Com uma campanha recheada de
machismo e sexismo, a nova linha de esmalte Outono/Inverno 2015 da Risqué
“Homens que Amamos” está gerando polêmica em redes sociais como o Twitter. Controversa,
a linha que se diz inspirada “nos homens que fazem a diferença na vida das
consumidoras” traz um texto que, além de objetificar homens, generaliza e futiliza mulheres, reduzindo
suas expectativas e paixões a “homens” e “esmaltes”.
A marca de esmaltes Risqué
enfrenta uma onda de contestação após o lançamento de sua nova coleção. Com o
nome Homens que Amamos, o conjunto de seis esmaltes faz "tributo aos
pequenos gestos diários dos homens" e homenageia "os homens que fazem
a diferença na vida das consumidoras".
Os tons, que vão do laranja ao cinza chumbo, passando pelo preto,
chamam-se "André fez o jantar", "Fê mandou mensagem",
"Guto fez o pedido!!", "João disse eu te amo" , "Léo
mandou flores" e "Zeca chamou pra sair". Mas as consumidoras
enxergaram apenas o tom de machismo do lançamento da marca e foram à internet
expor suas opiniões sobre o riscado. E a reação foi bastante óbvia: fazer o
jantar, dizer que ama e chamar para sair são prerrogativas de qualquer
relacionamento normal — nada merecedor de homenagens.
Poucas coisas são mais femininas
no Brasil do que pintar as unhas regularmente em nome da auto-estima. Trata-se
de um território tão fechado entre as mulheres quanto as quadras de futebol já
foram para os homens. Por isso, a tentativa da marca de esmaltes Risqué, da
empresa Hypermarcas, de brincar com essa rotina com uma campanha “Homens que
amamos”, cutucou o fígado de parte do público que pretendia agradar. A coleção,
que traz nomes de esmaltes sugestivos como “André fez o jantar”, “Fê mandou
mensagem”, “João disse eu te amo”, soaram como um soco no estômago de uma
multidão de internautas, que reagiram imediatamente nas redes sociais, alçando
a hashtag #Homensrisque para o topo do Twitter.
“Cláudio troca fralda uma vez por mês e diz
que a mulher dele tem sorte, porque tem *ajuda* em casa”, escreveu Tergiversa.
“Bruno não queria assumir o filho e mandou assassinar Elisa”, provocou
Catarina, em clara referência ao ex-goleiro Bruno, do Flamengo, que mandou
matar a amante. “Guilherme é contra o aborto, mas quando a ex-namorada
engravidou, ele mudou de cidade”, escreveu Primadonna. Até mesmo homens se
incomodaram com a brincadeira e foram direto na veia de quem criou a nova
linha. “Oswaldo é diretor de marketing e acha boa ideia valorizar cultura
machista em campanha”, tuitou Gustavo.
Num país onde a vaidade engorda
uma indústria da beleza independentemente de crise econômica, o esmalte pode
ser considerado um item democrático que serve a todas as classes sociais – os
preços começam por volta de quatro reais. Em 2013 os esmaltes movimentaram 662
milhões reais no país, ou 14,27% a mais em relação a 2012, segundo a Associação
Brasileira da indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC).
E a perspectiva é de expansão, apoiada exatamente na diversificação de cores
das pinturas que embelezam pés e mãos das brasileiras. Combinar cores de
esmalte, batom e roupas é uma atividade lúdica do universo feminino. Assim,
sempre ganham destaques os nomes dos esmaltes inventados pelas marcas. “Inveja
boa” e “Preguicinha”, da própria Risqué, divertem as moçoilas, assim como
“Algodão Doce”, “Paetê”, “Banho de Chuva”, “Grama molhada”, da marca Colorama.
As paródias se espalharam pela
internet, como essa, feita pelo site Lugar de Mulher.
Rachel Moreno, do Instituto
Opinião, acredita que há uma certa de zona de conforto no mercado de
publicidade que já não responde aos novos tempos. “Acho que os publicitários
estão tremendamente preguiçosos e vão em coisas mais fáceis e batidas. As
mulheres estão cansadas de serem tratadas dessa forma”, diz Moreno. Ela lembra
o número de campanhas que feriram a dignidade feminina nos últimos tempos, como
as propagandas de cerveja que retratam as mulheres como objeto, e até a
iniciativa do Ministério da Justiça de orientar o público feminino sobre os
malefícios do álcool.
Vários voltaram atrás. Até
porque, as mulheres respondem por mais de 80% das decisões de compra no mercado
de consumo, seja para ela mesma ou para a família. Logo, ir contra esse público
pode ser um mau negócio. A Hypermarcas, por ora, não mostrou qual será a sua
orientação. Em comunicado depois da polêmica nas redes sociais, a empresa
afirmou que “A coleção ´Homens que Amamos´ foi inspirada em gestos de carinho e
respeito vindos de pessoas que amamos. A marca considera todo tipo de discussão
positiva e reafirma que está sempre atenta aos comentários de seus
consumidores”.
Moreno acredita que as empresas
tendem a voltar rápido atrás pois o temor do boicote é maior do que arriscar-se
a manter uma 'ousadia' questionável. “Está na hora de buscar um olhar mais
sofisticado para falar com as mulheres”, propõe. O público feminino já é uma
preocupação permanente para algumas companhias, que passaram a promover
mulheres para postos chaves, como é o caso da GM. A indústria de automóveis
nomeou Mary Barra como a CEO mundial para se aproximar das consumidoras, que
são justamente quem define as compras da família.
Fonte: ( Camila Moraes) El Pais
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