Público ajuda a amplificar debate
sobre a centralidade da figura do homem nas HQs e a necessidade de uma mudança
de comportamento no gênero.
Para colocar as mulheres como
figuras de destaque em suas histórias, as duas maiores editoras do mercado
norte-americano têm trabalhado sistematicamente para atender o público, sem
tentar tapar o sol com a peneira. Uma garota de 11 anos chamada Rowan Hansen,
fã da Mulher-Maravilha, percebeu isso e escreveu uma carta à editora DC expondo
suas críticas. Para sua surpresa, foi respondida e presenteada com esboços de
uma nova super-heroína inspirada nela própria durante um programa de TV.
Mas não acaba aí. Prestes a
ganhar as telas dos cinemas, a heroína preferida de Rowan ganhou um novo visual
nas HQs com um uniforme nada apelativo e sem decote. No ano passado, a Marvel
anunciou que o personagem Thor se tornaria uma mulher. E, apesar de muita gente
não ter gostado da ideia, a nova versão está vendendo mais do que quando o Deus
do Trovão carregava o martelo. O título saltou de 65 mil para 150 mil cópias
vendidas desde a estreia da Deusa com um tom feminista bem apurado.
Outro exemplo de protagonismo de
sucesso na empresa apelidada de “casa das ideias” vem da revista “Ms. Marvel”.
Sua história mostra uma adolescente muçulmana aprendendo a lidar com os
preconceitos e costumes dos EUA ao mesmo tempo em que descobre seus poderes.
“Acho que isso é, mais uma vez, o mercado se apropriando de discursos de lutas
sociais que estão tendo efeito no comportamento das pessoas. Mas não encaro
isso como algo negativo, é importante dar espaço ao feminismo. Não somos
frágeis e muito menos objetos de consumo. Criei uma certa resistência aos
quadrinhos norte-americanos por falta de identificação. Prefiro ler mangás,
webcomics e quadrinhos independentes apesar de haver clichês nesses meios
também”, diz a designer Samanta Coan.
Ela faz parte do grupo Lady’s
Comics, que debateu recentemente a transgressão da representação feminina no
universo dos quadrinhos em um encontro realizado em Belo Horizonte. A
iniciativa agora mantém um banco de mulheres quadrinistas (clique aqui para
saber mais sobre o BAMQ!) para divulgar as artistas no mercado nacional. Para
elas, a atual representação feminina nas HQs ainda é problemática.
“Ao meu ver, é uma representação
ilusória e muito estereotipada. Às vezes me deparo com imagens, não só nos
quadrinhos, que me fazem questionar se a pessoa que as criou conhece pelo menos
uma mulher de verdade. São representações que negam as conquistas femininas. A
roupa em si não é o problema, a questão é que uma heroína está em ação o tempo
todo. É real uma roupa que não permite se mexer direito? Um cabelo impecável?
Maquiagem? Qual a necessidade de determinar um padrão de mulheres quando
existem tantos tipos de nós? Existe várias representações do feminino”,
questiona outra integrante do Ladies, Samara Horta.
O grupo conta ainda que tem
planos para participar de eventos como a Comic Con Experience ou FIQ. “Mas, se
der tudo certo, no início de outubro teremos o 2º Encontro Lady’s Comics”, diz
Samanta.
Comunidade
Em meio às discussões feministas,
a ilustradora Suzana ‘Shosh’ Maria criou o “Selfless Portraits das Minas” para
tirar o foco do padrão de beleza e espalhar mais amor próprio entre as garotas
cis, trans ou afins. Toda semana, pelo Facebook, são indicadas dez duplas de
meninas para trocar, de forma espontânea ou por sorteio, desenhos se
retratando. O grupo, que não se restringe apenas as artistas profissionais, já
produziu um fanzine que discute temas como a produção independente.
Outra plataforma destinada à
divulgação do trabalho feminino na área da ilustração, o projeto Mulheres nos
Quadrinhos já lançou dois volumes impressos e conquistou mais de 100 mil
seguidores nas redes sociais. A iniciativa surgiu em 2012 e é hoje uma
comunidade para divulgação de novas autoras, apresentação de textos sobre questões
de gênero e quadrinhos, exposição de obras já consagradas, mostrando como a
produção feminina é diversa e intensa no Brasil.
Fonte: O Tempo
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