Fotógrafa Laura Fonseca e Sarug Dagir, que trabalha na
Guaicurus, é psicóloga e tem meste em Letras
Sarug Dagir, de 37 anos, é uma
das fotografadas na série “Hotel Esplêndido”. A transexual baiana veio a Belo
Horizonte para estudar e aqui conheceu o trabalho na prostituição. Ela tem
curso superior, mestrado e vai começar um doutorado sobre “O valor terapêutico
nas relações prostitutivas”.
O nome Sarug, esclarece, é o de batismo, tem
origem árabe e cabe aos dois gêneros: “a” Sarug ou “o” Sarug. Na entrevista a
seguir, ela falou de agressão, filosofia e amor.
Você se lembra da primeira vez
que pisou na rua Guaicurus?
Lembro. Eu tinha 20 e poucos anos
e experiência de prostituição na rua, aqui em Belo Horizonte. Vim para estudar
psicologia, na UFMG, aos 19 anos. Eu terminei o curso, depois fiz mestrado em
Teoria da Literatura. Mas por causa da minha condição transexual, tive
dificuldade de me inserir no mercado de trabalho. Por uma questão de
sobrevivência, assim que me formei, passei pelo processo transexualizador, com
tratamento hormonal. Na rua, fazia ponto na Pampulha, mas apanhei das outras
travestis, pois não sabia como funcionavam essas questões. Depois disso que vim
trabalhar nos hoteis.
Você escreve também?
Eu tenho um romance no prelo.
Chama-se “Hermafrodições Literárias: Confissões Eróticas de Uma Hermafrodita”.
É um romance escrito por meio de cartas que falam de uma transexual de BH que
se apaixona por um rapaz do Rio Grande do Sul. Eles se conheceram pela
internet. Sobre a prostituição, hoje escrevo sobre meus clientes. Mas ainda não
publiquei. Cada capítulo desse outro livro é a história de um cliente: um de 80
anos, um militar, um jovem...
Oitenta anos?
A minha ideia é de que nas
relações prostitutivas encontramos o valor terapêutico. O cliente não procura a
profissional do sexo somente para fazer sexo, mas também para conversar. E
nisso há a relação do “dizer verdadeiro”, que é a prática da “parrésia” ou o
“dizer franco”. Esse é um termo trabalhado por Foucault (Michel, filósofo que
viveu entre 1926-1984), que abordou essa questão nos últimos estudos que fez
sobre a estética da existência e da vida.
Você deve ser a menina mais
intelectualizada aqui.
Tem muitas aqui com curso
superior. Mas acho que sou a única que tem mestrado. (Risos)
Fonte: Hoje em dia
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