terça-feira, 12 de abril de 2016

Como encontrei Hilda Valentim

E tudo começou com um presente de um jornalista amigo de meu pai. Fui visitar Jáder de Oliveira, que vivia na Inglaterra, mas estava em visita a BH. Conversa vai, conversa vem, entre um caso e outro, ele fala sobre Paulinho Valentim. Comenta sobre o livro de Roberto Drummond, Hilda Furacão. Comento que gostaria de fazer uma reportagem inusitada sobre o casal. Ele pega uma mala e de lá tira um retrato. É o casal, quando vivia em Buenos Aires e ele jogava no Boca Juniors. Isso foi em 2003.

Vasculho o passado e conto uma história do amor de Paulinho e Hilda. O tempo passa. É véspera da Copa do Mundo de 2014. Estou em Sete Lagoas, para cobrir o Uruguai, ali concentrado. Uma noite, um telefonema. É um amigo de meu pai, Washington Melo, também jornalista, que me pergunta se pode passar meu telefone a uma amiga, do Rio. Explica que não é ela que quer falar comigo, mas uma amiga.
Sim, respondo. Na manhã seguinte, o telefone toca. Do outro lado, uma mulher, Marisa Barcello. É capixaba e diz que mora em Buenos Aires. Pergunta-me se fui eu mesmo que escrevi a matéria de 2003. Digo que sim e ela dispara: “Pois eu estou com a Hilda aqui, no asilo onde trabalho, em Buenos Aires”.
Fico doido. Quero ir a Buenos Aires, mas isso só seria possível depois da Copa. O Brasil perde para a Alemanha, é goleado. A viagem é liberada. Vou no dia seguinte. Chego ao Hogar de Ancianos Guillermo Rawson. Lá está Hilda, numa cadeira de rodas, assistindo à TV. Sorri. Só tem um dente, na parte de cima da boca. Falo que sou de BH e por alguns instantes ela se recorda da cidade. Começa a falar de seu amor, Paulinho Valentim, da vida que levavam, de joias, que não tem mais. Que descoberta!
O tempo passa. É dezembro de 2014. O telefone toca novamente. É Marisa, de novo. “A Hilda morreu. Será enterrada amanhã, no Cemitério Municipal aqui de Buenos Aires.” É o fim da vida carnal. No sepultamento, apenas ela, uma funcionária da embaixada brasileira e um médico do asilo. Chego à conclusão: “Fui o último a falar com ela. A mulher que se tornou um mito não existe mais. Sofria de Alzheimer. Mas tinha momentos de lucidez. Contou parte de sua história, suas poucas lembranças. Acho que o adeus foi quando o jornal noticiou a sua descoberta.”

Fonte: Estado de Minas

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