No fundo da questão, está a questão crucial: se a Madalena recebeu de Jesus o encargo de anunciar também aos apóstolos o coração da Sua mensagem – Cristo é o Ressuscitado – por que ela, e com ela cada mulher, não poderia presidir a Ceia eucarística?
Em junho, o pontífice elevou de
"grau" litúrgico a celebração da festa de Santa Maria Madalena, que
cai no dia 22 de julho. E, há uma semana, nomeou uma comissão de estudo sobre o
diaconato feminino.
A "promoção" de
Madalena não é um fato devocional qualquer, mas um modo para aprofundar a
reflexão teológica sobre a mulher amada por Jesus e à qual – afirma o Evangelho
– Ele, ressuscitado, confiou o encargo de anunciar aos "irmãos" a
notícia de ser o Vivente.
Para compreender o porte da
escolha de Cristo, é preciso lembrar que, naqueles tempos, no mundo judaico, o
testemunho de uma mulher não tinha nenhum valor. Porém, indo contra a
mentalidade corrente, Jesus confia a uma mulher a "missão"
surpreendente de anunciar à primeiríssima comunidade cristã a Sua ressurreição.
Por isso, comentando esse evento
capital, Tomás de Aquino definiria Maria Madalena como "apóstola dos
apóstolos". Mas, historicamente, a "apóstola" (muitas vezes, mas
indevidamente, misturando várias figuras evangélicas, confundida depois com uma
"pecadora") não teve muito peso "teológico". E a Igreja se
estruturou sobre o testemunho masculino e sobre uma organização patriarcal que
excluiu as mulheres de todo "poder" sagrado.
No entanto, nos primeiros
séculos, existiram as "diaconisas": qual era, porém, o seu papel
efetivo? A essa pergunta, os teólogos deram respostas articuladas e
controversas: de acordo com alguns, elas tinha, "poderes" reais, como
os "diáconos"; de acordo com outros, não.
Para tentar dirimir a questão,
Francisco nomeou uma comissão presidida por Dom Luis Francisco Ladaria,
secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, e composta por 12 competentes,
incluindo seis mulheres.
No fundo da questão, está a
questão crucial: se a Madalena recebeu de Jesus o encargo de anunciar também
aos apóstolos o coração da Sua mensagem – Cristo é o Ressuscitado – por que
ela, e com ela cada mulher, não poderia presidir a Ceia eucarística?
João Paulo II, em 1994,
proclamou, como sentença a ser considerada "definitiva", a negação
absoluta da ordenação sacerdotal da mulher. E Bergoglio, por sua vez, disse que
quer manter "barrada" toda hipótese de mulher-padre.
Mas, se fosse superado o conceito
de sacerdócio, nunca previsto por Jesus, e se tomasse o caminho dos
"ministérios", ou seja, dos "serviços" úteis à comunidade
cristã, talvez o papel de Maria Madalena seria redescoberto, e, portanto, as
mulheres também poderiam, hoje, desempenhar qualquer papel eclesial, como,
aliás, já ocorre em quase todas as Igrejas ligadas à Reforma.
Mas é impensável que a pequena
comissão vaticana recém-nascida toque nessa árdua problemática. Só um novo Concílio
geral da Igreja Romana (aberto a homens e mulheres) poderia desmantelar o
machismo eclesiástico e também acolher nos ministérios "a outra metade da
Igreja".
Fonte: Ihu
Nenhum comentário:
Postar um comentário