terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Mercado de prostituição de luxo em Brasília não fica restrito somente à ficção

Viagens fazem parte do pagamento para garotas de programa de luxo na capital
Vida de luxo apresentada pela personagem da atriz Paolla Oliveira não é ficção. Profissionais do sexo de Brasília contam que dinheiro, presentes caros e alto nível das garotas são realidade na capital. Polícia aponta perigos que rondam esse mundo.

Desde a primeira aparição da atriz Paolla Oliveira na minissérie Felizes para sempre? na pele da sensual garota de programa Danny Bond, os burburinhos sobre o mercado da prostituição de luxo não saem das rodas de conversa. Universitária, com corpo escultural e discrição, na trama, a jovem cobra R$ 4 mil por hora. Engana-se quem pensa que a ostentação é só cena de novela. A capital do país sustenta uma realidade igual. Mulheres bonitas, bem vestidas e que investem na aparência cobram cifras altas para desfilar ao lado de quem está disposto a pagar pela companhia. Há quem desembolse até R$ 20 mil por mês.

Na semana passada, o Correio conversou com várias garotas de programa de luxo que atendem em endereços nobres de Brasília. Segundo elas, os clientes investem altos valores, dão viagens e presentes — os preferidos são joias, relógios, óculos e sapatos — em troca de algumas horas de sexo. Elas cobram, no mínimo, R$ 500 a hora. "Eles não têm problemas em pagar. Quando nos procuram, sabem o nosso valor. E, assim como eles, gostamos de restaurantes e hotéis bons. Eu me visto bem, sei me portar em uma mesa e satisfaço meu cliente. Eu mereço cobrar um valor alto, não acha?", questionou uma garota de 26 anos, que não quer ter o nome divulgado. Ela faz programas há oito anos e começou porque queria juntar dinheiro. "Hoje, já tenho uma vida estável. Consigo viajar, trocar de carro e ir a boas festas", garantiu.

Embora o mercado seja lucrativo e atraente, há um prazo curto de idade para que elas se aposentem — geralmente até os 30. Por isso, enquanto podem, fazem investimentos imobiliários e bancários. "Em 10 anos de Brasília, consegui comprar quatro apartamentos. Por enquanto, estou satisfeita em fazer os programas. Vou parar quando puder viver de renda", contou uma garota de programa, que cobra R$ 600 por uma hora de companhia e uma única relação sexual. A jovem não fala sobre o lucro mensal, mas mora no Sudoeste, cursa administração em uma universidade particular de Brasília, anda com carro do ano e investe firme no corpo e nos estudos. "Ter assunto se tornou mais rentável do que medidas exageradas", diz (Leia depoimento).

Renovação

Assim como qualquer mercado, os clientes querem novidades, e, por isso, a prostituição de luxo precisa se renovar. Nos últimos anos, segundo elas, as mulheres com medidas marcantes, corpos volumosos e roupas coladas foram substituídas pelas jovens universitárias, que falam mais de um idioma, usam roupas de marca, sabem se portar em restaurantes refinados e sustentam uma conversa durante uma noite inteira — ou, quem sabe, até um fim de semana. Para preencher esses pré-requisitos, as prostitutas de luxo investem em estudos, salões de beleza, aulas de etiqueta e cirurgias plásticas. Em troca, cobram altos valores.

Para manter a discrição, as garotas que atendem as classes A e B não ficam em pontos fixos e evitam ser reconhecidas como garotas de programa. Algumas se anunciam em sites direcionados e estampam books em hotéis e em táxis. O Correio ligou para uma delas, indicada como "a melhor opção" por um dos portais: R$ 500 por hora e R$ 4 mil por fim de semana. "Mas não precisamos ficar trancados no quarto, não. Podemos sair para jantar e passar o dia na piscina do hotel", sugeriu. Aceita moeda estrangeira e garantiu ser a mais bonita e a mais discreta da internet. "Você não vai se arrepender, amor."

Parte do orçamento de alguns jovens herdeiros da cidade é direcionada à diversão com garotas de programa. Dois amigos que não quiseram se identificar, ambos de 23 anos, não escondem a disposição para "espairecer" acompanhados por meninas que chegam a custar R$ 6 mil por fim de semana. "Tem algumas fantasias e até preferências que as minhas namoradas nunca gostaram de realizar. Com essas, vale tudo", revelou um deles.

Embora tenha namorada, o outro alegou que, por ser "muito religiosa", ela não ultrapassa alguns limites. "É um namoro conveniente. Estamos juntos desde a adolescência. Nossas famílias têm negócios em comum. Topo esperar porque ela é uma princesa, tranquila e bonita", explicou. Garotas de programa de "alto nível" em Brasília cobram o preço mínimo de R$ 500.

Depoimento

"Comprei quatro apartamentos"

"Eu comecei a fazer sexo ainda nova. Aos 16 anos, montei meu primeiro caderno com os nomes e os números dos caras com quem tinha saído. Fazia isso colocando sempre uma referência, como modelo do carro dele ou o nome do restaurante no qual jantamos. Um tempo depois, quando comecei a ficar conhecida no interior de Minas Gerais, resolvi mudar para Brasília. Aqui, aos 18 anos, ingressei na prostituição. Nessa época, ser coxuda, bunduda e peituda era garantia de bons clientes. Mas tudo mudou muito rapidamente. Ninguém gosta de ser visto ao lado de uma garota de programa, e as roupas e o modo de falar denunciam isso. O mercado se renovou pela primeira vez quando eu completei três anos de profissão. Caíram as gostosas e entraram essas universitárias com cara de menina rica, roupas de marca e bolsas da moda. Para acompanhar a nova tendência, foi necessário pensar num novo corte do cabelo, estudar inglês e até fazer um curso de etiqueta. Ter assunto se tornou bem mais rentável do que ter medidas exageradas. Na hora de ir embora, falo que cobro pela companhia. Assim, em 10 anos de profissão, comprei quatro apartamentos, um carro do ano e fiz viagens internacionais sem gastar nada."

O que diz a lei

Quem se prostitui não comete qualquer delito. O crime só é qualificado quando alguém tira proveito da prostituição, com casas ou agenciando prostitutas. Nesse caso, pode ficar até 8 anos preso. Também é crime o tráfico interno ou internacional de pessoas. A lei brasileira classifica como hediondo o favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou jovem.

Fonte: Estado de Minas

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