Em todo o país, o machismo com
frequência arvora-se em carrasco, ceifando vidas de mulheres. A propagação do
feminino como mero objeto de consumo não suscita no homem respeito e
alteridade. Uma coisa é uma coisa. Manipula-se, usa-se, descarta-se.
Por Frei Betto
A propaganda vende quimeras. Não
se compra apenas xampu ou roupa. Compra-se, sobretudo, o sonho de ser uma entre
dez atrizes que lavam os cabelos com aquele produto ou a fantasia de tornar-se
tão sedutora quanto a jovem que entra fácil no jeans.
Destituída de mente e espírito, a
mulher é reduzida a formas e trejeitos. Não apenas os homens fazem da mulher
objeto do desejo. Basta observar capas de revistas femininas. Mulher se compara
à mulher na busca de melhor performance social, sexual e estética.
Se além da roupa, a moda dita um
corpo esquálido, a anorexia impõe-se como salário da vaidade. A medicina cria
um novo ramo para atender ao luxo da ditadura estética, como se o corpo que
foge ao modelo imperante portasse doenças e anomalias.
Essa cultura da glamourização
move a lucrativa indústria de cosméticos, publicações, esportes e academias de
ginástica. Sua isca é a mulher confinada à aparência e destituída de direitos,
subjetividade, ideias e valores. Dócil aos caprichos do mercado, o corpo vai à
leilão na feira de amostras das revistas maculinas.
Como estranhar que, na esfera da
realidade, as relações sejam conflitivas? Em todo o país, o machismo com
frequência arvora-se em carrasco, ceifando vidas de mulheres. A propagação do
feminino como mero objeto de consumo não suscita no homem respeito e
alteridade. Uma coisa é uma coisa. Manipula-se, usa-se, descarta-se.
Enquanto a mulher aceitar esse
jogo de marketing, movida pela quimera de ser tão bela quanto a fera, será
difícil cegar os olhos do machismo – tanto o masculino, que a submete; quanto o
feminino, de quem aceita ser submetida.
A exposição erótica da mulher é
uma humilhação do feminino, pois torna a beleza resultado da soma de meros
atributos físicos.
Marcello Mastroianni, que
entendia de mulheres, e quem encontrei em Moscou em 1986, considerava o mais
fascinante numa mulher a coerência de sua história de vida.
Mas isto não está à venda. É uma
conquista.
Fonte: Adital
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