Poderia ser Maria, a santa mãe de
Jesus. Mas era a trabalhadora doméstica Terezinha Maria, de 40 anos, mãe do
Cristo da vez, o menino Eduardo de Jesus Ferreira, 10 anos de idade,
assassinado com um tiro de fuzil a queima roupa dentro de casa. E o que mais há
de se fazer? Talvez esperar que a Páscoa nos faça mais que lembrar uma
ressurreição simbólica, mas que nos provoque a insurreição necessária.
Por Douglas Belchior Do Negro
Belchior
Quinta-feira santa. Complexo do
Alemão, zona norte do Rio de Janeiro. Mas poderia ser Capão Redondo, em São
Paulo, Cabula, em Salvador, ou Terra Firme, em Belém do Pará.
E os gritos desesperados da mãe:
“Léo, acabaram com a vida do seu irmão. Léo, meu filho, a polícia atirou na
cabeça do meu filho dentro de casa! Eles são covardes, Léo…”
Poderia ser Maria, a santa mãe de
Jesus. Mas era a trabalhadora doméstica Terezinha Maria, de 40 anos, mãe do
Cristo da vez, o menino Eduardo de Jesus Ferreira, 10 anos de idade,
assassinado com um tiro de fuzil a queima roupa dentro de casa.
Jesus de Nazaré tivera direito a
julgamento. Morte, só depois de condenado pelo juri popular. Já Eduardo, não
terá chance sequer de ser alvo fácil dos efeitos de uma possível redução da
maioridade penal.
Segundo testemunhas, um policial
fardado e com o rosto escondido por um capuz atirou e ficou olhando. Depois,
ameaçado pelos moradores, teria fugido mata adentro.
Desde quarta-feira (01/04), além
do menino Eduardo, outras seis pessoas foram baleadas no Complexo do Alemão.
Três morreram. Todas mortes suspeitas de serem fruto de ação policial.
A justificativa é sempre a mesma:
o combate ao tráfico e ao crime organizado. Já as mortes ocorrem quase sempre
nas mesmas condições, “trocas de tiros entre bandidos e policiais”.
Mas os crucificados, mortos e
sepultados são sempre os mesmos: moradores, jovens, negros e pobres.
Na sexta-feira da paixão, ligo a
TV e em todos os canais a notícia é: alguém “importante” perdeu o filho em
acidente de helicóptero. Sim, a Páscoa será triste também. Meu respeito a todas
as dores. Mas há uma morte natural, acidental ou decorrente da doença
incurável. E outra – a maioria delas – resultado do descaso, do preconceito e
da violência gratuita. Uma bala de fuzil disparada por um agente público em
serviço, ao encontro do corpo franzino de um menino de 10 anos, não merece
atenção? Não merece debate, cobertura, preocupação? Por que não?
E o que mais há de se dizer? E o
que mais há de se fazer? Talvez esperar que a Páscoa nos faça mais que lembrar
uma ressurreição simbólica, mas que nos provoque a insurreição necessária.
Estado brasileiro, governos e
polícias: nossos Pilatos com mãos lavadas em sangue!
Resistência contra a violência
policial
Movimentos Sociais e moradores
das comunidades resistem de maneira permanente contra a opressão e a violência
impostas pelas polícias instaladas nas UPPs, no Rio de Janeiro. Através das
FanPages Deixem as Favelas em Paz,Fim da UPP e Ocupa Alemão, ações de protestos
e atos de resistência são divulgados.
Nesta sexta-feira (03/04),
protestos dos moradores do Complexo foram duramente reprimidos com balas e
bombas de gás lacrimogênio. Outras duas mobilizações estão confirmadas para os
próximos dias:
ATO TODOS SOMOS VÍTIMAS
Sábado, 04 de Abril – 10h00 da
manhã | Entrada da Grota
O Coletivo Papo Reto, as
associações de moradores e diversos moradores do Complexo do Alemão estão
convidando a todos para um protesto em favor das vítimas da violência.
PAREM A GUERRA NA PERIFERIA IMEDIATAMENTE!
Quarta-feira, 08 de Abril, a
partir das 17h00
Marcha de denúncia da violência
policial terá concentração no Largo do Machado, em direção ao Palácio
Guanabara. Serão confeccionados cartazes no local a partir das 17h e a
caminhada deverá iniciar às 18h.
Fonte: Geledés
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