quarta-feira, 11 de março de 2015

Feminismo sem Fronteira

Há décadas elas lutam por igualdade de direitos em casa, no trabalho, frente ao próprio corpo e à sexualidade. Rejeitam qualquer resquício de ideologia machista. 

A diferença é que o movimento feminista, antes predominante entre militantes mais abastadas e brancas, transpôs barreiras graças à internet. Blogs e redes sociais garantem a universalização do debate, hoje presente em qualquer classe social.

Durante muito tempo, explica a ativista Lola Aronovich, o feminismo foi o movimento da elite branca, da mulher de classe média alta. Na primeira “onda” de debates, no fim do século 19, o grito foi pelo direito ao voto. Em meados dos anos 1970, veio a segunda onda: pela valorização do trabalho da mulher, pelo direito ao prazer e contra a violência sexual e a ditadura militar.

Mais recentemente, desde o início dos anos 90, o movimento entra em sua fase mais inclusiva, que traz ao debate as negras, as lésbicas e as transexuais. “Essa talvez seja a maior diferença que se possa considerar hoje”, explica Lola, professora na Universidade Federal do Ceará (UFC) e autora do blog Escreva Lola Escreva, um dos mais populares da internet, com média mensal de 200 mil acessos.

Engajada nos movimentos, a administradora belo-horizontina Adriana Torres compartilha do mesmo ponto de vista. “Não há dúvidas de que a disseminação de informações, sobretudo pelas redes sociais, facilitou a discussão de forma mais nivelada”, diz. Na avaliação dela, as discussões, antes restritas a grupos fechados, são, agora, difundidas com facilidade e servem de gatilho para milhares de campanhas virtuais.

Muitas bandeiras do ativismo resultaram em conquistas. Outras permanecem na pauta, reformuladas e discutidas com mais intensidade, como a descriminalização do aborto e o “direito” ao próprio corpo, à semelhança do homem – que pode, por exemplo, andar sem camisa na rua sem ser discriminado.

Engajamento

Há quem considere o movimento fora de contexto para o século 21, mas episódios recentes mostram, ao menos para os ativistas, que não é possível deixar a causa arrefecer. Gerou revolta no meio feminista declarações, em um programa de TV, feitas pelo ator Alexandre Frota, que contou ter deixado uma mulher inconsciente durante um uma relação sexual, supostamente mantida sem o consentimento dela.

Sem perfil ou padrão

As feministas rejeitam estereótipos. “Quando a gente não entende algo, combate. Existe uma imagem criada pela cultura machista de que somos frustradas sexualmente ou que não gostamos de homem. Conheço mulheres de todos os tipos, cores, tamanhos. É a diversidade humana. O que o feminismo busca é justamente que a mulher possa ter a opção de ser o que ela é sem precisar seguir as imposições da sociedade”, ressalta Adriana Torres.

Para a professora da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas Lúcia Lamounier Sena, doutora em ciências sociais, as conquistas foram positivas no sentido de encorajar novas adeptas, mas, sobretudo, de estimular políticas repressivas pelo Estado. “As autoridades passam a assumir a questão das mulheres, garantindo proteção, propondo leis e promovendo políticas públicas”, diz.

Para que a evolução prossiga, avalia a socióloga Lourdes Maria Bandeira, professora na Universidade de Brasília (UnB), é preciso investir em uma nova educação de base, que resulte na mudança de valores e das estruturas sociais. “Temos de reconstruir essa sociedade, em que permanece arraigado o modo de ser masculino”.



Fonte: Hoje em dia

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