O caso do espancamento de Luiza
Brunet, agredida covardemente por seu companheiro após chegarem de um jantar em
Nova York, deixa uma mensagem clara. Não importa sua cor, sua origem, sua
condição econômica, sua posição social… Se você é mulher, você faz parte de um
grupo de risco que, como jovens pretos e pobres, engordam as estatísticas de
assédio moral, tortura, cárcere privado e assassinato. E estupro.
Por Lelê Teles
E oh, esquece aquela imagem que
plantaram em sua mente do pedreiro pobre que chega em casa bêbado e bate na
mulher e nos filhos.
ela existe, ok, mas sua hiper
exposição é somente uma caricatura. como aquela do estuprador que espreita
mulheres em um beco escuro.
homens sóbrios e endinheirados
estão a espancar mulheres a torto e a direito.
e dentro de casa, na frente dos
filhos.
o marido de Brunet, bilionário e
um dos donos da Globo no sul do país, deixa claro que não importa sua condição
econômica ou o seu prestígio social…
se você é um homem, faz parte de
um grupo de alto risco para as mulheres.
basta ligar a chavinha da cultura
do patriarcado e você está pronto a naturalizar sua condição de senhor e
proprietário de sua companheira.
o pacto tácito feito entre os
canalhas legítima sua conduta, ninguém deve meter a colher em briga de marido e
mulher.
o que significa estar do lado do
mais forte, do agressor.
afinal, um dos pilares do nosso
Direito é a defesa da propriedade privada. ora, se a mulher lhe pertence, você
tem direitos sobre ela, ela tem deveres.
uma vez objetificada, retificada,
coisificada, uma vez deverá aceitar sua posição hierárquica e sofrer
humilhações e agressões toda vez que o contrariar.
muitas se calam por amor aos
filhos ou por dependência econômica, mas elas estão cada vez mais botando a
boca no trombone.
o machismo mata. o feminismo
liberta.
cada vez mais as mulheres se unem
contra seus algozes. agora que as Marias decidiram ir com as outras, elas
perceberam que não estão sozinhas e que juntas são ainda mais fortes.
os machistas aindam gritam e dão
ordens, mas não mais sem contestação.
eles sempre foram com os outros,
se defendem em bando, por isso é preciso desarticulá-los.
vi muitos difamadores querendo
ouvir “o lado” do agressor, na esperança de que ele tenha uma explicação convincente
para espancar uma mulher.
o misógino sempre acha que ele
tem uma explicação convincente quando tortura uma mulher; afinal, se ela
apanhou foi porque mereceu.
“e se ficar provado que ela traía
o marido?”; “bem feito, essa aí era mais uma oportunista, teve o que mereceu”;
“casou por dinheiro, agora aguenta o tranco”; “mais uma se fazendo de
coitadinha, querendo aparecer”; “o
alpinismo social tem bônus, mas também tem ônus”…
como se sabe, a única pobreza
consensual, que iguala todos os misóginos…
é a pobreza de caráter.
palavras sapienciais.
Fonte: Portal Geledés
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