Menino de dois anos chorou e pediu a mãe que cortasse seu
cabelo crespo
Uma denúncia de racismo contra uma criança de dois anos e de
outras crianças na faixa de quatro anos mobilizou dezenas de alunos da UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais) e representantes do Grupo de Ações
Afirmativas da Faculdade de Educação da universidade, do Coletivo dos
Estudantes Negro (CEN) e do Centro Acadêmico do Curso de Ciências Sociais.
Na última sexta (20), eles protestaram na porta da UMEI
(Unidade Municipal de Educação Infantil) Alaíde Lisboa, no campus Pampulha, em
Belo Horizonte, onde teria acontecido o fato que causou revolta.
O motivo do protesto foi o mais recente caso de racismo
acontecido na creche pública administrada pela Prefeitura de Belo Horizonte,
onde estudantes da comunidade universitária deixam seus filhos.
Segundo relato da estudante de ciências sociais Ana Gabriela
Terena, seu filho, de apenas dois anos, afirmou ter sido instruído na escola
para cortar seu cabelo crespo. Em entrevista à Rádio UFMG Educativa, em reportagem
de Natália Andrade, a mãe contou o episódio.
Ana Gabriela revelou que o filho lhe pediu para que
“cortasse o cabelo, para que ficasse macio e cheiroso”. A mãe está indignada
com o ocorrido.
— Quarta-feira da semana passada soube pelo meu filho que
ele havia sido vítima de racismo. Meu filho de dois anos foi dormir chorando,
pedindo para que eu cortasse o cabelo dele.
Outros casos
Ainda de acordo com a denúncia das mães, outras crianças, na
faixa de quatro anos, sofrem discriminação por serem negras com omissão do
corpo de funcionários da UMEI Alaíde Lisboa.
Em conversa com a reportagem do R7, Ana Gabriela afirma que
“esta é a primeira denúncia pública, as outras ficaram restritas à direção da
UMEI”.
— Quis dar visibilidade a esta denúnica porque meu filho não
é a primeira vítima. Sabemos de casos de racismo na instituição desde 2009.
Ainda de acordo com a mãe, em reunião na última sexta (20)
com presença da direção, das mães e de representante da Secretaria Municipal de
Educação, ficou definida a criação de medidas para combater o racismo na
instituição.
— Queremos o comprometimento da escola e da Secrataria no
cumprimento da legislação que obriga o enfrentamento do racismo e a inclusão da
temática étnico-racial no currículo escolar, abordando a cultura
afro-brasileira e indígena. Afinal, a UMEI Alaíde Lisboa ainda é um espaço
elitizado, já que a maioria dos estudantes é filha da comunidade acadêmica, em
sua maioria branca. O negro é minoria também no sentido numérico na
instituição.
Prefeitura de BH
acompanha o caso
O R7 telefonou para a UMEI Alaíde Lisboa, mas ninguém atende
o telefone.
A reportagem também entrou em contato com a Secretaria
Municipal de Educação de Belo Horizonte. A assessoria informou que o órgão
acompanha o caso de perto, mas que não vai emitir nota a respeito.
Por telefone, a Secretaria ainda afirmou, por meio de sua
assessoria, que a UMEI Alaíde Lisboa comunicou ao órgão sobre o caso e a
manifestação e que este orientou os diretores da instituição. A Secretaria
ainda afirmou que convocará a mãe para uma reunião ainda nesta semana, para que
possa explicar o caso à entidade. E que o Núcleo de Relações Étnico Raciais acompanhará
tudo de perto.
A Secretaria ainda informou que realiza formação do
professor para que utilize em sala de aula as diretrizes curriculares
étnico-raciais. E informou também que, na sexta (20), foi entregue um kit de
literatura afro-brasileira para os professores.
Segundo o órgão, caso seja comprovado racismo por parte de
algum funcionário da UMEI Alaíde Lisboa, este será encaminhado para
Corregedoria Geral do Município de Belo Horizonte
Ironicamente, o logotipo da UMEI Alaíde Lisboa é uma
bonequinha negra, em referência à personagem A Bonequinha Preta, que deu título
ao famoso livro da autora mineira Alaíde Lisboa (1904-2006), que dá nome à
escola.
Fonte: R7 e Geledes
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