O Big Brother Brasil é apenas um
programa estúpido de televisão? Não. O Big Brother Brasil é um programa com
muita audiência (por mais que ela só despenque com os anos) e muita
repercussão. E esse programa, que já foi palanque para homofóbicos, agora se
supera mais uma vez e vira palco para agressores de mulheres.
Parabéns, TV Globo: vocês
colocaram no ar um programa onde um ser humano (Luan) disse na primeira semana
que matou uma pessoa no Complexo do Alemão enquanto servia exército. A polícia
quase teve que entrar na casa “mais vigiada do Brasil” para interrogá-lo.
Vergonha.
Agora, o ciclo dos horrores parte
dois. O participante Douglas confessa, na frente de todas aquelas câmeras, que
já espancou uma mulher. Simples assim. E com detalhes.
Douglas anunciou essa madrugada
que bateu duas vezes em uma ex-namorada. Em uma delas: “Dei um soco e ela
desmaiou”. Na outra vez, segundo ele, depois de ter sido queimado por cigarro
pela moça, ele…
”Voltei e quebrei ela. Só na
cara”.
Só na cara. Atenção.
No mesmo programa, ainda essa
semana, “de brincadeira”, o participante Fernando disse que daria uma
cotovelada na colega Amanda.
“Eu dou uma cotovelada na cara
dela. Mesmo sendo expulso”. “Eu quebro os dois dentes dela.”
Vamos prestar muita atenção a
essas palavras gravíssimas. Quebrar a cara, fazer mulher desmaiar, quebrar dente.
Isso ser exposto na televisão em
um país no qual um milhão de mulheres são agredidas por ano é nada menos que
escandaloso.
E aí, TV Globo, vai ficar por
isso mesmo? Sério?
Fonte: Blog de Nina Lemos
Agressor de mulher confessa no BBB
Na madrugada dessa terça-feira
(3), o participante da edição atual do Big Brother Brasil Douglas Ferreira
confessou ao vivo ter agredido uma mulher com quem teve um breve
relacionamento. De acordo com o relato do motoboy, as agressões ocorreram há
cerca de 9 anos, em uma delas Ferreira esmurrou a mulher deixando-a
inconsciente.
Diversos sites feministas
repercutiram o relato, protestando contra a naturalidade com que Douglas
descreveu a agressão. Para Mariana Messias, feminista e administradora do
portal Lugar de Mulher, o fato deixa evidente a mentalidade que coloca os
homens em um nível hierárquico acima das mulheres, algo que ainda é forte e
constante. “Eles não tem vergonha, pelo contrário, costumam sentir um certo
orgulho mórbido disso. Se sentem machões, defendendo sua honra”, afirma.
Diversas ativistas cobraram
medidas legais para que Douglas seja responsabilizado pela agressão. A Delegada
de Polícia Civil em Contagem (MG), Renata de Oliveira Lima, responde: “A lei
11.340/06 foi publicada em 7 de agosto de 2006 e passou a ser aplicada somente
no dia 22 de setembro, ou seja, há oito anos. Assim, pelo princípio da não
retroatividade da lei penal mais gravosa, as disposições da Lei Maria da Penha
não se aplicariam ao crime supostamente cometido por Douglas”. Segundo a
delegada, devido ao prazo prescricional, Ferreira não poderia ser punido
criminalmente por este fato, ainda que se comprove verdadeiro.
No entanto, Lima acrescenta que
Douglas ainda poderia ser processado pela vítima: “Eu entendo que a suposta
vítima pode acionar o participante, na esfera cível, por dano moral, caso
deseje, uma vez que a forma como ele a expôs e como se referiu a ela foi
pejorativa, e ele pode ter que responder; mas, como já disse, somente na esfera
cível.”
Por outro lado, a insatisfação
dos movimentos sociais com a Rede Globo e o Big Brother Brasil vêm se
acumulando desde a última edição do programa, em que o modelo Daniel Echaniz
foi acusado de estuprar outra participante enquanto ela se encontrava
inconsciente. Para Mariana Messias, casos assim demonstram a omissão da grande
emissora e sua intenção de promover, deliberadamente, ideias de violência e
discriminação. “O que não entendo, nesse contexto, é que não exista punição”,
protesta. “Não entendo como reforçar discurso de ódio, dar abertura para a
prática de diversos tipos de violência contra a mulher, de maneira pública, não
seja punido. Entendo que a emissora opere nessas regras e não esteja nem aí pra
nada, mas e o Estado, porque não se coloca de maneira veemente? Somos obrigadas
a apenas aceitar que a maior rede de televisão do país incentive a violência,
torne corriqueiras práticas que são crimes, faça as vozes que se opõe a isso
parecerem exageradas?”, questiona.
A delegada Renata de Oliveira
Lima é clara: “A Rede Globo, como concessão pública, pode ser acionada para
responder administrativamente, pela violação de diretriz estabelecida na
Constituição Federal e citada na Lei Maria da Penha, que não tem somente o
âmbito criminal, na qual são previstas medidas protetivas de urgência, prisão
de agressores, etc. Entre os artigos previstos está artigo 8º, que trata das
medidas integradas de prevenção”. Segundo Renata, o artigo visa coibir a
violência contra a mulher tendo, entre as diretrizes, o respeito nos meios de
comunicação social, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou
exacerbem a violência doméstica e familiar. “Ou seja, uma associação com
atuação na área de defesa dos direitos da mulher ou o Ministério Público podem
acionar a emissora pela legitimação da violência de gênero, no programa BBB,
mas não só”, conclui.
Apesar disso, a delegada salienta
que o combate à violência contra a mulher não deve ter como única alternativa a
via criminal, que não tem sido plenamente efetiva. “O direito penal não pode
ser a única solução”, pontua. “Eu tenho mais esperança que mais e mais vozes
estão percebendo que a violência de gênero é um verdadeira epidemia e precisa
de medidas de controle e saneamento, mas especialmente de prevenção, de
conscientização e da promoção de uma educação não-sexista, não-violenta. A
reação dos espectadores e das organizações da sociedade civil ao relato do
participante pode dar uma medida, seja da evolução, seja da necessidade de
medidas mais efetivas. E não se trata de ‘censura’, mas de responsabilização
pelos atos, algo que é comumente confundido, aparentemente de forma proposital,
por alguns defensores de ‘polêmicas’”.
A feminista Mariana Messias
reforça: “A baixa audiência que o BBB tem tido prova que a emissora zerou a
fórmula com suas tentativas de polêmicas baixas. Sei que estamos longe de viver
em um país que consiga fazer a autocrítica da maneira como se porta em relação
à minorias, mas as mulheres estão cada vez mais coesas e conscientes do que é
crime e mesmo do que não é e deveria [ser crime]. E mesmo descontando isso, a
população brasileira em geral está dizendo que não quer ver esse programa, que
ele é ruim. E nem expor mulheres a (possíveis) violências, com um espírito
sádico que se acha acima da punição, está ajudando nisso”.
Fonte: Jarid
Arraes, na revista Fórum
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