A série de desastres produzidos
pela publicidade brasileira inclui, entre outras coisas, objetificação da
figura feminina, culpabilização da vítima e culto ao padrão branco de beleza.
Confira as 10 propagandas mais machistas e racistas do último ano.
Por Anna Beatriz Anjos e Jarid
Arraes, Revista Fórum, no Pragmatismo Politico
Palmolive – “Longo Sedutor”
TRESemmé – “Selagem Capilar”
Com a frase “meu cabelo liso
ressalta o melhor de mim”, a marca de produtos capilares exibe uma modelo negra
como símbolo de sua propaganda. A mensagem é clara: o melhor que uma mulher
negra pode possuir em si é algo que se faz notar apenas com a aproximação ao
padrão de beleza branco. É verdade que algumas pessoas de pele escura têm os
cabelos naturalmente lisos, mas basta um pouco de consciência e responsabilidade
social para perceber, preferencialmente antes de aprovar a peça publicitária,
que vivemos uma epidemia de alisamentos e que o cabelo crespo ainda é alvo dos
mais agressivos tipos de rejeição e preconceito.
Mr-Musculo-propaganda
Para vender produtos de limpeza,
a marca recorre à antiquíssima ideia de que os afazeres domésticos são tarefas
femininas. Em suas peças publicitárias, são exibidas mulheres cuidando da
limpeza, preocupando-se com a manutenção da casa e caindo de exaustão após uma
faxina. Para piorar, a empresa chegou a publicar uma peça afirmando que a
mulher só poderá buscar seus objetivos e sonhos depois de limpar a casa.
Posto Ipiranga
Anúncio da Skol e a intervenção
de Mila Alves e Pri Ferrari. A foto teve mais de 8 mil curtidas no Facebook /
Foto: Reprodução
O anúncio da marca de cervejas
trouxe à tona os aspectos mais machistas e violentos do Carnaval. Ignorou,
sobretudo, a noção de consentimento, algo que ocorre corriqueiramente em nosso
país, mas é levado às últimas consequências no feriado em questão. A peça dá a
entender que a negação da mulher às investidas sexuais alheias pouco importa,
principalmente se tiver consumido bebidas alcoólicas – como a divulgada pela
propaganda – ou se estiver vestida com roupas curtas, encaradas por si só como
“convite” e “permissão” à invasão de seu corpo.
Ministério da Justiça – “Bebeu,
Perdeu”
Em campanha para combater o
consumo de álcool por parte de crianças e adolescentes, o Ministério da Justiça
acabou produzindo uma peça extremamente machista, que culpabiliza a mulher vítima
de atos praticados sem o seu consenso, desde um estupro à divulgação de vídeos
íntimos – o famoso revenge porn. Dessa forma, insinua, ainda, que as mulheres
que bebem, por exemplo, pedem para ser abusadas e, por isso, não têm direito a
nenhum tipo proteção. Depois da desastrosa repercussão da propaganda nas redes,
o órgão a retirou de circulação e pediu desculpas em sua página no Facebook.
Itaipava – “Verão”
Mais um anúncio machista que,
acima de tudo, objetifica e hiperssexualiza a figura da mulher. Ao fazer a
comparação entre o volume de cerveja contido nos recipientes comercializados
pela marca e o silicone dos seios da modelo, a peça a coloca à disposição dos
homens, que podem, teoricamente, escolher a “embalagem” de sua preferência.
Além disso, ainda exalta o padrão de beleza branco e esbelto, que dificilmente
deixa espaço a quem não corresponde a ele, como as mulheres gordas e negras
(estas, quando atingem visibilidade, aparecem de maneira ainda mais
sexualizada).
Fast Shop – Semana da Mulher
Uma das mais catastróficas peças
produzidas para “comemorar” o último Dia Internacional da Mulher, reforça o
estereótipo sexista de que as tarefas relacionadas à vida doméstica são
responsabilidades exclusivamente femininas. Como se não bastasse, sugere a
compra de uma máquina de lavar para que a mulher, vista sempre como uma dona de
casa, “tenha mais tempo livre”. A loja responsável por tal infelicidade parece
ter esquecido que a “jornada dupla” socialmente imposta às mulheres trabalhadoras,
é um fardo enorme que lhes toma tempo e as impede, muitas vezes, de manter
maior foco em questões profissionais, como podem fazer os homens sem nenhum
impeditivo.
Always – 0% Vazamentos
Em um dos maiores desastres da
publicidade brasileira, a marca de absorventes tentou engatar uma campanha de
conscientização sobre fotos e vídeos íntimos publicados sem o consentimento das
mulheres. O equívoco foi imenso: até mesmo a ONG Safernet, que deveria ser
responsável pelo conteúdo informativo e legal, reforçou a ideia de que as
mulheres são culpadas pelas fotos vazadas, indicando que não tirem fotos
íntimas caso não queiram aparecer na internet. Em nenhum momento a propaganda
falou sobre a responsabilidade dos homens que divulgam o conteúdo sem permissão
e de forma criminosa. Para completar o desastre, a Always exibiu a modelo
Sabrina Sato como atrativo sexual para chamar atenção da audiência durante a
campanha.
Risque-campanha-homens-que-amamos
Com o objetivo de “homenagear” os
homens por comportamentos sexistas, a marca de esmaltes achou que seria uma boa
ideia reforçar o clichê do “homem que ajuda” ao lançar sua nova coleção –
porque para um homem basta cozinhar o jantar ou lavar alguns pratos sujos de
vez em quando para conquistar o amor das mulheres. Entre outras máximas
sexistas, a marca de esmaltes não promove nenhum conteúdo positivo para o
público feminino, além de propagar uma heteronormatividade equivocada, já que
muitas mulheres nem sequer se sentem sexualmente atraídas por homens.
Fonte: Geledes
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