Conheça a história de Maria, que
foi brutalmente agredida pelo marido, que queria matá-la
Se a vizinha não estivesse no
banheiro do apartamento ao lado, se o síndico não tivesse esmurrado a porta, se
a mãe não tivesse atendido o telefone, se o irmão não tivesse arrombado o
apartamento, se o hospital fosse mais longe, se a faca não fosse lisa… Foram
circunstâncias assim que levaram Maria (nome fictício) à vida.
Uns chamam
sorte; outros, milagre. Ninguém esperaria resultado diferente que não a morte.
Nem ela própria, segundo relatou certa vez. Não soube nunca de onde veio a
força. Mas lembrou-se de ter ouvido um sopro, a voz de Deus: “Arraste-se até o
banheiro”.
Ele tinha ido à cozinha pegar a
segunda panela de água quente, parte do arsenal que preparou para não só matar
a mulher, mas deixá-la desfigurada, irreconhecível. Seriam poucos instantes de
trégua, depois de uma hora de desespero. Os pés e as mãos estavam amarrados com
fios de eletrodomésticos. Os olhos perfurados, um deles sete vezes; o outro,
nove. Pulmões e costas esfaqueados. Rosto e braço queimados. Ainda assim, ela
se arrastou até o banheiro, ficou de pé, trancou a porta, chegou ao box, gritou
pelo basculante um pedido de socorro, ditou os números de telefone da família e
disse que o marido estava tentando matá-la. Depois disso, desmaiou.
O marido voltou para terminar o
que havia começado, mas não conseguiu arrombar a porta do banheiro. O síndico
chamou a polícia, ele fugiu. Maria foi encontrada pelo irmão e pela polícia.
Deitada no box, amarrada, queimada, esfaqueada 22 vezes. De lá para cá, foram
sete anos de privações, provações, tristezas, traumas, decepção com a Justiça.
Nada disso deixou menor o sentimento de alegria e gratidão por estar viva.
Quatro meses hospitalizada, dois anos de tratamentos médicos e psiquiátricos. A
mãe, que teve uma parada cardíaca ao vê-la no hospital, tornou-se cardiopata.
Viveria os próximos anos deixando tudo o que fazia para cuidar da filha 24
horas por dia. Por muitos e muitos dias, estaria com ela na hora do banho.
Nenhum lugar era seguro. Nem o banheiro, nem a casa, nem a rua, nem a cidade,
nem o mundo.
Fonte: Correio Braziliense
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