O estigma social das bruxas, como
seres maléficos, feios e velhos sempre me incomodou muito.Essa necessidade de sempre classificar, demonizar o que foge da “normalidade” tem seus conceitos muito bem enraizados há séculos atrás.
Por Michele Távora
Esse ódio pelas mulheres
curandeiras, benzedeiras, mães e sacerdotisas nasceu há séculos atrás e teve
seu auge com a publicação do livro Malleus Malleficarum (Martelo das Bruxas)
escrito pelos dominicanos Kramer e Sprenger em 1486, um verdadeiro manual de
Caça às Bruxas.
Kramer foi considerado insano
pela Igreja e condenado em 1490, mas o livro continuou sendo publicado,
ajudando fortemente a disseminar e incitar o ódio contra mulheres que tivessem
conhecimentos sobre ervas e ousassem competir, mesmo que não fosse essa a
intenção, com os únicos detentores da conexão espiritual-Deus e os homens.
Protestantes e adeptos do
Cristianismo diziam não legitimar a obra Malleus Malleficarum mas entraram na
onda de histeria e foram responsáveis por mais de nove milhões de crimes
durante a Inquisição, a Era das Fogueiras.
A sabedoria pagã, conhecimentos
ancestrais sobre ervas e plantas, era passada por oralidade. Como medida de
proteção, os próprios “bruxos e bruxas” ajudaram a propagar a ideia de que
seriam seres velhos, disformes, caricatos, de que não passavam de lendas, numa
tentativa de enfraquecerem seus poderes e assim quem sabe, as perseguições
diminuíssem.
As perseguições e matanças só
foram extintas no século XVIII mas ainda hoje temos os resquícios culturais
desse período histórico.
A figura da bruxa como um ser
horrendo, invejoso e transformadora de príncipes em sapos ainda é bastante
reforçada, as produções da Walt Disney são especialistas em divulgar esta
ideia.
Que o fogo das fogueiras que
queimaram milhares de mulheres, há séculos atrás, seja o mesmo fogo restaurador
e purificador, que nos limpa de todas as amarras do passado. Que este mesmo
fogo nos empodere e nos conecte, nos una nesta grande teia da VIDA.
São séculos e séculos de opressão
às mulheres, violências psicológicas cada dia mais refinadas e eficazes,
criando algemas mentais invisíveis e poderosas, enfraquecendo e escravizando
milhares de mulheres em relacionamentos doentios, uso de drogas e aceitando
condições na sociedade em que as colocam em lugares de inferioridade e
subserviência.
As que ousam se empoderar e tomar
as rédeas de suas vidas, estão muitas vezes sozinhas, são classificadas de
putas, vadias, feministas, feminazis e por aí vai…
Essa necessidade de sempre
classificar, demonizar o que foge da “normalidade” tem seus conceitos muito bem
enraizados há séculos atrás.
Mas estamos numa Era, numa Nova
Era, em que não suportamos mais viver enclausuradas mentalmente e as que não
conseguem lutar, estão ficando doentes, depressivas ou com síndromes de
ansiedade.
As religiões que fazem uso desses
conhecimentos ancestrais das ervas em seus cultos e rituais também são
fortemente atacadas e demonizadas.
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No que erramos em tratarmos
nossas vidas com os presentes da Natureza, em celebrarmos as estações, em nos
curarmos com tudo que vem dela, que é nosso, nos foi dado?
Erramos pois somos mestras de nós
mesmas, não damos lucro à nenhuma empresa e nem precisamos da benção da água
benta de nenhum padre e nem do óleo ungido de nenhum pastor.
Porque conhecemos a passagem
estreita entre a vida e a morte, sabemos do poder e da força que carregamos em
nossas entranhas, nos conectamos com a sagrada sabedoria que vem da Natureza,
somos senhoras de nós mesmas, não precisamos de ninguém para dizer por onde
devemos ir.
Vamos continuar sendo perseguidas
por vários séculos ainda. Está nas suas mãos deixar-se escravizar novamente ou
levantar-se e empoderar-se de si mesma.
Mulheres que dizem basta para
relacionamentos abusivos e opressores.
Mulheres que se demitem de seus empregos
e se tornam grandes empreendedoras.
Mulheres que não terceirizam a
educação de seus filhos.
Mulheres que usam de sua intuição
e da voz do coração e estão chegando em lugares inacreditáveis.
Mulheres que se libertam das
drogas vendidas em farmácias e respeitam seus corpos.
Mulheres que acessam os saberes
ancestrais e se curam com a ajuda da Natureza.
Mulheres que anulam toda a
competitividade criada culturamente e se aliam às outras mulheres, pois sabem
da força que possuem quando estão juntas.
É com essas que quero ficar.
Que o fogo das fogueiras que
queimaram milhares de mulheres, há séculos atrás, seja o mesmo fogo restaurador
e purificador, que nos limpa de todas as amarras do passado.
Que este mesmo fogo nos empodere
e nos conecte, nos una nesta grande teia da VIDA.
Agradeço imensamente à todas as
mulheres sagradas que fazem parte do movimento internacional do Ressurgimento
do Sagrado Feminino.
Autora: Michele Távora
Pedagoga e criadora do MagaTerra
Fitocosméticos, que tem por responsabilidade resgatar o poder químico natural
presentes na natureza na forma de cosméticos naturais, produzidos
artesanalmente.
Fonte: Geledés
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