sábado, 11 de abril de 2015

Sexismo nos quadrinhos está mudando aos poucos

Público ajuda a amplificar debate sobre a centralidade da figura do homem nas HQs e a necessidade de uma mudança de comportamento no gênero.


Para colocar as mulheres como figuras de destaque em suas histórias, as duas maiores editoras do mercado norte-americano têm trabalhado sistematicamente para atender o público, sem tentar tapar o sol com a peneira. Uma garota de 11 anos chamada Rowan Hansen, fã da Mulher-Maravilha, percebeu isso e escreveu uma carta à editora DC expondo suas críticas. Para sua surpresa, foi respondida e presenteada com esboços de uma nova super-heroína inspirada nela própria durante um programa de TV.

Mas não acaba aí. Prestes a ganhar as telas dos cinemas, a heroína preferida de Rowan ganhou um novo visual nas HQs com um uniforme nada apelativo e sem decote. No ano passado, a Marvel anunciou que o personagem Thor se tornaria uma mulher. E, apesar de muita gente não ter gostado da ideia, a nova versão está vendendo mais do que quando o Deus do Trovão carregava o martelo. O título saltou de 65 mil para 150 mil cópias vendidas desde a estreia da Deusa com um tom feminista bem apurado.

Outro exemplo de protagonismo de sucesso na empresa apelidada de “casa das ideias” vem da revista “Ms. Marvel”. Sua história mostra uma adolescente muçulmana aprendendo a lidar com os preconceitos e costumes dos EUA ao mesmo tempo em que descobre seus poderes. “Acho que isso é, mais uma vez, o mercado se apropriando de discursos de lutas sociais que estão tendo efeito no comportamento das pessoas. Mas não encaro isso como algo negativo, é importante dar espaço ao feminismo. Não somos frágeis e muito menos objetos de consumo. Criei uma certa resistência aos quadrinhos norte-americanos por falta de identificação. Prefiro ler mangás, webcomics e quadrinhos independentes apesar de haver clichês nesses meios também”, diz a designer Samanta Coan.

Ela faz parte do grupo Lady’s Comics, que debateu recentemente a transgressão da representação feminina no universo dos quadrinhos em um encontro realizado em Belo Horizonte. A iniciativa agora mantém um banco de mulheres quadrinistas (clique aqui para saber mais sobre o BAMQ!) para divulgar as artistas no mercado nacional. Para elas, a atual representação feminina nas HQs ainda é problemática.

“Ao meu ver, é uma representação ilusória e muito estereotipada. Às vezes me deparo com imagens, não só nos quadrinhos, que me fazem questionar se a pessoa que as criou conhece pelo menos uma mulher de verdade. São representações que negam as conquistas femininas. A roupa em si não é o problema, a questão é que uma heroína está em ação o tempo todo. É real uma roupa que não permite se mexer direito? Um cabelo impecável? Maquiagem? Qual a necessidade de determinar um padrão de mulheres quando existem tantos tipos de nós? Existe várias representações do feminino”, questiona outra integrante do Ladies, Samara Horta.

O grupo conta ainda que tem planos para participar de eventos como a Comic Con Experience ou FIQ. “Mas, se der tudo certo, no início de outubro teremos o 2º Encontro Lady’s Comics”, diz Samanta.

Comunidade
Em meio às discussões feministas, a ilustradora Suzana ‘Shosh’ Maria criou o “Selfless Portraits das Minas” para tirar o foco do padrão de beleza e espalhar mais amor próprio entre as garotas cis, trans ou afins. Toda semana, pelo Facebook, são indicadas dez duplas de meninas para trocar, de forma espontânea ou por sorteio, desenhos se retratando. O grupo, que não se restringe apenas as artistas profissionais, já produziu um fanzine que discute temas como a produção independente.

Outra plataforma destinada à divulgação do trabalho feminino na área da ilustração, o projeto Mulheres nos Quadrinhos já lançou dois volumes impressos e conquistou mais de 100 mil seguidores nas redes sociais. A iniciativa surgiu em 2012 e é hoje uma comunidade para divulgação de novas autoras, apresentação de textos sobre questões de gênero e quadrinhos, exposição de obras já consagradas, mostrando como a produção feminina é diversa e intensa no Brasil.

Fonte: O Tempo

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