Outro dia conversava com uma
amiga sobre como é difícil criar um filho que vê o pai raramente. Não porque o
relacionamento não tenha dado certo ou algum ressentimento possa atrapalhar,
mas porque por mais que a porta esteja aberta para a criança conviver com o
pai, ele não entra por ela.
Por Ju Umbelino Do Vila Mamifera
Vamos lá: quem nunca ouviu que a
mãe do filho de fulano só dá problema? Ele vê o filho quando quer, dá o
dinheiro achando que está ajudando (colega, não é nada além da sua obrigação) e
reclama horrores do quanto a mãe da criança só dá problema, cobra presença e
aquele papo todo de obrigações que os homens tem pavor, mesmo que seja por
alguns minutos.
O que muitas pessoas não entendem
e não filtram antes de soltar um “ah, mas é só pra te perturbar, não é?”, é que
a perturbação começa quando a mulher precisa de uma folga. Folga do tempo em
que ela cuida do filho de ambos, integralmente.
Que mãe solteira nunca ouviu que
precisa dar uma folga para o pai do seu filho? Porque ele trabalha demais, está
cansado demais ou está com algo de menos. Engraçado, né? Há homens que podem
ter a mesma profissão, menos ou mais tempo e se dedicam à família do mesmo
jeito. Enquanto alguém lida com um pai que tem tempo para tudo, menos para os
filhos, sempre vai ter plateia para aplaudir o pai que aparece quando dá. Mas
sempre será assim: se você trabalha fora, é a egoísta que não abre mão das
próprias coisas pelo filho. Se você não trabalha, é interesseira que só espera
a pensão. Ou seja, estaremos quase sempre erradas, e os homens – mesmo que
estejam a quilômetros dos filhos – estarão fazendo o melhor se pelo menos
cumprem a obrigação financeira com o filho.
vila2-256x300Cara de paisagem pra
tudo que ouvimos, mesmo fazendo toda a parte prática
Enquanto o pai não aparece,
alguém tem que fazer as compras, os lanches, os banhos, os dentes escovados,
ensinar o certo e errado, ensinar a se proteger, lidar com birras, preparar e
dar comida, ensinar dever, levar e buscar na escola, comparecer nas reuniões
escolares, levar ao hospital, trocar fraldas, mudar o vocabulário (adeus
palavrões)… e quem faz isso se o pai não está presente? A mãe! E isso não é
levado em consideração enquanto o pai caminha livre, sem preocupação com o bem
estar do filho ou em se fazer presente, já que a mãe faz papel de dois (ou de
três, porque o dia-a-dia com filhos, só quem passa diariamente sabe o quanto é
trabalhoso).
E sabe o que é mais curioso? Que
mesmo sobrecarregadas, sendo mulheres, mães, provedoras, cuidadoras,
enfermeiras, babás, professoras e tudo mais, ainda somos as bruxas que não
deixam os pais em paz. Com a mãe solteira, não há escala de trabalho que a
impeça de ser multitarefa e se virar para conciliar a vida com os filhos. Porque de filhos, nós não temos como tirar
licença, não é mesmo? Enquanto os pais que o são quando convém, curiosamente
arrumam tempo para viagens, jogos de futebol, saídas com amigos, namoricos… e o
filho é prioridade na vida de quem, então? Não consigo entender como ainda é
tudo obrigação da mãe, inclusive amor e carinho!
Nós, mães solteiras temos essa
mania de querer o melhor pro filho, cumprir várias funções e suprir a ausência
do pai, ou tentar fazer com que o progenitor perceba que ele é sim importante
na vida dos filhos. Mas isso não cabe a nós, sabia? Por mais que nossas
crianças sejam lindas, saudáveis e não entre na nossa cabeça como podem ser
deixadas de lado ou vistas quando é conveniente, precisamos entender que não
adianta forçar nada. Dar toques talvez funcione, mas não é uma receita de bolo
que dá certo com todo mundo.
Se você é mãe e solteira e
acredita que não existe ex pai e apesar de toda uma história -conturbada ou não
– o seu filho precisa e quer a presença
do pai, demonstre isso para o progenitor. Explique como seu filho se porta, os
questionamentos e deixe claro que ele é importante na vida do filho. Mas
entenda que se o pai não possui interesse em colocar o filho como prioridade,
não é ele que será uma prioridade na vida da criança. O que eu quero dizer: não
fique frustrada se após você correr atrás, tentar conversar e pedir uma
presença efetiva, esse pai não tenha percebido que o assunto em pauta é a
importância dele no dia-a-dia do filho e na divisão justa de direitos e deveres
de ambos os pais. Acontece mais do que você imagina. Se você tem equilíbrio
para saber separar as coisas e tentou uma aproximação, esse afastamento não é
uma escolha sua!
Nosso papel de mãe (e em muitos
casos de pai, também) é criar nossa prole da melhor forma possível. E quem faz
isso por ocasião, conveniência, talvez mereça o mesmo tipo de tratamento. Seja
pai, parente ou simplesmente alguém sem o mínimo de empatia e noção da
realidade.
Um dia, nossos filhos vão
crescer. E não vamos precisar falar para eles quem estava lá, quem fez tudo e
priorizou a vida e felicidade deles. Porque crianças observam tudo,
principalmente sobre quem está com elas, se é ou não por obrigação.
O que podemos fazer é para nossas
crianças. Então que o foco seja nelas e o pai que aparece raramente, faça o
papel que ele mesmo escolheu: o de coadjuvante. Pode ser uma pena, mas a nossa
parte diária, nós fazemos. Que os pais corram atrás dos seus filhos e parem de
reclamar sobre situações inexistentes ou exageradas. Que parem com as
desculpas, principalmente. E que um dia percebam que muitos pais solteiros (ou
não) dão conta do recado com muito amor, carinho e diálogo. Esses sim estarão
presentes nas lembranças de infância dos filhos. Se não temos pais presentes
para essas memórias, nossos filhos sempre nos colocarão nas suas nostalgias futuras.
Fonte: Geledes
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