Há décadas elas lutam por igualdade de direitos
em casa, no trabalho, frente ao próprio corpo e à sexualidade. Rejeitam
qualquer resquício de ideologia machista.
A diferença é que o movimento
feminista, antes predominante entre militantes mais abastadas e brancas,
transpôs barreiras graças à internet. Blogs e redes sociais garantem a
universalização do debate, hoje presente em qualquer classe social.
Durante muito tempo, explica a ativista Lola
Aronovich, o feminismo foi o movimento da elite branca, da mulher de classe
média alta. Na primeira “onda” de debates, no fim do século 19, o grito foi
pelo direito ao voto. Em meados dos anos 1970, veio a segunda onda: pela
valorização do trabalho da mulher, pelo direito ao prazer e contra a violência
sexual e a ditadura militar.
Mais recentemente, desde o início dos anos 90,
o movimento entra em sua fase mais inclusiva, que traz ao debate as negras, as
lésbicas e as transexuais. “Essa talvez seja a maior diferença que se possa
considerar hoje”, explica Lola, professora na Universidade Federal do Ceará
(UFC) e autora do blog Escreva Lola Escreva, um dos mais populares da internet,
com média mensal de 200 mil acessos.
Engajada nos movimentos, a administradora
belo-horizontina Adriana Torres compartilha do mesmo ponto de vista. “Não há
dúvidas de que a disseminação de informações, sobretudo pelas redes sociais,
facilitou a discussão de forma mais nivelada”, diz. Na avaliação dela, as
discussões, antes restritas a grupos fechados, são, agora, difundidas com facilidade
e servem de gatilho para milhares de campanhas virtuais.
Muitas bandeiras do ativismo resultaram em
conquistas. Outras permanecem na pauta, reformuladas e discutidas com mais
intensidade, como a descriminalização do aborto e o “direito” ao próprio corpo,
à semelhança do homem – que pode, por exemplo, andar sem camisa na rua sem ser
discriminado.
Engajamento
Há quem considere o movimento fora de contexto
para o século 21, mas episódios recentes mostram, ao menos para os ativistas,
que não é possível deixar a causa arrefecer. Gerou revolta no meio feminista
declarações, em um programa de TV, feitas pelo ator Alexandre Frota, que contou
ter deixado uma mulher inconsciente durante um uma relação sexual, supostamente
mantida sem o consentimento dela.
Sem perfil ou padrão
As feministas rejeitam estereótipos. “Quando a
gente não entende algo, combate. Existe uma imagem criada pela cultura machista
de que somos frustradas sexualmente ou que não gostamos de homem. Conheço
mulheres de todos os tipos, cores, tamanhos. É a diversidade humana. O que o
feminismo busca é justamente que a mulher possa ter a opção de ser o que ela é
sem precisar seguir as imposições da sociedade”, ressalta Adriana Torres.
Para a professora da Faculdade de Comunicação e
Artes da PUC Minas Lúcia Lamounier Sena, doutora em ciências sociais, as
conquistas foram positivas no sentido de encorajar novas adeptas, mas,
sobretudo, de estimular políticas repressivas pelo Estado. “As autoridades
passam a assumir a questão das mulheres, garantindo proteção, propondo leis e
promovendo políticas públicas”, diz.
Para que a evolução prossiga, avalia a
socióloga Lourdes Maria Bandeira, professora na Universidade de Brasília (UnB),
é preciso investir em uma nova educação de base, que resulte na mudança de
valores e das estruturas sociais. “Temos de reconstruir essa sociedade, em que
permanece arraigado o modo de ser masculino”.
Fonte: Hoje em dia
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