O Dia da Mulher não é pra ser uma
homenagem singela e bonitinha para as lindas mulheres sorridentes e fofinhas,
ah, essas mulheres, tão lindas e tão geniosas, mas que os homens amam. É um dia
pra botar todas as questões que precisam ser debatidas em pauta, é pra falar
sobre a luta dos direitos da mulher, não sobre TPM e manicure. Não é pra ter um
"tom leve".
Tom leve não combina com assunto
sério, daí tantas manifestações negativas a campanhas paternalistas. Algumas
pessoas vêm com aqueles papos de que as reações são desproporcionais, que deixa
disso, que não é tanto assim, que é frescura, que é exagero, que devemos também
falar das mulheres "normais". Como se a única agressão que contasse
fosse a física. Como se a única opressão que valesse fosse a explícita. Como
se, por exemplo, um padrão de beleza massacrante também não fosse uma forma de
opressão.
Entendo que para as pessoas menos
familiarizadas com o feminismo algumas coisas possam parecer exagero. Já fui
assim também. Achava algumas reações exacerbadas, motivadas por
"bobagem". Aí eu descobri duas coisas: primeiro: não temos o direito
de cagar regras sobre como alguém se sente a respeito de algo. Segundo: nenhuma
reação é exacerbada quando se trata de quebrar um paradigma milenar. Cada minicoisinha
conta.
Cada reclamadinha que a gente dá
pode gerar questionamento em alguém - apesar de gerar chacota dos que nunca
sentiram na pele o que a mulher passa e, por serem incapazes de empatia,
minimizam qualquer manifestação com o papinho da feminista histérica. Querem
uma feminista mansa, que não fale alto, que não incomode e fique no seu
lugarzinho. Não, né?
O dia 8 de Março é importante
pelo simples motivo de que a mulher ainda é oprimida. O dia em que formos
realmente tratadas como iguais poderemos transformar o dia em uma comemoração,
mas, por enquanto, ainda é um dia para abrir os olhos da galera que prefere não
saber, por exemplo, que sete de cada dez mulheres serão agredidas ao longo da
vida - este é um dado da ONU - e que essas mulheres não estão longe.
A violência acontece no seu
prédio. Na sua rua. Pode ser que aconteça na sua família, com a sua sobrinha,
sua vizinha, sua colega de trabalho, sua chefe, a chefe de sua chefe, uma
juíza, enfim. Pode ser que aconteça com você. Violência contra a mulher não
escolhe classe social. E a violência acontece porque ainda vivemos sob o
patriarcado, onde a mulher está abaixo do homem. Sim, conquistamos muitas
coisas, mas ainda não chegamos nem perto de realmente reestruturar o
funcionamento da sociedade para que seja igualitária e justa.
Temos um longo caminho pela
frente.
Enorme.
Milhares de anos precisando de
desconstrução e reconstrução.
Milhares de paradigmas
incrustados em nossas cabeças.
Milhares de estereótipos para
quebrar.
Anos e anos e anos e anos de
violência suportada em silêncio pra gritar.
*Originalmente publicado em
claraaverbuck.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário