Para os que insistem em dizer que
machismo não existe, se tiver o estômago forte, faça como eu: abra o amigo
Google e digite “mulher para casar”. Com enunciados como “8 tipos de mulher que
não merecem se casar com você”; “Serve ou não serve?” e “Veja 5 itens que os
homens procuram em uma mulher para casar”, encontramos elencadas diversas
características que, supostamente, as “mulheres para casar” devem apresentar,
as diferenciando daquelas que não estão aptas a isso.
Texto de Patrícia Sebastiany
Pinheiro
Vemos reforçada a ideia de que
mulher para casar é aquela focada, dócil, estável em todos os sentidos e que
reclama pouco. É aquela que não tem nenhum vínculo positivo com relacionamentos
amorosos anteriores. É aquela que jamais conheceremos na balada.
Independentemente do que as
listas mágicas dizem, sabemos que a vida sexual de uma mulher é o elemento mais
passível de julgamentos e o principal fator que a faz ser — ridiculamente,
diga-se de passagem — categorizada entre “pra casar” ou “só pra pegar”. Mulher
que já teve muitos parceiros sexuais é vista com maus olhos, enquanto o mesmo
não é tão comum com os homens. A regra é clara, dar no primeiro encontro? Muito
fácil! Não é pra casar.
Há, ainda, os que com boas
intenções têm defendido o contrário: que mulher que dá no primeiro encontro,
essa sim é pra casar! Acho isso igualmente problemático, pois defendo a
liberdade da mulher de dar quando e quanto ela bem entender, sem que isso seja
visto como nada além da satisfação voluntária dos seus desejos. Tentar
classificar a mulher que dá no primeiro encontro de forma positiva acaba por
corroborar, mais uma vez, com essa categorização limitadora; acaba por invadir
a sexualidade feminina e transforma o que é exercício do livre arbítrio em
potencialidade para algo que nunca nos é perguntado se queremos: casar.
Para que a indignação fique ainda
maior, vale usar a mesma ferramenta de busca e procurar por: “homem para
casar”. Percebam que, em meio aos resultados — que deveriam ser, seguindo a
lógica da pesquisa anterior, listinhas das características dos “bons partidos”
masculinos — encontra-se dicas para as mulheres conseguirem um homem, como “21
passos para conseguir um homem para casar”. Não há dicas de como um homem deve
ser, apenas mais características do que os homens procuram em uma mulher para
casar. Curioso, não?
É importante que nos questionemos
acerca de todo o machismo que se encontra impregnado nesses discursos; que
coloca o casamento como sendo o objetivo de vida de toda mulher — que, para
tal, deve preencher uma lista requisitos, tornando-a merecedora disso — e o
pesadelo de todo homem. O que é preciso para ser uma mulher para casar? Fico
com as palavras que ouvi, certa vez, de uma mulher; número um: ser mulher.
Número dois: querer casar.
Autora
Patrícia Sebastiany Pinheiro tem
21 anos. É gaúcha de Santa Maria, onde estudou Psicologia na UFSM por três
anos. Atualmente mora em Florianópolis. É escritora, feminista, apaixonada por
moda e assumidamente viciada em filmes e séries. Escreve em seu blog pessoal e
mantém uma página no Facebook.
Fonte: Blogueiras Feministas
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