Para centenas de milhares de
comunidades cristãs do continente, Oscar Romero foi desde o dia do seu martírio
considerado santo e invocado como São Romero da América Latina, num profundo e
certeiro reconhecimento do "sensus fidelium” de sua santidade e do sentido
de sua morte: seu empenho em favor da paz, sua luta contra a pobreza e a
injustiça e sobretudo a declarada oposição à infame guerra de "baixa
intensidade”. A guerra, no pequeno El Salvador, na época, com pouco mais de 5
milhões de habitantes deixou mais de 70.000 mortos e 1,5 milhão de refugiados,
a maior parte exilados nos Estados Unidos.
Neste dia 24 de março, completam-se 35 anos da morte do bispo salvadorenho. Nessa data, em 1980, que era um Domingo de Ramos, Dom Oscar
Armulfo Romero foi atingido com um disparo no coração por um atirador do
exército salvadorenho, enquanto celebrava uma missa na capela do hospital da
Divina Providência, na Colônia Miramonte, em San Salvador, capital
salvadorenha.
Ele foi perseguido durante a Guerra Civil do país, conflito
armado que se estendeu de 1980 a 1992 entre o governo de direita e a guerrilha
de esquerda, deixando 75 mil mortos.
Progressista latino-americano, Dom Romero assumia postura de
defesa dos índios, pobres e perseguidos políticos pelas milícias paramilitares.
Semanas antes de sua morte, Monsenhor Romero intensificou as denúncias contra o
governo salvadorenho e militares por violações aos direitos humanos no país.
Dom Romero foi morto no altar da igreja, enquanto celebrava
missa. Foto: Reprodução.
No esforço contra a repressão, o religioso chegou a pedir
aos Estados Unidos que interrompessem a ajuda militar a El Salvador. Os EUA,
que temiam o avanço de processos semelhantes ao da Revolução Cubana na América
Latina e ameaçassem sua política econômica imperialista, apoiavam as forças
governistas salvadorenhas e financiavam a repressão, transferindo em torno de
US$ 7 bilhões às forças estatais e não estatais durante um período de 10 anos.
Pela luta, Dom Romero tornou-se um dos símbolos da Teologia
da Libertação na América Latina. Até hoje, o crime não foi julgado pelo Estado
de El Salvador. A Lei de Anistia do país, assinada em 1993, deixou centenas de
crimes, inclusive o assassinato do arcebispo, sem aplicação da Justiça. Um
informe da Comissão da Verdade do país aponta o militar e fundador do Partido
ARENA (Aliança Republicana Nacionalista) Roberto D'Aubuisson Arrieta, morto em
1992, como um dos mentores do crime.
Beatificação
Vinte e um anos após iniciado o processo, o Papa Francisco
aprovou no 03 de fevereiro, o decreto para a beatificação do arcebispo
salvadorenho Óscar Arnulfo Romero, conhecido defensor dos pobres e expoente da
Teologia da Libertação na América Latina, assassinado no altar de uma igreja em
1980, por um comando de extrema direita, enquanto celebrava uma missa. A beatificação será realizada em 2015 na
capital.
Dom Óscar Romero defendia pobres e perseguidos pela
repressão militar. Foto: Reprodução.
O processo tramitava desde março de 1994. Nos últimos anos,
enfrentou uma fase de paralisação. Observadores do Vaticano explicam que a
Igreja temia que a atuação do arcebispo fosse associada à Teologia da
Libertação, movimento de teologia política que interpreta os ensinamentos de
Jesus Cristo em torno da libertação de injustas condições econômicas, políticas
e sociais, optando pela defesa dos oprimidos. Durante os pontificados de João
Paulo II (1978-2005) e Bento XVI (2005-2013), esse viés teológico foi
fortemente rejeitado pela Igreja. Com a eleição do Papa Francisco (2013), no
entanto, o processo foi acelerado.
Com a aprovação do decreto, Dom Romero é reconhecido como
mártir. Em informe, o Vaticano ressaltou a relação entre Francisco e a atuação
arcebispo: "O mundo mudou muito desde aquele longínquo 1980, mas o pastor
de um pequeno país da América Central fala mais forte. Não deixa de ser
significativo que sua beatificação tenha lugar enquanto na cátedra de Pedro
está, pela primeira vez na história, um papa latino-americano, que quer uma
'Igreja pobre para os pobres’. Há uma coincidência providencial”, divulgou a
Igreja Católica.
Para saber mais:
Fonte: Adital
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