Símbolo da luta pelos direitos humanos durante a ditadura
militar, dom Helder Camara (1909-1999) vai se tornar oficialmente candidato a
santo em maio, quando a arquidiocese de Olinda e Recife vai instaurar o
processo que visa canonizá-lo.
O anúncio da abertura da causa
ocorreu nesta quarta-feira (8). O processo será oficialmente aberto no próximo
dia 3 pelo arcebispo de Recife, dom Antônio Fernando Saburindo. Em fevereiro, a
Congregação da Causa dos Santos -instituição do Vaticano que processa as
análises de santidade- emitiu o decreto de "Nihil Obstat", um
atestado de que nada consta contra o prosseguimento da causa.
"Ele teve uma coragem
extraordinária, um pastor preocupado com os mais pobres, mas sobretudo um homem
de profunda oração", disse dom Antônio, por telefone.
Com a abertura do processo, dom
Helder receberá o título de "servo de Deus".
Arcebispo do Recife entre 1964 e
1985, dom Helder foi uma das vozes mais críticas do clero ao regime militar e
responsável por encaminhar denúncias da tortura cometidas por agentes do Estado
contra opositores. Suas posições lhe renderam proeminência internacional e uma
forte campanha de intimidação na qual um de seus colaboradores mais próximos
foi assassinado em 1969.
O frei capuchinho Jociel Gomes,
36, será o postulador da causa. Espécie de advogado da causa, o postulador tem
a responsabilidade de providenciar a coleta de documentos e testemunhos de
pessoas que atestem que dom Helder levou uma vida virtuosa e pode servir como
exemplo para a comunidade católica.
Uma comissão de pesquisadores já
trabalha desde o ano passado para reunir a produção escrita deixada pelo
religioso que foi o mais influente padre conciliar brasileiro no concílio
Vaticano 2º e, nos anos 1950, como bispo auxiliar no Rio iniciou uma pastoral
pioneira em favelas da cidade.
"É possível que, em termos
de documentação a ser reunida, o processo dele seja volumoso como os de um João
23 ou João Paulo 2º [papas canonizados em 2014], ele teve uma vida de intenso
envolvimento com as grandes questões do século 20", disse o "advogado
do santo".
Se o dossiê sobre a vida do
religioso for aprovado pela Santa Sé, inicia-se a chamada fase romana do
processo quando duas alegações de feitos cientificamente inexplicáveis
atribuídas ao candidato precisam ser reconhecidas como "milagre" pela
Igreja.
Após o reconhecimento do
primeiro, o candidato se torna beato e pode ser cultuado na região onde viveu
sem ocupar os lugares principais dos altares. O segundo milagre faz o santo,
permitindo o seu culto universal em toda a Igreja.
Fonte: O Tempo
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