Depois de ter sofrido uma onda de
críticas e comentários racistas quando foi precocemente eliminada nos jogos de
Londres, em 2012, a judoca Rafaela Silva venceu muito mais que o ouro neste Rio
2016.
É brasileira, é negra, tem 24
anos e é a nova campeã olímpica de judo. Rafaela Silva conquistou esta
segunda-feira a medalha de ouro na categoria de -57 kg, na qual Telma Monteiro
trouxe o bronze para Portugal.
Venceu todas as cinco atletas que
encontrou. Na final, derrotou a número um do ranking mundial, a mongol Sumiya
Dorjsuren. Foi o esperado dia de glória de Rafaela Silva.
A judoca não só ganhou o primeiro
ouro para o Brasil nestes Jogos Olímpicos como fez história, ao tornar-se na
primeira mulher brasileira a ser campeã mundial e olímpica de judo.
Era uma vez na favela
É conhecida pela “fome de
competir”, mas o caminho até ao topo não foi fácil. Oriunda da favela da Cidade
de Deus (sim, a mesma do filme de Fernando Meirelles), Rafaela Silva teve uma
infância complicada. Diz que foi o desporto que a salvou: “A minha vida é o
judo. Se não fosse o judo, não sei onde estaria agora”.
Na favela, era uma menina que
gostava de bater nos rapazes. Os pais decidiram pô-la no Instituto Reação, uma
ONG carioca – criada por um outro judoca brasileiro vencedor de uma medalha
olímpica, Flávio Canto – que promove a inclusão social de crianças e
adolescentes de alguns dos bairros mais problemáticos do Rio de Janeiro através
do judo.
Na altura Rafaela tinha 5 anos e
já dizia que um dia iria competir nos Jogos Olímpicos.
A polémica racista
O sonho havia de realizar-se em
2012, com a participação nos Jogos Olímpicos de Londres, mas traria um sabor
amargo. Rafaela foi desclassificada no segundo confronto, por ter aplicado uma
técnica ilegal, sendo eliminada da competição.
O acontecimento gerou uma onda de
reações negativas e comentários racistas nas redes sociais. “Disseram-me que o
lugar dos macacos era na jaula, e não nas Olimpíadas, que eu era uma vergonha
para a minha família, que estava gastando o dinheiro que as pessoas pagavam de
imposto”, conta a atleta.
Rafaela Silva respondeu com
linguagem imprópria àqueles que a atacaram nas redes sociais e o caso gerou tal
polémica nos mediaque a Confederação Brasileira de Judo exigiu à judoca que
tornasse privadas as redes sociais.
Depois do sucedido, a atleta
mergulhou numa depressão. Esteve dois meses sem treinar e pensou desistir do
judo para sempre. Mas o treinador de Rafaela, Geraldo Bernardes, impediu-a.
“Não podíamos perder um talento
assim”, diz o treinador. Rafaela começou um intensivo processo de recuperação
psicológica que lhe havia de trazer de volta a autoestima e “a fome de
competição”..
O renascer do sonho
Em 2013, Rafaela venceu o ouro no
campeonato do mundo de judo e, a partir daí, nunca mais ninguém a parou.
Tornou-se sargento da marinha e preparou-se para estar ao mais alto nível no
Rio 2016. “Treinei muito depois de Londres porque não queria repetir o
sofrimento. E agora sou campeã olímpica”, diz a atleta.
E como a Arena Carioca fica mesmo
ali ao lado, os pais de Rafaela Silva, Zenilda e Luís Carlos, apanharam o
autocarro a partir da Cidade de Deus e puderam assistiram ao vivo à vitória
olímpica da filha.
“Mostrei aqui que uma pessoa
saída da favela pode tornar-se campeã. A lição que fica para as crianças é que,
se têm um sonho, batalhem”, disse Rafaela após a vitória.
Fonte: Geledes
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