Pré-natal com qualidade e atendimento humanizado são alguns dos direitos das mulheres à saúde (Foto: Reprodução)
Segunda fase da mobilização
inclui ação em redes sociais e produção de folhetos e cartazes sobre saúde
sexual, direitos sexuais e reprodutivos, para distribuição em unidades básicas
de saúde, hospitais, escolas e organismos de políticas para as mulheres.
Materiais atendem necessidades identificadas pelas mulheres: cartões digitais,
folheto e cartazes
No Dia Mundial da Saúde, ONU e
governo brasileiro intensificam ações sobre direitos das mulheres em resposta
ao vírus zika/
A epidemia do vírus Zika tem
provocado diferentes impactos na vida das mulheres brasileiras, em idade
reprodutiva, revelando a necessidade de fortalecer o acesso e a garantia de
direitos e saúde sexual e reprodutiva. Neste Dia Mundial da Saúde (7/4), a ONU
Mulheres, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a Organização
Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e a Secretaria
Especial de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da Igualdade
Racial e dos Direitos Humanos iniciam a segunda fase das ações de comunicação
em favor dos direitos das mulheres em resposta ao vírus zika.
Por meio de cartões digitais para
as redes sociais, folheto e cartazes serão sensibilizadas gestantes e mulheres
em idade reprodutiva, homens e profissionais de saúde. Os materiais, produzidos
com o apoio da Embaixada do Canadá, serão distribuídos em unidades básicas de
saúde, hospitais, escolas, organismos de políticas para as mulheres, centro
comunitários e associações, especialmente nos estados do Nordeste e Norte. A
ação foi aprovada pela sociedade civil em encontro com a ONU.
No Dia Mundial da Saúde, ONU e
governo brasileiro intensificam ações sobre direitos das mulheres em resposta
ao vírus zika/
Campanha envolve profissionais de
saúde para acolhimento humanizado da população (Foto: Reprodução)
Em todo o Brasil, 4.046 casos
suspeitos de microcefalia estão em investigação, de acordo com o novo boletim
divulgado, em 5 de abril, pelo Ministério da Saúde. Desde o início das
investigações, em outubro de 2015, foram 6.906 notificações em 1.307 municípios
de todas as unidades da federação. Dos casos já concluídos, 1.814 já foram
descartados e 1.046 foram confirmados para microcefalia e outras alterações do sistema
nervoso, sugestivos de infecção congênita.
Ainda, nesta semana, o governo
brasileiro anunciou a capacitação de pelo menos 2 mil profissionais neste ano,
e mais 3 mil em 2017 e em 2018 para o cuidado pré-natal, assistência ao parto,
estimulação precoce, acompanhamento de crianças com microcefalia e atenção às
manifestações e complicações agudas relacionadas aos agravos. A formação será
feita por hospitais universitários.
Vozes das mulheres – A primeira
fase da mobilização de comunicação da ONU Mulheres começou em março, por meio
do engajamento voluntário da embaixadora da ONU Mulheres Brasil, Camila
Pitanga, na campanha nacional de comunicação do Ministério da Saúde de combate
ao Aedes Aegypti e da série dos programetes de rádio Viva Maria com Saúde,
apresentado pela jornalista Mara Régia. Especialistas em gênero, ativistas
feministas e profissionais de saúde têm discutido saúde e direitos das
mulheres. Os programetes de rádio são ofertados para cerca de 2.000 emissoras
de rádio pela Empresa Brasil de Comunicação.
No Dia Mundial da Saúde, ONU e
governo brasileiro intensificam ações sobre direitos das mulheres em resposta
ao vírus zika/
Embaixadora da ONU Mulheres
Brasil, Camila Pitanga, aderiu voluntariamente à campanha de combate ao Aedes
Aegypti do Ministério da Saúde (Foto: Reprodução)
Empoderamento das mulheres – Na
estreia do Viva Maria com Saúde, a diretora regional da ONU Mulheres para
Américas e Caribe, Luiza Carvalho, chamou a atenção que a resposta à epidemia
deve adotar o empoderamento das mulheres como princípio. “Mais do que nunca nós
temos de contar com os serviços de saúde disponíveis, para dar informação
correta e aconselhamento, mas também a uma gama de direitos. As mulheres têm de
ter, acima de tudo, o direito de optar qualquer que seja a sua decisão, ter
condições mínimas de tomar decisão livre de qualquer estigma, preconceito e
pressão social”, disse.
