sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Pós-feminismo

É inútil ir procurá-lo na rede: o antifeminismo não é uma prática difusa entre as jovens mulheres italianas. Como, ao contrário, ocorre nos Estados Unidos, onde a hashtag #womenagainstfeminism enfurece, novo lema das moças hostis ao emancipacionismo das mães, liquidado como agressivo, inútil e irritante por causa do injustificado vitimismo.
A reportagem é de Simonetta Fiori, publicada no jornal La Repubblica, 01-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Já somos iguais, dizem as rebeldes norte-americanas. Não sentimos a necessidade de nos afirmar com prepotência. E que mal há se, no trabalho, preferimos a cozinha e o cuidado dos filhos? Em suma, chega da carranca feminista e dos seus slogans lamentosos. Entre nós, não, o protesto não tem raiz. Impaciência, sim, muita. Contra um feminismo julgador, um pouco intolerante ou fechado em uma extenuante linguagem esotérica.
Também rebelião contra a genitorialidade apressada das próprias mães, em nome de uma nova mística da maternidade que contrapõe ao artifício da técnica e da mamadeira a naturalidade do parto em casa e da amamentação no seio. Mas sempre dentro de um horizonte que se define como "feminista" ou "pós-feminista". Porque não é uma história acabada, e muitas ainda querem escrevê-la. Com modalidades diferentes das utilizadas pelas gerações anteriores, mas sem dilacerações violentas.
E isso acontece não só porque a Itália é um país, em alguns aspectos, ainda feudal, onde pode acontecer que mulheres e portadores de deficiência sejam catalogados pelo aspirante presidente da Liga de Futebol em uma subespécie que evoca os untermenschen.
Ou onde se alegram com a redução à metade das mulheres assassinadas, de 72 a 36 no primeiro semestre deste ano, como se se tratasse da dívida pública e não de seis feminicídios por mês – e bastaria apenas um para se preocupar.
Ou onde certamente a risada não é proibida e o enrubescimento, obrigatório – como corre o risco de acontecer na vizinha Turquia –, mas a discriminação ainda existe no trabalho e em casa, e há muito tempo é pesada – ainda pesa – nas escolhas de vida fundamentais como maternidade e não maternidade.
Não sendo um país para as mulheres, a Itália não pode sê-lo para as antifeministas. Ela o foi na temporada dos nouveaux réactionnaires, impulsionados pela urgência de destruir as bandeiras da esquerda, mesmo em nome da devoção a Ruini. Hoje, é difícil encontrar entre as mais jovens um protesto análogo ao norte-americano também por uma razão cultural, que diferencia a nossa experiência daquela mais pragmática das mulheres norte-americanas.
"Se as feministas do outro lado do oceano insistem no emancipacionismo e na paridade", diz Lea Melandri, protagonista do movimento italiano, "na Itália, nos anos 1970, o feminismo teve um traço de radicalidade e originalidade que é difícil liquidar. Nós colocamos no centro da reflexão não a inserção das mulheres na esfera pública, mas a relação entre o homem e a mulher, e, portanto, os temas do corpo, da sexualidade, da maternidade. Não nos interessavam as carreiras, mas sim a vida".
A vida, o cuidado dos afetos. Primum vivere foi o slogan dos últimos congressos feministas de Paestum, onde se encontraram milhares de mulheres muito diferentes em termos de idade e de experiência. Mulheres que se interrogam também sobre os novos desafios da ciência, que muda a noção de maternidade.
O "cuidado" tornou-se a palavra-chave que une o homogêneo arquipélago feminino, agora no centro de um livro de Letizia Paolozzi (Prenditi cura). Uma "manutenção das relações" que impede que o mundo se sustente apenas sobre as relações de poder, riqueza e exploração.
"A grandeza das mulheres", diz Luisa Muraro, fundadora do pensamento da diferença, "está precisamente na sua intimidade com o gênero humano, um segredo que se manifesta na vida cotidiana, na relação com a casa, com as pequenas criaturas, com os alimentos e com o próprio homem. A mulher e Deus têm um segredo do qual Adão, representado dormente, nunca tomará conhecimento".
Por isso, não importa se essa grandeza é exercida na cátedra ou na cozinha. "Entre nós, existiu um feminismo mais libertário", intervém a historiadora Anna Bravo, "que não se escandaliza se as mulheres se alegram nos fogões ou na criação de um filho, em vez de trabalhar fora de casa. E não se indigna se uma menina gosta das Barbies ou dos vestidos de renda. Ou se belas meninas se exibem em minissaia. É uma tendência menos visível em relação ao severo feminismo institucional, que estigmatiza o uso das mulheres na publicidade das cozinhas. Mas é uma sensibilidade generalizada entre as 'feministas mórbidas' de gerações diferentes. E isso também explica a falta de fenômenos virais, como a recente hashtag norte-americana".
O diálogo entre mães e filhas, na Itália, parece ininterrupto. E não poderia ser de outra forma. "A relação materna", explica Muraro, "é um dos grandes temas do feminismo. E mesmo na dissidência o vínculo geracional continua muito vivo".
As mais jovens redescobrem a autoconsciência, amplificada pelas infinitas possibilidades da web, "a sua extraordinária fecundidade emotiva e intelectual" (como diz o coletivo feminista Benazir, nascido na Universidade de Verona). Justamente como nos anos 1970, embora em condições radicalmente modificadas.
Portanto, não surpreendente que Carla Lonzi também tenha voltado, teórica da autoconsciência, à qual Maria Luisa Boccia recém-dedicou o livro La mia opera è la mia vita (Ediesse).
"Não é um retorno motivado por exigências de reconstrução histórica", defende Boccia. "Ao contrário, tem o sinal de um recomeço. Onde se confirma como atual a busca de um sentido próprio da existência".
Mesmo a jovem socióloga Giorgia Serughetti confia a Lonzi o sentido mais profundo da sua identidade feminista: "Conhecer-se como seres humanos completos, não mais necessitados de aprovação por parte do homem". Se na geração nascida nos anos 1980 a batalha dos direitos não é esquecida – como poderia ser? – parece surgir mais aquela por uma nova ordem não mais governada por um olhar masculino.
E, nessa costura entre passado e presente, até mesmo a prática do selfie pode ser vista como uma nova forma de autoconsciência. "Por que não lê-lo como a busca de um eu ainda a ser descoberto?", afirma Melandri. Com mães assim, mesmo o mais flébil tuíte do antifeminismo está destinado a se apagar. Ou a ser substituído pela nova hashtag "porque não podemos não nos dizer feministas". Com todo o respeito a Benedetto Croce e às adolescentes norte-americanas.


Fonte: Ihu

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