mundo não acelerar o ritmo de progresso, 69 milhões de
crianças morrerão, em sua maioria de causas evitáveis, antes de completarem
cinco anos, até 2030, o ano em que terminam os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentáveis, definidos no ano passado.
África
Nesse mesmo ano, as crianças da
África subsaariana terão 10 vezes mais probabilidade de morrer antes dos cinco
anos do que as dos países ricos e nove em cada dez crianças a viver em pobreza
extrema estarão naquela área, alertou Anthony Lake.
Se nada for feito, mais de 60
milhões de crianças em idade escolar estarão fora da escola e cerca de 750
milhões de mulheres terão sido casadas na infância.
O diretor-geral da Unicef
sublinha que o futuro não tem de ser tão sombrio e lembra que muitos dos
constrangimentos que impedem o mundo de ajudar estas crianças não são técnicos.
“São uma questão de compromisso
político. São uma questão de recursos. E são uma questão de vontade coletiva”,
alertou.
O relatório revela que investir
nas crianças mais vulneráveis pode produzir benefícios imediatos e a longo
prazo, tanto para as próprias crianças como para a sociedade.
Segundo o documento, cada ano
adicional de escolaridade que uma criança frequenta se traduz em um aumento de
cerca de 10% dos rendimentos que aufere na idade adulta e, por cada ano
adicional de escolaridade que os jovens de um país completam, as taxas de
pobreza diminuem cerca de 9%.
“Mais do que nunca, devemos
reconhecer que o desenvolvimento só é sustentável se puder ser continuado –
sustentado – pelas gerações futuras”, escreveu Anthony Lake.
E exemplifica: “Quando ajudamos
um menino a ter acesso aos medicamentos e nutrição de que precisa para crescer
saudável e forte, não só aumentamos as suas hipóteses na vida, como reduzimos
os custos sociais e económicos associados à doença e à fraca produtividade”.
O prefácio do diretor-geral
termina com um apelo: “Nós conseguimos. A injustiça não é inevitável. A
desigualdade é uma escolha. Promover a equidade – uma oportunidade justa para
cada criança, para todas as crianças – também é uma escolha. Uma escolha que
podemos fazer e devemos fazer. Pelo seu futuro, e pelo futuro do nosso mundo”.
(Com informações da Agência Lusa)
Fonte: Brasil Post
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