A mudança de uma realidade que
ainda paga salários mais altos para os homens e mais baixos para as mulheres ao
redor do mundo pode começar com apenas uma atitude. “As mulheres devem ser
treinadas e se sentirem confiantes para pedir mais dinheiro”, diz Randy Melzi,
diretora de Programas de Políticas Públicas e Relações Corporativas da Americas
Society and Council of the Americas – organização dedicada à educação, ao
debate e ao diálogo nas Américas.
Melzi observa que as mulheres ainda têm
vergonha e não se sentem tão à vontade quanto os homens para pedir um aumento.
Entre o público masculino, pedir um salário maior é uma atitude mais natural.
“As pesquisas mostram que os homens são mais interessados em fazer mais
dinheiro e em pedir mais dinheiro”, diz Melzi. Jogar o sutiã na fogueira já não
adianta mais. Neste século, arregaçar as mangas pode surtir mais efeito.
Ainda que a atitude das mulheres
tenha de mudar, as companhias também têm seu papel para transformar a
disparidade salarial entre gêneros. Para Melzi, é preciso que as empresas
incorporem uma nova cultura nesse sentido. “Culturalmente, as companhias devem
começar a pagar mais dinheiro às mulheres”, diz ela. “As companhias devem focar
na diversidade e precisam dizer a elas mesmas ‘nós pagaremos um salário maior’
[para as mulheres]”.
Segundo os dados da Pnad 2012
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a mais recente feita nesse
âmbito), a diferença salarial entre gêneros voltou a crescer no Brasil.
Enquanto em 2011 o rendimento médio mensal das mulheres era equivalente a 73,7%
dos homens, no ano seguinte, esse percentual caiu para 72,9%.
Além de salários desiguais, a
batalha no mundo corporativo também passa pela busca por ocupar o mesmo espaço
que os homens nos cargos de chefias das empresas. Segundo um levantamento
realizado por jornalistas do Volt, no Brasil, dos 488 cargos executivos
principais nas 64 empresas que estão no Ibovespa, apenas 6,5% estão ocupados
por mulheres. A expressão ‘Teto de vidro’, criada em 1980 como uma metáfora
para se referir aos empecilhos aos avanços das mulheres no setor privado, segue
servindo para ilustrar uma realidade mais de 30 anos depois.
A explicação para isso pode ser
cultural. Mas empiricamente falando, há boas razões para que as empresas se
preocupem em garantir maior diversidade em seus cargos de chefia. Segundo
Melzi, existem diversos estudos que apontam a vantagem de ter mulheres na
liderança das empresas. “Os levantamentos mostram que as companhias que têm
mulheres no comando apresentam um desempenho melhor do que as companhias que
não têm”, diz. “Creio que isso seja uma boa oportunidade para que as empresas
invistam na diversidade de gêneros”.
E esse investimento, de acordo
com Susan Segal, presidenta e CEO da Americas Society and Council of the
Americas, não deve ser oriundo de uma política de imposição, como cotas. “Não
acho que as cotas deveriam ser adotadas”, diz. "Por uma razão muito
simples: as mulheres não deveriam ser exceção nos cargos de liderança, mas sim
ser qualificadas para tal". Para Melzi, as companhias devem adotar uma
cultura de contratar mulheres preparadas para os cargos de liderança, sem que
isso seja parte de um programa de obrigações.
Essa reflexão é feita em um
momento em que as mulheres que estão no comando de países latino-americanos
enfrentam turbulências em suas administrações. Dilma Rousseff, no Brasil, tenta
transmitir segurança para um país que vive um caso de corrupção em sua maior
estatal, misturado ao aperto dos cintos para encarar uma recessão econômica. Na
vizinha Argentina, Cristina Kirchner se vê exposta com as investigações do
'Caso Nisman' - um juiz que denunciou a presidenta e acabou morrendo de forma
ainda não desvendada pela polícia - e,
no Chile, Michelle Bachelet tem o próprio filho investigado por corrupção em
seu governo. “A corrupção é endêmica em diversos países ao redor do mundo”, diz
Randy Melzi. “Há outros países da América Latina que também passam por situações
similares, então isso não é uma questão de gênero”.
Apesar da situação política que o
Brasil atravessa, o país tem sido bem visto nas questões do avanço das mulheres
no mercado de trabalho. “Acredito que o Brasil tem feito grandes progressos, no
sentido da quantidade de mulheres empreendedoras", diz Susan Segal.
"Elas são líderes. Como o Brasil tem um número muito grande de
empreendedores em geral, o número de mulheres no comando das suas empresas
também acaba sendo grande", completa.
Fonte: El Pais
Nenhum comentário:
Postar um comentário