sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Francisco e a outra metade da Igreja

No fundo da questão, está a questão crucial: se a Madalena recebeu de Jesus o encargo de anunciar também aos apóstolos o coração da Sua mensagem – Cristo é o Ressuscitado – por que ela, e com ela cada mulher, não poderia presidir a Ceia eucarística?

 A reportagem é de Luigi Sandri, publicada no jornal Trentino, 08-08-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Em junho, o pontífice elevou de "grau" litúrgico a celebração da festa de Santa Maria Madalena, que cai no dia 22 de julho. E, há uma semana, nomeou uma comissão de estudo sobre o diaconato feminino.


A "promoção" de Madalena não é um fato devocional qualquer, mas um modo para aprofundar a reflexão teológica sobre a mulher amada por Jesus e à qual – afirma o Evangelho – Ele, ressuscitado, confiou o encargo de anunciar aos "irmãos" a notícia de ser o Vivente.

Para compreender o porte da escolha de Cristo, é preciso lembrar que, naqueles tempos, no mundo judaico, o testemunho de uma mulher não tinha nenhum valor. Porém, indo contra a mentalidade corrente, Jesus confia a uma mulher a "missão" surpreendente de anunciar à primeiríssima comunidade cristã a Sua ressurreição.

Por isso, comentando esse evento capital, Tomás de Aquino definiria Maria Madalena como "apóstola dos apóstolos". Mas, historicamente, a "apóstola" (muitas vezes, mas indevidamente, misturando várias figuras evangélicas, confundida depois com uma "pecadora") não teve muito peso "teológico". E a Igreja se estruturou sobre o testemunho masculino e sobre uma organização patriarcal que excluiu as mulheres de todo "poder" sagrado.

No entanto, nos primeiros séculos, existiram as "diaconisas": qual era, porém, o seu papel efetivo? A essa pergunta, os teólogos deram respostas articuladas e controversas: de acordo com alguns, elas tinha, "poderes" reais, como os "diáconos"; de acordo com outros, não.

Para tentar dirimir a questão, Francisco nomeou uma comissão presidida por Dom Luis Francisco Ladaria, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, e composta por 12 competentes, incluindo seis mulheres.

No fundo da questão, está a questão crucial: se a Madalena recebeu de Jesus o encargo de anunciar também aos apóstolos o coração da Sua mensagem – Cristo é o Ressuscitado – por que ela, e com ela cada mulher, não poderia presidir a Ceia eucarística?

João Paulo II, em 1994, proclamou, como sentença a ser considerada "definitiva", a negação absoluta da ordenação sacerdotal da mulher. E Bergoglio, por sua vez, disse que quer manter "barrada" toda hipótese de mulher-padre.

Mas, se fosse superado o conceito de sacerdócio, nunca previsto por Jesus, e se tomasse o caminho dos "ministérios", ou seja, dos "serviços" úteis à comunidade cristã, talvez o papel de Maria Madalena seria redescoberto, e, portanto, as mulheres também poderiam, hoje, desempenhar qualquer papel eclesial, como, aliás, já ocorre em quase todas as Igrejas ligadas à Reforma.

Mas é impensável que a pequena comissão vaticana recém-nascida toque nessa árdua problemática. Só um novo Concílio geral da Igreja Romana (aberto a homens e mulheres) poderia desmantelar o machismo eclesiástico e também acolher nos ministérios "a outra metade da Igreja".

Fonte: Ihu

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