É inútil ir procurá-lo na rede: o antifeminismo não é uma
prática difusa entre as jovens mulheres italianas. Como, ao contrário, ocorre
nos Estados Unidos, onde a hashtag #womenagainstfeminism enfurece, novo lema
das moças hostis ao emancipacionismo das mães, liquidado como agressivo, inútil
e irritante por causa do injustificado vitimismo.
A reportagem é de Simonetta Fiori, publicada no jornal La
Repubblica, 01-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Já somos iguais, dizem as rebeldes norte-americanas. Não
sentimos a necessidade de nos afirmar com prepotência. E que mal há se, no
trabalho, preferimos a cozinha e o cuidado dos filhos? Em suma, chega da
carranca feminista e dos seus slogans lamentosos. Entre nós, não, o protesto
não tem raiz. Impaciência, sim, muita. Contra um feminismo julgador, um pouco
intolerante ou fechado em uma extenuante linguagem esotérica.
Também rebelião contra a genitorialidade apressada das
próprias mães, em nome de uma nova mística da maternidade que contrapõe ao
artifício da técnica e da mamadeira a naturalidade do parto em casa e da
amamentação no seio. Mas sempre dentro de um horizonte que se define como
"feminista" ou "pós-feminista". Porque não é uma história
acabada, e muitas ainda querem escrevê-la. Com modalidades diferentes das
utilizadas pelas gerações anteriores, mas sem dilacerações violentas.
E isso acontece não só porque a Itália é um país, em alguns
aspectos, ainda feudal, onde pode acontecer que mulheres e portadores de
deficiência sejam catalogados pelo aspirante presidente da Liga de Futebol em
uma subespécie que evoca os untermenschen.
Ou onde se alegram com a redução à metade das mulheres
assassinadas, de 72 a 36 no primeiro semestre deste ano, como se se tratasse da
dívida pública e não de seis feminicídios por mês – e bastaria apenas um para
se preocupar.
Ou onde certamente a risada não é proibida e o
enrubescimento, obrigatório – como corre o risco de acontecer na vizinha
Turquia –, mas a discriminação ainda existe no trabalho e em casa, e há muito
tempo é pesada – ainda pesa – nas escolhas de vida fundamentais como
maternidade e não maternidade.
Não sendo um país para as mulheres, a Itália não pode sê-lo
para as antifeministas. Ela o foi na temporada dos nouveaux réactionnaires,
impulsionados pela urgência de destruir as bandeiras da esquerda, mesmo em nome
da devoção a Ruini. Hoje, é difícil encontrar entre as mais jovens um protesto
análogo ao norte-americano também por uma razão cultural, que diferencia a
nossa experiência daquela mais pragmática das mulheres norte-americanas.
"Se as feministas do outro lado do oceano insistem no
emancipacionismo e na paridade", diz Lea Melandri, protagonista do
movimento italiano, "na Itália, nos anos 1970, o feminismo teve um traço
de radicalidade e originalidade que é difícil liquidar. Nós colocamos no centro
da reflexão não a inserção das mulheres na esfera pública, mas a relação entre
o homem e a mulher, e, portanto, os temas do corpo, da sexualidade, da
maternidade. Não nos interessavam as carreiras, mas sim a vida".
A vida, o cuidado dos afetos. Primum vivere foi o slogan dos
últimos congressos feministas de Paestum, onde se encontraram milhares de
mulheres muito diferentes em termos de idade e de experiência. Mulheres que se
interrogam também sobre os novos desafios da ciência, que muda a noção de
maternidade.
O "cuidado" tornou-se a palavra-chave que une o
homogêneo arquipélago feminino, agora no centro de um livro de Letizia Paolozzi
(Prenditi cura). Uma "manutenção das relações" que impede que o mundo
se sustente apenas sobre as relações de poder, riqueza e exploração.
"A grandeza das mulheres", diz Luisa Muraro,
fundadora do pensamento da diferença, "está precisamente na sua intimidade
com o gênero humano, um segredo que se manifesta na vida cotidiana, na relação
com a casa, com as pequenas criaturas, com os alimentos e com o próprio homem.
A mulher e Deus têm um segredo do qual Adão, representado dormente, nunca
tomará conhecimento".
Por isso, não importa se essa grandeza é exercida na cátedra
ou na cozinha. "Entre nós, existiu um feminismo mais libertário",
intervém a historiadora Anna Bravo, "que não se escandaliza se as mulheres
se alegram nos fogões ou na criação de um filho, em vez de trabalhar fora de
casa. E não se indigna se uma menina gosta das Barbies ou dos vestidos de renda.
Ou se belas meninas se exibem em minissaia. É uma tendência menos visível em
relação ao severo feminismo institucional, que estigmatiza o uso das mulheres
na publicidade das cozinhas. Mas é uma sensibilidade generalizada entre as
'feministas mórbidas' de gerações diferentes. E isso também explica a falta de
fenômenos virais, como a recente hashtag norte-americana".
O diálogo entre mães e filhas, na Itália, parece
ininterrupto. E não poderia ser de outra forma. "A relação materna",
explica Muraro, "é um dos grandes temas do feminismo. E mesmo na
dissidência o vínculo geracional continua muito vivo".
As mais jovens redescobrem a autoconsciência, amplificada
pelas infinitas possibilidades da web, "a sua extraordinária fecundidade
emotiva e intelectual" (como diz o coletivo feminista Benazir, nascido na
Universidade de Verona). Justamente como nos anos 1970, embora em condições
radicalmente modificadas.
Portanto, não surpreendente que Carla Lonzi também tenha
voltado, teórica da autoconsciência, à qual Maria Luisa Boccia recém-dedicou o
livro La mia opera è la mia vita (Ediesse).
"Não é um retorno motivado por exigências de
reconstrução histórica", defende Boccia. "Ao contrário, tem o sinal
de um recomeço. Onde se confirma como atual a busca de um sentido próprio da
existência".
Mesmo a jovem socióloga Giorgia Serughetti confia a Lonzi o
sentido mais profundo da sua identidade feminista: "Conhecer-se como seres
humanos completos, não mais necessitados de aprovação por parte do homem".
Se na geração nascida nos anos 1980 a batalha dos direitos não é esquecida –
como poderia ser? – parece surgir mais aquela por uma nova ordem não mais
governada por um olhar masculino.
E, nessa costura entre passado e presente, até mesmo a
prática do selfie pode ser vista como uma nova forma de autoconsciência.
"Por que não lê-lo como a busca de um eu ainda a ser descoberto?",
afirma Melandri. Com mães assim, mesmo o mais flébil tuíte do antifeminismo
está destinado a se apagar. Ou a ser substituído pela nova hashtag "porque
não podemos não nos dizer feministas". Com todo o respeito a Benedetto
Croce e às adolescentes norte-americanas.
Fonte: Ihu
Nenhum comentário:
Postar um comentário