Vulnerabilidades de gênero e raça
– Já a enfermeira Emanuele Goés, integrante do Conselho Nacional de Saúde e
moradora de Salvador, comentou que a Bahia registrou os primeiros casos de
vírus zika. Desde o início da epidemia, em outubro de 2015, há 34 mil
notificações de zika, sendo 65% de mulheres. “A gente precisa pensar onde as
mulheres negras estão inseridas, a exemplo do em saneamento básico e saúde
preventiva. A Articulação de Mulheres Negras Brasileiras está levantando quem
são as mulheres mais vitimizadas por esse grande caos”, afirmou a enfermeira.
A médica Jurema Werneck, da ONG
Criola, alerta para a necessidade de dados desagregados por sexo e cor, para
avaliação do impacto da epidemia entre as mulheres. Para ela, a epidemia
precisa ser discutida num contexto de violação de direitos, dentre elas o
racismo. “O vírus zika surge onde outras epidemias já estavam soltas. Onde a dengue
e chikungunya já estavam colocadas. Onde outras mazelas como a falta de
saneamento básico, a falta de acesso à agua potável contínua, a falta de coleta
de lixo e a violação do direito de as pessoas de viverem numa comunidade
saudável. São as mulheres quem têm arcado com o custo mais alto de tentar
resolver os problemas das comunidades, das famílias e de resolver os próprios
problemas de enfrentar um conjunto de epidemias”, enumera.
Discussão pública – Para a
ativista Jacqueline Pitanguy, outro aspecto é a decisão das mulheres de
decidirem sobre a interrupção de gestações após o diagnóstico de vírus zika, o
que implicaria revisão da legislação brasileira sobre direitos reprodutivos.
“As mais de 100 milhões de mulheres do Brasil não percebem que o que está
acontecendo afeta a elas, às suas filhas e vai afetar as suas netas, porque há
um avanço na perspectiva criminalizante dos direitos reprodutivos. E isso é
gravíssimo em tempos de zika num conjunto de malformações dos fetos”, avalia.
No Dia Mundial da Saúde, ONU e
governo brasileiro intensificam ações sobre direitos das mulheres em resposta
ao vírus zika/
Homens são chamados para a
paternidade responsável e participativa (Foto: Reprodução)
A epidemia também revela o
abandono das mulheres por seus parceiros. E, para muitas mulheres, a solidão
faz parte do cotidiano e se mostra mais cruel da gestação até os tratamentos de
saúde para a crianças. “A microcefalia é apenas um dos problemas neurológicos
que o vírus pode causar. Há questões relacionadas a ouvir, a enxergar e sobre
como a criança poderá andar”, diz a antropóloga Débora Diniz, da Universidade
de Brasília (UnB).
Sala de Situação sobre Direitos
das Mulheres – Em março, a ONU Mulheres, o UNFPA e a OPAS/OMS promoveram
reunião com 25 organizações da sociedade civil e especialistas em saúde das
mulheres, instalando Sala de Situação para acompanhamento e incidência política
em prol do empoderamento das mulheres. O segundo encontro do grupo está
programado para os dias 14 e 15 de abril, em Recife, onde está concentrada a
epidemia.
Nos dias 22 e 23 de abril, em São
Paulo, acontecerá o 9º Seminário “A Mulher e a Mídia”, promovido pelo Instituto
Patrícia Galvão, com o apoio da ONU Mulheres. O evento abordará “Mídia, Zika e
Direitos das Mulheres”.
De acordo com Jacira Melo,
diretora do Patrícia Galvão, “Todas as mulheres e toda a população precisam ter
acesso à informação. As mulheres que estão no momento do seu planejamento
reprodutivo ou estão grávidas, elas precisam de informação porque vivem um
verdadeiro filme de terror, porque as informações são desencontradas, e quando
chegam aos serviços de saúde, não tem o teste para saber se foram contaminadas,
se estão com o vírus”, alerta em entrevista ao Viva Maria com Saúde.
Comunicação em saúde – Para
meados de maio, está prevista a terceira fase das ações de comunicação em saúde
e direitos das mulheres, desenvolvidas pela ONU e pelo governo brasileiro.
A TV Brasil exibirá série de
reportagens no telejornal Repórter Brasil e o especial Caminhos da Reportagem
sobre direitos das mulheres à saúde no contexto do vírus zika. Serão
apresentadas as realidades das mulheres de Pernambuco, onde a epidemia está
concentrada com mais de 1.800 casos de zika; Bahia, estado que possui sistema
mais consolidado de notificações; Paraíba, onde estão concentradas pesquisas
sobre vírus zika; e Maranhão, estado da Amazônia Legal mais afetado. Outro
produto em elaboração é radionovela, voltada para as emissoras públicas da
Amazônia e públicos da floresta, ribeirinhos, indígenas e quilombolas.
Fonte: ONU Mulheres
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